Sunday, 13 November 2011

Prédio Pott: ruínas que envergonham


A SITUAÇÃO do Prédio Pott, em ruínas desde que foi destruído por um incêndio há cerca de 21 anos, é preocupante, por razões de saúde e segurança públicas e pelo facto de a imagem que apresenta ferir a estética desta parte da cidade que é histórica e turística, pois localiza-se no perímetro da zona onde a urbe começou a ser construída.

Maputo, Sábado, 12 de Novembro de 2011:: Notícias


O edifício foi transformado em urinol e covil de marginais e o seu abandono faz-nos lembrar um lugar assombrado, onde vivem fantasmas e outros seres do além. Cidadãos nacionais e turistas estrangeiros que por ali transitam não param de questionar o ambiente de imundície em pleno “coração da cidade”. Hoje, no interior daquelas ruínas habitam marginais, drogados, dementes, jovens prostitutas, foragidos da lei e outros incapacitados que ali encontram acolhimento. No local, há até casais e mães jovens que transportam consigo os respectivos bebés (algumas em fase de aleitamento). É também refúgio de cães vadios, baratas e gatos.
Diga-se, aquilo é um mundo, um outro “território” dentro do território da cidade do Maputo, que funciona aparentemente com “leis” próprias.
A ruína belisca a estética desta parte da cidade, situada precisamente numa das avenidas mais importantes da baixa, e também sob o ponto de vista histórico e político: a “Samora Machel”, nome do primeiro Presidente de Moçambique, cuja estátua se ergue perene a escassos trezentos metros dali.
O ambiente nauseabundo e de intranquilidade contrasta com o cenário que se pretende oferecer à zona baixa, onde recentemente foram recuperados os também históricos cafés Scala (embora já com dimensões diminutas) e Continental, que são de certa forma cartões-de-visita desta parte da urbe.
Para situar o leitor sobre o edifício em referência - Prédio Pott - (esquina entre as avenidas 25 de Setembro e Samora Machel), basta dizer que o mesmo foi destruído por um violento incêndio na tarde de 11 de Dezembro de 1990, tido como o maior de que se tinha memória até então, na zona da baixa da cidade do Maputo desde a independência nacional. As chamas destruíram completamente todo o bloco de residências e estabelecimentos comerciais que funcionavam ali no Prédio Pott. Na altura do incêndio, o “Pott” tinha cerca de 100 anos de existência.
Com dois pisos, o edifício constituía um património histórico e cultural da cidade. O Prédio Pott foi construído em 1905 por Gerard Pott, tendo como empreiteiro T.D. Turnbull. Gerard Pott, um emigrante holandês, casou-se com uma negra, numa relação que gerou Karel Pott, um advogado que foi, com os irmãos Albasine e Estácio Dias, um dos fundadores do jornal “O Brado Africano”, em 1918. Karel tinha no prédio Pott o seu escritório. O edifício foi projectado por Ing Anderson, tendo na ocasião as obras sido avaliadas em 21 mil libras. Todos os construtores tinham vindo da vizinha África do Sul.
Aparentemente, após o incêndio de 1990, nunca mais houve alguma acção visível no sentido de restaurá-lo. Falou-se “ao alto” de intenções de reabilitação, mas tudo indica que não passou daí. Pelo menos, por enquanto, não há indícios disso. Há também indicações de que a recuperação do “Pott” estaria refém de disputas envolvendo entidades interessadas na sua ocupação.
Mas para nós, independentemente das querelas, dos interesses que houver, não se justifica que no meio de uma cidade como esta se continue a assistir à triste imagem que este edifício histórico e cultural apresenta. Sejam elas entidades públicas ou privadas, urge recuperar o “Pott” e pôr termo àquela “oficina” de criminalidade, um autêntico campo fértil para crimes, alguns dos quais praticados à luz do dia.

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