A notícia mais sensacional da semana passada - e que maiores consequências vai ter no mundo árabo-muçulmano, no Mediterrâneo e no mundo inteiro - foi a queda pacífica do ditador Hosni Mubarak, após 18 dias de manifestações, sempre em crescendo, do Povo Egípcio. E, finalmente, após um discurso patético, de Mubarak, feito na véspera, dirigido aos seus compatriotas, foi obrigado, por pressão popular, a renunciar ao poder absoluto que detinha há trinta anos. O Povo foi, uma vez mais, "quem mais ordena". E a euforia da liberdade gritada pelos egípcios, ecoou por todo o mundo muçulmano.
O Presidente Obama falou poucos minutos depois da destituição do ditador. Disse: "A renúncia de Mubarak não foi o fim da transição para a democracia. Foi um princípio, que conduzirá a eleições livres." Aviso aos militares e aos radicais islâmicos. E ainda: "O Povo falou e as suas vozes foram ouvidas. Por isso, o Egipto, nunca mais será o mesmo."
O Presidente americano, desde as manifestações iniciais, percebeu o significado e a importância transcendente do fenómeno, não hesitou em estar ao lado do Povo egípcio - ao contrário dos dirigentes europeus que tardaram em pronunciar-se - apesar das pressões, em contrário, do lobby judaico e da maioria republicana do Congresso. Recuperou, assim, de certo modo, o seu lúcido discurso do Cairo, um dos primeiros a seguir à sua histórica vitória eleitoral de há dois anos. Porque percebeu - e aí está a chave da questão e a sua importância - que o Povo Egípcio não se manifestou contra Israel nem, muito menos, contra o Ocidente mas, pelo contrário, contra a opressão de um ditador corrupto e obsoleto e em favor dos valores universais da liberdade, da democracia pluralista e da justiça social. Que melhor poderia querer o Ocidente?
Não sei que cronista escreveu que a noite de 11 de Fevereiro de 2011 foi o contraponto muçulmano do 11 de Setembro de 2001. Outra data que emocionou o mundo, mas no pior sentido. Quando há dez anos, com os ataques às Torres Gémeas em Nova Iorque e ao Pentágono, em Washington, o mundo parou, dolorosamente, de pasmo e de horror, perante o terrorismo islâmico da Al-Qaeda.
Como se sabe, hoje, e ninguém tem dúvidas, a América de Bush reagiu mal a esse fenómeno, porque não ouviu suficientemente os seus Aliados e só soube utilizar a violência mais cega, contra a violência dos terroristas - e não só - dando origem a duas guerras cruéis e inúteis, que sacrificaram milhares de inocentes, de ambos os campos e que só contribuíram para revoltar os Povos do Islão, fazendo-os crer que o Ocidente - ou parte dele - era o seu inimigo irredutível. Quando não era. Foi o terrorismo que, objectivamente, desacreditou o Islão - e que importava isolar - pela insólita violência e desumanidade com que agiu, não tendo nada a ver com a religião islâmica, como hoje é consensual.
O Povo egípcio, na Praça Tahrir, gritou pela liberdade, por eleições livres, mas também contra a violência que, mesmo assim, fez cerca de 300 mortes inocentes. Nesse sentido, foi o mais possível anti-terrorista. E o Presidente Obama foi seguramente o primeiro dirigente político mundial a perceber isso e a manifestar-se, dando a mão ao Povo egípcio, como era preciso fazer. Saberemos, mais tarde, se o fez, igualmente, em relação às forças militares egípcias. É bem possível. De qualquer modo, o exército egípcio não se manifestou. Foi, aparentemente, neutral e agiu com extrema sabedoria. Desde logo, impediu, controlando a polícia e evitando a violência, para que não houvesse um morticínio, senão mesmo um genocídio.
Assim se tornou o centro e agora o detentor do poder. Mas, atenção, para proceder, até Setembro próximo, a "eleições livres e justas", como acentuou Obama, com a autoridade que resulta de a América auxiliar financeiramente o Egipto e, em particular, as suas Forças Armadas.
Será apaixonante seguir a evolução do Egipto que está, ao que parece, a mudar o mundo e não só os muçulmanos. Porque pôs de novo no centro das preocupações a luta contra os tiranos e pelas Liberdades e os Direitos Humanos. Numa palavra, pela dignidade dos cidadãos. Haja em vista as medidas de prudência já tomadas, pela China, para evitar o contágio...
Mário Soares, no Diário de Notícias. Leia aqui.
O Presidente Obama falou poucos minutos depois da destituição do ditador. Disse: "A renúncia de Mubarak não foi o fim da transição para a democracia. Foi um princípio, que conduzirá a eleições livres." Aviso aos militares e aos radicais islâmicos. E ainda: "O Povo falou e as suas vozes foram ouvidas. Por isso, o Egipto, nunca mais será o mesmo."
O Presidente americano, desde as manifestações iniciais, percebeu o significado e a importância transcendente do fenómeno, não hesitou em estar ao lado do Povo egípcio - ao contrário dos dirigentes europeus que tardaram em pronunciar-se - apesar das pressões, em contrário, do lobby judaico e da maioria republicana do Congresso. Recuperou, assim, de certo modo, o seu lúcido discurso do Cairo, um dos primeiros a seguir à sua histórica vitória eleitoral de há dois anos. Porque percebeu - e aí está a chave da questão e a sua importância - que o Povo Egípcio não se manifestou contra Israel nem, muito menos, contra o Ocidente mas, pelo contrário, contra a opressão de um ditador corrupto e obsoleto e em favor dos valores universais da liberdade, da democracia pluralista e da justiça social. Que melhor poderia querer o Ocidente?
