Thursday, 10 March 2011

E agora UA?


É ASSIM que se pode perguntar neste momento. É isso, dizem que a história é irreversível, aceite-se ou não. Por mais que um dirigente honesto um dia vire ditador, espera “colher” os ventos da mudança. Por mais que uma organização que agrupa todos os países de um continente, como o nosso, tenha existência de muitos anos e por conseguinte a “ludibriar” politicamente os seus habitantes, quanto à concretização dos objectivos essenciais da sua criação, espera “colher” os ventos de mudança, pois que quando a desilusão é muita, os povos costumam encontrar uma saída. Quando menos se espera, há ventos de mudança, capazes de varrer as incertezas.

Maputo, Quinta-Feira, 10 de Março de 2011:: Notícias

É assim que, por aparentes outras razões nunca se pensou que em alguns países de África, considerados estáveis em termos políticos e noutros aspectos da vida social, como o Egipto, Tunísia e Líbia, estivessem um dia como hoje, no centro das atenções mundiais devido a eclosão de manifestações violentas de protestos contra os regimes ditatoriais que governam aquelas nações.
Com a eclosão da revolta na Líbia, as coisas tornam-se mais complicadas no contexto político do continente, dado que este país do norte de África é dirigido por, enquanto, Muammar Kadhaffi, arquitecto do projecto da criação da União Africana, que ditou a extinção da então Organização da Unidade Africana (OUA).
As coisas tornam-se mais complicadas porque, em meu modesto entender, não parece que este projecto terá mais credibilidade que tinha antes de as “falcatruas” do coronel Kadhaffi terem sido postas a “nu” pelo povo que ele governa há mais de 40 anos. Não parece igualmente que haverá um outro “Kadhaffi” que terá a capacidade de levar avante o projecto depois da eventual saída do dirigente líbio. Não digo que a UA já é um projecto falhado, por falta de um dinamizador, mas o que os nossos dirigentes devem perceber é que a África precisa de uma organização que sirva os verdadeiros interesses dos seus povos e não um agrupamento de diversão política.
É que, Kadhaffi já demonstrou que não é um dirigente que ama o seu próprio povo, por isso não pode merecer a confiança dos povos do continente. Ele tomou uma atitude sabendo que lança o seu país no caos absoluto do ponto de vista tanto político como económico. Até porque alguns dos grandes líderes africanos já condenaram a matança de civis naquele país, dizendo que é inaceitável o que se assiste todos os dias na Líbia. Como é que a Líbia dirigida por Kadhaffi se pode considerar como arauto da defesa dos direitos humanos quando ele tem, no seu seio, tal abominável pena: matar pessoas em nome da ditadura.
O problema é que mesmo que se tenha uma organização que reúne todos os países de África, como a UA, no campo político as coisas não vão melhor. O culto de uma verdadeira soberania continua um mito, com os extremos da escala socioeconómica e ética cada vez mais distantes.
Os pobres são cada vez mais pobres e os opulentos cada vez mais nutridos, chorando lágrimas de crocodilo pelos mais carenciados. O futuro não parece ser problema para a maior parte dos dirigentes do nosso continente, que organizam eleições só porque querem o voto almejando benesses pessoais e dos seus familiares sem olhar o futuro e o bem colectivo.

Mouzinho de Albuquerque

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