Usurpadas pela Frelimo com o “patrocínio” do tribunal
Sete novas sedes estão praticamente prontas
Maputo (Canalmoz) – O Conselho Municipal da Beira (CMB) ficou privado das suas 14 sedes de bairro quando o Tribunal Provincial Judicial de Sofala (TPJS), em aliança com o partido Frelimo, em Novembro de 2010, num golpe de mestre e fraudulento, executou os edifícios municipais e entregou-os ao partido no poder, a Frelimo. O TPJS e o partido Frelimo atiraram ao relento, à chuva e ao sol serviços essenciais do CMB. Ao invés de ficar a lamentar banhado de lágrimas, o CMB arregaçou as mangas, mobilizou apoios e começou a construir sete sedes, contando com o trabalho de voluntários, homens e mulheres, de maneira alternada, entre a machamba, vendas em mercados e obras.
As obras estão na sua fase final e os serviços que funcionavam debaixo de acácias e de varandas de pessoas de boa vontade voltarão ao estado normal. O martírio dos funcionários do CMB e a vergonha que o partido dominante está a sujeitar o Estado, está a chegar ao fim.
Como no monopartidarismo...
No tempo em que a Frelimo era considerado partido da vanguarda da aliança operário-camponesa, tudo era da Frelimo, até o próprio povo. Tudo que fosse do Estado era da Frelimo – estradas, pontes, rios, montanhas, edifícios públicos, os tribunais, a polícia, etc. Esta linha de pensamento monolítico, que persiste em algumas pessoas, embora trajando togas dos pés à cabeça, levou-lhes a concluir que as sedes de bairro, na cidade da Beira, edifícios onde devem funcionar os serviços básicos administrativos do Conselho Municipal da Beira, reclamadas pelo partido Frelimo, fossem do seu chamado “glorioso partido de vanguarda”.
Frelimo piscando...
Pela primeira vez no País, os serviços públicos funcionam ao relento e isso acontece em plena segunda maior cidade do País. As declarações para efeitos diversos, procuradas pelo povo beirense, foram passadas ao relento devido à ganância de manter o Estado sob o seu controlo. Para o caso da Beira, é luta, é para demonstrar que os gestores da cidade são uns incompetentes, provocando assim a revolta popular que poderia desaguar, nas próximas eleições, na escolha de outra força e de outros gestores. A Frelimo pisca para a direita e vira para esquerda ou vice-versa, na tentativa de conquistar o coração dos beirenses, zangados pelo estado de abandono em que a cidade esteve votada desde a Independência Nacional, em 1975.
Frelimo sobrepõe-se ao Estado
A oposição popular à usurpação do bem comum foi desmantelada pela intervenção policial. Analisando a gravidade da situação, os dirigentes municipais concluírem que para se evitar um derramamento de sangue, deveriam deixar que o partido Frelimo ficasse com os edifícios em disputa. Os militantes da Frelimo envoltos de togas, dificilmente entenderam as provas materiais apresentadas em sede de julgamento, pois o desejo de beneficiarem o seu partido sobrepunha-se à lei e à sua consciência profissional. Os interesses particulares voltaram, desta vez, a falar mais alto e sobrepuseram-se aos da maioria do povo. Ignoraram as provas e mandaram passear as queixas do réu, prontamente, remetidas ao Tribunal Administrativo e ao Conselho Superior da Magistratura Judicial.
As sedes usurpadas andam às moscas
As 14 sedes usurpadas pela Frelimo estão, hoje, às moscas. Ninguém trabalha nelas. Ninguém vai lá ter. Logo a seguir à usurpação, somente agentes da Polícia destacados para efeitos de protecção, esfomeados e quase abandonados, eram vistos naqueles edifícios. Falando, sob anonimato, por razões óbvias, agentes da Polícia destacados para guarnecer as sedes encaixadas pela Frelimo, queixavam-se de terem sido abandonados à sua sorte e repudiavam o facto de terem sido postos ao serviço de um partido político, contrariando a doutrina corrente segundo a qual a polícia está ao serviço da sociedade e não se sujeita, de forma alguma, aos interesses particulares de um partido, grupos económicos, pessoais ou de qualquer outra índole.
A quem pertencem as sedes noutros municípios?
O problema da Beira tornou-se conhecido porque a cidade está sob a gestão de outra força que não a Frelimo. Noutras cidades não há barulho porque tudo está com os “camaradas”. Quando a oposição, se ainda tiver força, chamar a si a administração de outros municípios, a luta para tirar as sedes de bairro das garras da Frelimo, vai ser uma batalha campal. Não faltarão ameaças, a polícia será movimentada para amedrontar as populações, dizia um respeitado académico. A fonte acrescentou que apenas o povo decidido poderá acantonar a Frelimo, porque, na sua visão, os partidos não estão a trabalhar o suficiente para desalojar a Frelimo. Perdem tempo a digladiarem-se ao invés de trabalharem a sério para conquistarem o poder.
“A humilhação vai acabar”- dizem
Os munícipes dos Pioneiros, Manga-Mascarenhas, Munhava-Maraza, Inhamízua, Vila Massane, Macurungo e Mangaloforte poderão voltar a ser assistidos em novos edifícios construídos de raiz com o seu esforço e de amigos também. “A humilhação vai terminar”, comentam, radiantes, munícipes do Chiveve quando vêem as novas sedes que estão quase concluídas.
(Edwin Hounnou, Canalmoz)
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