Sunday, 7 August 2011

A Opinião de Noé Nhantumbo

É PRECISO DESMENTIR ALGUNS POSICIONAMENTOS QUE SE CONFIGURAM EM MENTIRAS


Quem se podia expressar livremente em 1985 em Moçambique?
Só quem não estava em Moçambique pode aceitar algumas “afirmações” “oportunas” de hoje…

Não será isso que Tomás Vieira Mário nos quer dizer em 2011?
E o que aparentemente nos quer dizer certo assessor de um meio de comunicação social público sobre os órgãos independentes não será o mesmo que só é digno desse nome quem jamais critica ou lança dúvidas sobre o procedimento dos governantes?
Na óptica de algumas pessoas os moçambicanos não têm nem opinião nem são dotados de pensamento independente. A democracia nasceu no seio da Frelimo e tudo o que outros moçambicanos não filiados ou membros deste partido digam, façam ou pensem não tem valor nem é manifestação de espírito democrático.
Negar que a Frelimo ao longo dos anos atravessou diversas fases e teve que adaptar-se a elas de modo a manter-se viva no panorama político nacional seria ignorar uma verdade. Agora dizer que as mudanças foram inteiramente resultado de esforço endógeno desta organização política já seria faltar a verdade. Seria fastidioso e pouco útil falar da génese da Frelimo ou da Renamo. Dos contornos que a evolução natural, política e militar a história ainda tem muito a dizer e isso depende daquilo que seus protagonistas estiverem interessados em revelar aos seus concidadãos.
A marca registada dos ex-beligerantes tem sido o silêncio quanto a tudo que seja sensível ou susceptível de fornecer elementos para que analistas produzam reflexões sobre eles. Há como que uma tentativa de fechar as portas a qualquer investigação que leve a que os moçambicanos conheçam dados relevantes da história dos processos que levaram o país à independência e posteriormente ao pluralismo político.
Acreditamos que seria pretender demasiado que o processo histórico moçambicano tivesse sido linear como procura fazer crer um habitual escriba moçambicano baseado num semanário público da capital do país. Segundo ele então tudo o que hoje acontece sob a linha de orientação do preceituado pelos “Chigago Boys” está contra tudo o que os revolucionários de ontem apregoavam como caminho a seguir. Tanto sacrifício e mortandade para se fazer exactamente o mesmo que se combatia ontem?
As coisas não são bem assim e jamais poderiam ser assim. Houve erros de parte a parte e não interessa aos moçambicanos “levantar ou acordar fantasmas”. A única coisa que é de interesse para os moçambicanos é que seus políticos, organizações da sociedade civil, confissões religiosas, associações empresariais coloquem todos os seus esforços no sentido da promoção de uma agenda nacional de reconciliação genuína. Moçambique tem espaço para todos mas não é preciso enveredar pela mentira para impedir que os moçambicanos saibam o que aconteceu no passado ou o que foi feito por este ou aquele. Algumas vezes parece que há gente entre nós que oferece consultorias não solicitadas e que avança por caminhos supostamente protectores de um status e do “establishment”. Os verdadeiros protagonistas de alguns factos do nosso passado recente têm optado inteligentemente por calar-se do que entra em debates contraproducentes.
É melhor calar-se e alegar desconhecimento do que entrar pelos caminhos escusos da mentira que na primeira curva é descoberta. A grandeza das personalidades que temos na comunicação social e na política em Moçambique é construída pela maturidade e verticalidade. A mentira transformada em política de arremesso sempre que alguém pense que se está a colher benefícios e garantia para um futuro próximo podem ser um boomerang perigoso.
Num momento em que se comemora mais um aniversário da lei de imprensa exige-se muito mais dos que se dedicam a informar aos moçambicanos.
É preciso entender que qualquer intervenção que não seja feita no quadro do espírito e letra de servir os cidadãos a realizarem o seu direito de serem informados com objectividade e isenção está contra a “luta contra a pobreza”.
Esconder factos, mentir por conveniências políticas, aceitar servir de veículo para a propagação de inverdades deve ser combatido com veemência pois conduz os cidadãos a tomarem por verdade aquilo que seus difusores sabem bem não ser.
É difícil ser jornalista e ninguém jamais disse que era ou que seria fácil.
Dos que se ocupam de altos cargos de responsabilidade na comunicação social, para bem do país e da nação exige-se uma maior equidistância e coragem. Sabemos que o pão está caro e que não se pode deixar os dependentes penarem a fome. Mas também se sabe que estes titulares de cargos de responsabilidade no seio da comunicação pública e privada tem já garantido o básico para viverem essa alegação de que servem objectivos opor vezes inconfessáveis “não pega ou cola”.
Ninguém jamais disse que todos os moçambicanos tinham de concordar com isto ou aquilo. “Afinal cada cabeça cada sentença”. Mas exagerar e deixar oportunidade de dizer a verdade só porque na sua opinião seria ir contra os interesses do partido de que são membros não significa ajudar tal partido. Obediência partidária e disciplina é uma coisa bem diferente de “besuntar factos e vender gato por lebre”.
O combate pelo progresso de Moçambique requer uma intervenção mais objectiva de todos os integrantes desta nobre profissão porque só assim é que as insuficiências de outros poderes democráticos podem ser fiscalizadas, corrigidas e melhorias obtidas em todos os sectores da vida nacional.
Um relatório bonito que se venda ao chefe pode parecer o meio mais eficaz de garantir um posto de trabalho mas ao mesmo tempo é uma fonte aberta para o desvio de recursos do estado e de atraso da agenda nacional. Quando se diz que temos de correr porque o passo lento já não serve para confrontarem-se os diversos constrangimentos que nos cercam na realização das tarefas existentes significa que é proibido mentir se não for realmente em defesa do estado, do POVO…
É preciso que as pessoas aprendam sobre quais são realmente os verdadeiros imperativos nacionais e não enganar o povo com discursos bonitos que de bom só tem a construção frásica com que são construídos…
Os moçambicanos, os sacrifícios de todos aqueles que entregaram na luta pela independência de Moçambique querem qualidade e verdade.
Cale-se quem quer mentir e poupem recursos públicos divulgando o que vocês mesmos sabem que não é verdade.
De académicos e intelectuais espera-se trabalho digno e credível…

Noé Nhantumbo, citado por Manuel de Araujo

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