Monday, 20 February 2012

Quando a liderança de um partido está desesperada

Os pronunciamentos públicos de Guebuza são...um sinal de desespero, demonstrativo de que ele perdeu o controlo da agenda do partido e dos seus camaradas.

Quando as forças de Muamar Kadafi utilizaram, pela primeira vez, durante o conflito com os rebeldes, um míssil Scud, o coronel da NATO, Roland Lavoie, descreveu o acto como um sinal de desespero do regime de Kadafi: “A nossa avaliação é que o regime de Kadafi não tem mais capacidade operacional efectiva. Pode, certamente, atirar pratos contra a parede para fazer um pouco de barulho, mas não acreditamos que possa gerar um efeito significativo operacional”.
Parece-me ser o que está a acontecer na Frelimo, a avaliar pelo comportamento da sua liderança, sobretudo pelos seus pronunciamentos. É que, no ano passado, o Chefe do Estado, simultaneamente presidente da Frelimo, Armando Guebuza, respondeu mais aos críticos do que trabalhou para os silenciar. Foi um ano rico em respostas aos críticos do que em resultados de soluções dos problemas que são levantados por esses críticos. Foi mais lamentador do que solucionador das preocupações dos moçambicanos.
Fazendo uma busca, facilmente conclui que, nos últimos dois anos, Guebuza investiu mais nas respostas pelas palavras do que pelas acções. Já recorreu, para apelidar os que o criticam, a expressões como “apóstolos da desgraça”, “tagarelas”, “intriguistas”, “incompetentes”, “marginais”, “impacientes”, “aqueles que querem ver tudo realizado hoje mesmo”; “que querem ver tudo a acontecer, em simultâneo, em todo o nosso Moçambique”, aqueles que “ignorando os processos que transcendem a nossa capacidade em recursos, quando as suas propostas não são realizadas, recorrem a artefactos atentatórios à unidade nacional, à harmonia e à convivência entre moçambicanos, e chegam mesmo a falar de vontade política do governo da Frelimo”, que “sofrem de conflitos internos”, entre outros.
Hoje, porque as críticas já não só vem de fora, como também de dentro do partido, o presidente da Frelimo, também se virou para dentro do partido, alertando os críticos internos do partido para “o risco de se marginalizarem, abandonarem o seu colectivo, os seus camaradas, as decisões dos órgãos, para reproduzirem as suas próprias ideias, pensando que estão a falar em nome” do partido.
Mais: Guebuza considera que “alguns querem aparecer como sendo melhores do que a própria Frelimo”. No entanto, não se refere a nenhum nome desses “alguns”, curiosamente, membros e seus subordinados no partido de que ele é o expoente máximo. Esta declaração, que aparece ao estilo de “fofocas”, deixa entender que na Frelimo a frontalidade de que se diz ter existido foi substituída pelos “dizem que…”, isto é, mais bisbilhotice do que frontalidade.
É preocupante para um partido da dimensão da Frelimo, quando o seu presidente faz declarações públicas reveladoras de que se suporta de bases de bisbilhotice, ao invés de usar os meios de que dispõe para chamar atenção aos seus subordinados para a necessidade de conter os seus ânimos nas suas aparições públicas.
Os pronunciamentos públicos de Guebuza são um sinal claro de que ele não dispõe de poder para impor ordem dentro do partido. São um sinal de desespero, demonstrativo de que ele perdeu o controlo da agenda do partido e dos seus camaradas.
Igualmente, Guebuza não só se apercebeu tardiamente de que o partido é tão grande que não cabe apenas nas suas mãos como também se apercebeu, tardiamente, de que alguns dos seus camaradas são tão poderosos do que ele. Também se apercebeu de que o seu esforço e intenção monárquica, não só foi infrutífera, como também dividiu o partido em alas.
As suas declarações públicas de que “há quem queira sugerir que existam duas ou mais Frelimos, é compreensível. Estão a tentar compreender um evento que está a percorrer, e que vai completar 50 anos, a partir da sua experiência pessoal, limitada e sem necessariamente olhar para este movimento, que só é movimento quando tem os seus membros unidos e a trabalharem para o mesmo propósito” são confirmativas de que existem, de facto, divisão no partido.

Lázaro Mabunda, O País

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