Wednesday, 4 May 2011

A cesta do desespero

Questionamentos continuam à volta das medidas para atenuar o custo de vida

- “o governo está num nível de desespero e incompetência tal que qualquer medida serve, mesmo sabendo que não vai funcionar” - Carlos Nuno Castel Branco

(Maputo) Ainda na procissão das medidas recentemente anunciadas pelo governo para a contenção do custo de vida no país, continuam mais dúvidas do que entendimentos no seio da opinião pública nacional.
Depois da revisão do escalão da categoria salarial dos trabalhadores que vão beneficiar da cesta básica, dos anteriores 2000,00 para 2500,00 Meticais e das tentativas de esclarecimentos que têm vindo a ser dados pelo governo, muitos são aqueles que consideram que o executivo ainda não está preparado para apresentar medidas eficazes e objectivas em relação a componente de criação de mecanismos para atenuar o impacto da pobreza extrema que afecta directamente cerca de metade dos 21 milhões de moçambicanos.
Instado a analisar as medidas ora anunciadas, o economista Carlos Nuno Castel Branco considera que as medidas ora anunciadas não são aplicáveis e tem pouca probabilidade de eficácia.
“Em princípio é difícil analisar as tais medidas, porque, objectivamente, ainda não se sabe quais são as medidas. Em função das críticas que vão surgindo, surgem novas versões. Contudo, analisando o pouco que se sabe, considero que as medidas não são aplicáveis e tem pouca probabilidade de eficácia”, disse o economista.
Com um discurso muito denso, Nuno Branco disse que o governo está num “nível de desespero e incompetência tal que qualquer medida serve, mesmo sabendo que não vai funcionar”.
Outras hipóteses que podem estar na origem da insistência nas medidas ora anunciadas tem a ver com as pressões das instituições financeiras internacionais.
“O governo quer responder as pressões das organizações financeiras internacionais que estão a tentar eliminar os subsídios gerais para determinados bens e serviços” e o governo pretende direccioná-los a sectores susceptíveis de se tornar focos de tensão.
Aquele economista considera que o governo deveria direccionar o esforço e recursos que pretende aplicar para implementar este esquema “que tem muito pouco para dar certo” e tentar organizar uma política de produção alimentar decente, minimamente organizado e articulado, que pudesse ajudar a resolver um dos grandes problemas, que é a “produção e distribuição de comida”.
Na última semana, o ministro da Indústria e Comércio, Armando Inroga, anunciou que as autoridades moçambicanas iriam muito brevemente iniciar o processo de recenseamento dos beneficiários informais, numa altura em que falta pouco mais de 1 mês para que a distribuição inicie. O número de beneficiários, segundo o governo, continua estimada em cerca de 1.8 milhão pessoas.

Mediafax, 03/05/11

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