Thursday, 17 May 2012

Sobre ofensas a pessoas já falecidas

Este Partido é o Partido Frelimo, criado no III Congresso em 3 de Fevereiro de 1977. O Partido Frelimo é a organização de vanguarda da aliança operário-camponesa. Sob a direcção operária, o Partido Frelimo reúne, numa aliança voluntária e militante, na base do marxismo-leninismo, os operários, os camponeses, os soldados, os intelectuais revolucionários e os outros trabalhadores forjados e temperados na luta contra a exploração do homem pelo homem, pela vitória dos interesses populares. - páginas 31 e 32 da brochura n.o0415/INLD/83, da Colecção 4.o Congresso.

Maputo, Quinta-Feira, 17 de Maio de 2012:: Notícias

Imagino que a declaração acima transcrita fora outrora aprovada por aclamação e de pé, por todos quantos hoje a negam.
Mas tal contradição não constitui nem tão-pouco o tema da presente crónica, visto que existem factos históricos indelevelmente gravados na memória colectiva dos moçambicanos, de modo que nenhuma mentira, seja de que tamanho for, logrará apagar ou escamoteá-los. Pelos vistos, tudo indica que não tarda muito que amanhã nos venham impingir que Moçambique nunca foi REPÚBLICA POPULAR!
A verdade porém é que a sentença popular dita que contra factos não há argumentos.
Depois deste breve intróito, torna-se imprescindível esclarecer que o objecto da presente crónica é o facto de neste momento em que estão em preparação as comemorações alusivas ao dito quinquagésimo aniversário da chamada lendária FRELIMO (frente ou partido?), alguns cidadãos têm-se dirigido às rádios e televisões a fim de dar os respectivos testemunhos sobre a sua participação na Luta de Libertação Nacional. A iniciativa é de louvar, na medida em que permite que a camada jovem saiba quanto custaram a bandeira e a liberdade de que hoje estamos gozando.
Porém, costuma-se dizer que um disco, por mais bonito que seja, pode enfastiar facilmente até às pessoas mais incautas, quando for demasiadamente repetido.
Assim sendo, entendo que estão a ser demasiadamente repetitivos os mesmos episódios da Luta de Libertação Nacional nestes quase trinta sete anos de Moçambique independente. E talvez seja por isso que alguns combatentes, quiçá menos propensos à auto-promoção, não se predispõem a dar os seus testemunhos, como aliás lamentou o jornalista Ponguana à dada altura do programa Quinta à Noite de 10-5-2012!
Parece-me, pois, que foi devido à falta ou escassez de mais proezas do passado para contar que impeliu a um dos “painelistas” do Quinta à Noite de 10-5-2012 a acusar a determinadas pessoas já falecidas, repito: pessoas já falecidas e por conseguinte indefesas, de terem defendido o neocolonialismo para Moçambique.
De certo que olvidou, tal acusador, que cidadãos moçambicanos mais atentos e patriotas sempre vaticinaram que não só Moçambique, como também a África no seu todo, seriam a breve trecho tomados por potências mundiais que viriam com novas roupagens, tais como globalização, doadores, cooperação e/ou parcerias, etc., etc., o que hoje em dia se vê a olho nu.
Na verdade, sendo que em Moçambique hoje quem de direito dá primazia a voz dos doadores em detrimento da do grito de insatisfação dos próprios moçambicanos, quem é que ainda duvida que o dito neocolonialismo é uma facto inegável na nossa Pátria Amada, com os respectivos beneficiários, tanto de dentro como de fora, estão devidamente identificados? Com a devida vénia da Chefe Margarida Talapa…
Ora, por tratar-se de pessoas indefesas e cujas vidas foram precoce e barbaramente ceifadas a pretexto da remição de contradições políticas (?) do antanho, eu imploro, em nome da paz e da reconciliação nacional, que parem de promover mais injustificados libelos aos nossos compatriotas já falecidos, sob pena de desenvergonhada cobardia!
Ademais, sabeis, ‘intelectuais revolucionários”, que aos falecidos também assiste o direito de personalidade nos termos do n.o1 do artigo 71.o do Código Civil?
Afinal de contas, como é que podemos acreditar no quanto nos contam hoje acerca dos episódios do passado, quando a história recente passa de desmentido em desmentido? Quem é que explicou a razão pela qual o 5 de Novembro deixou de ser o dia da legalidade em Moçambique?
A terminar, apelo a todos os moçambicanos de boa vontade que peçamos a DEUS para que aquelas pombas brancas que se recusaram redondamente voar no dia 4-10-2011, no próximo Dia da Paz do ano em curso (4-10-2012) elas voem com a agilidade e alegria que lhes sãos peculiares.

JOÃO BAPTISTA ANDRÉ CASTANDE

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