Thursday, 27 October 2011

Kadhafi teve fim macabro

INCRIVEL. Nem Nostradamus não o haveria de predizer. É que Nostradamus supostamente previu a sua própria morte. Ninguém previu jamais que aconteceria o que aconteceu com o ex-líder líbio. Mas diz o ditado que a realidade constrói grandes palácios onde termina a ficção. E será por isso que Muammar Khadafi morreu de morte macabra porque quis?

Maputo, Quinta-Feira, 27 de Outubro de 2011:: Notícias


Uns dizem que não interessa como ele morreu ou quem o matou, o importante neste momento é que ele está morto e ponto final. Daí que de um lado chora-se copiosamente de felicidade e alegria, e doutro por tristeza e revolta. É uma morte memorável, dum lado na perspectiva de que se perdeu um grande líder de África, doutro, no sentido de que mesmo assim mostrou aparente arrogância, relutância e sobretudo uma ambição desmedida pelo poder.
A figura de Khadafi marcou uma época e transcendeu sempre como revigoramento político em África, mas quer queiramos, quer não, como africanos que sentimos o preço das ditaduras, assim terminam os que oprimem os seus povos, através dos seus domínios ditatoriais e sanguinários.
É verdade que a morte de um ser humano deixa sempre saudades e confronta-nos cruelmente com uma sensação infinita de perda, mas é, do meu ponto de vista, que se Khadafi quisesse deveria ter morrido com dignidade, se dar conselhos a ele não fosse como deitar água ao mar.
Mas o mais importante desta morte violenta de Khadafi, é que se tirem lições importantes que possam contribuir para a abertura de boas perspectivas para a consolidação da verdadeira democracia em África.
Custa crer que em África ainda tenhamos presidentes vitalícios, que governam seus países como se fossem suas próprias propriedades. É por isso que esta morte deve constituir uma grande lição para os que ainda ficaram, pois que precisamos de dirigentes com verdadeiras e fortes convicções democráticas. África não precisa de intervenções estrangeiras para resolver os seus problemas. África não precisa da ONU, que depois de “legitimar” a intervenção da NATO na Líbia, paradoxalmente, exige que seja feito um inquérito sobre a morte de Khadafi.
Essa morte marca igualmente o triunfo da revolta encabeçada pelo heterogéneo Conselho Nacional de Transição, que entretanto, espera-se que seja capaz de reconstruir a Líbia, pautando por uma governação com moderação bem como operar mudanças reais no país que se traduzam, efectivamente, em oportunidades iguais. Um dos grandes desafios do CTN é garantir as condições de participação democrática dos cidadãos.
Se é que aquele povo não amava Khadafi, espero também que com as novas autoridades governamentais, não sejam súbditos dos americanos, britânicos, franceses e por daí em diante. Oxalá que as reformas que se pretendem introduzir não sejam só para mudar tudo para tudo ficar na mesma.
Mais haveria para opinar. Tal como, por exemplo, que não se acredite em absoluto que a Líbia, depois do que se passou, possa viver em paz a curto prazo, vendendo o seu petróleo em benefício de todos os líbios, incluindo aqueles que sempre se acharam esquecidos durante o regime de Muammar Kadhafi. Até porque alguém disse que o fim da era de Khadafi não necessariamente representa um passo para a democracia, a paz e desenvolvimento do país. A morte macaca do ex-líder líbio é uma expressão de barbaridade e de hipocrisia.

Mouzinho de Albuquerque

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