Não sei que cronista escreveu que a noite de 11 de Fevereiro de 2011 foi o contraponto muçulmano do 11 de Setembro de 2001. Outra data que emocionou o mundo, mas no pior sentido. Quando há dez anos, com os ataques às Torres Gémeas em Nova Iorque e ao Pentágono, em Washington, o mundo parou, dolorosamente, de pasmo e de horror, perante o terrorismo islâmico da Al-Qaeda.
Como se sabe, hoje, e ninguém tem dúvidas, a América de Bush reagiu mal a esse fenómeno, porque não ouviu suficientemente os seus Aliados e só soube utilizar a violência mais cega, contra a violência dos terroristas - e não só - dando origem a duas guerras cruéis e inúteis, que sacrificaram milhares de inocentes, de ambos os campos e que só contribuíram para revoltar os Povos do Islão, fazendo-os crer que o Ocidente - ou parte dele - era o seu inimigo irredutível. Quando não era. Foi o terrorismo que, objectivamente, desacreditou o Islão - e que importava isolar - pela insólita violência e desumanidade com que agiu, não tendo nada a ver com a religião islâmica, como hoje é consensual.
O Povo egípcio, na Praça Tahrir, gritou pela liberdade, por eleições livres, mas também contra a violência que, mesmo assim, fez cerca de 300 mortes inocentes. Nesse sentido, foi o mais possível anti-terrorista. E o Presidente Obama foi seguramente o primeiro dirigente político mundial a perceber isso e a manifestar-se, dando a mão ao Povo egípcio, como era preciso fazer. Saberemos, mais tarde, se o fez, igualmente, em relação às forças militares egípcias. É bem possível. De qualquer modo, o exército egípcio não se manifestou. Foi, aparentemente, neutral e agiu com extrema sabedoria. Desde logo, impediu, controlando a polícia e evitando a violência, para que não houvesse um morticínio, senão mesmo um genocídio.
Assim se tornou o centro e agora o detentor do poder. Mas, atenção, para proceder, até Setembro próximo, a "eleições livres e justas", como acentuou Obama, com a autoridade que resulta de a América auxiliar financeiramente o Egipto e, em particular, as suas Forças Armadas.
Será apaixonante seguir a evolução do Egipto que está, ao que parece, a mudar o mundo e não só os muçulmanos. Porque pôs de novo no centro das preocupações a luta contra os tiranos e pelas Liberdades e os Direitos Humanos. Numa palavra, pela dignidade dos cidadãos. Haja em vista as medidas de prudência já tomadas, pela China, para evitar o contágio...
Mário Soares, no Diário de Notícias. Leia aqui.
Ora, ora... Caro Mario Soares,
ReplyDeleteMeias Verdades nao sao saudaveis...
"Foi o terrorismo que, objectivamente, desacreditou o Islão - e que importava isolar - pela insólita violência e desumanidade com que agiu, não tendo nada a ver com a religião islâmica, como hoje é consensual."
Nao foi o terrorismo que desacreditou o Islao, voces fizeram o terrorismo desacreditar o Islao, e Portugar foi um dos paises que "impulcionou" as "duas guerras inuteis" dos EUA,
"'E consensual" hoje, porque faltam alternativas a Portugal, pois caso contrario, seria tudo menos "consensual",
Em relacao ao "terrorismo islamico", ele sempre foi "retaliacao" aos EUA e seus aliados pelo conflito israelo-palestino,
Karim, este texto do Mario Soares reforça a minha ideia de que o que se paasou na Tunisia e no Egipto não tem nada a ver com o Ocidente, Estados Unidos, Israel,Imperialismo, etc., foi apenas o resultado da vontade do Povo unido num propósito e isso para mim é muito gratificante pois mostra o poder do Povo.
ReplyDeleteQuanto ao resto, eu sou democrata e detesto a violencia e o extremismo, independentemente de quem sejam os protagonistas. Penso que temos de acabar com alguns mitos, como por exemplo, os muçulmanos são terroristas e/ou apoiam a violencia e o Ocidente é sempre o mau da fita. Estes estereotipos são generalizações que criam barreiras ao diálogo.
Um abraço!
Exactamente Jose,
ReplyDeleteTemos que acabar com o mito,
Mas acabar com o mito, significa "desmistificar" tambem a origem do mito,
Numa questao o Mario Soares esta correcto, pois ja nao fala de "terrorismo islamico", e apenas menciona terrorismo, esta correcto,
A unica coisa que reclamo 'e essa fuga de responsabelidade dos "principais intervinientes",
Tanto mais que a Democracia 'e caminho, mas fazer o caminho sobre meias verdades, nao sei se funciona.
Mesmo no mito do "ocidente mau da fita" esta uma generalizacao, que 'e vantajosa para aqueles que realmente fizeram asneira,
Se reparares bem, temos os "muculmanos terroristas" e "o ocidente mau da fita", dois mitos criados por meia duzia de politicos responsaveis por milhoes de mortes inocentes, e que por detras destes "mitos generalistas" tentam fugir inpunemente das suas responsabelidades em accoes macabras contra a humanidade.