O PRESIDENTE do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, revelou em entrevista ao nosso Jornal, na Beira, que não fala com o líder da Renamo, Afonso Dhlakama desde que abandonou esta formação política para formar o partido que lidera, há pouco mais de ano meio, considerando que este distanciamento é a melhor opção para o bem de ambos. Eis em seguida algumas partes significativas da entrevista onde Simango faz uma avaliação do estágio político do país, em particular do desempenho do MDM.
Maputo, Sábado, 8 de Janeiro de 2011:: Notícias
Noticias (N) - Como avalia o desenvolvimento socioeconómico e político do país em 2010?
Daviz Simango (DS) - Tivemos as eleições de 28 de Outubro, foi constituído o Governo a partir do candidato eleito e o que nós temos notado de lá para cá é a consolidação de uma governação de arrogância, distanciada para os objectivos pelos quais foi eleito. Nota-se um distanciamento entre os grandes objectivos nacionais em detrimento dos objectivos pessoais. Os nossos dirigentes hoje estão mais interessados no enriquecimento ilícito e pouco se olha para aquilo que seriam os interesses da comunidade dos moçambicanos. Hoje temos a vida cada vez mais desfavorável, a capacidade de compra baixou bastante. A nossa política social está muito longe daquilo que seria a razão da eleição, pois nota-se que cada vez mais não temos acesso ao emprego, a nossa juventude estava convencida que haveria uma política habitacional melhor.
Continuamos a assistir a uma degradação moral, uma educação cada vez mais a decrescer. Os funcionários públicos estão sem possibilidade de progressão em termos de vida social. Também continuamos a assistir os “gangsters” a tomarem conta do Estado em que os agentes da PIC e da PRM são assassinados de qualquer maneira, portanto, se isto acontece com autoridades policiais que têm a tarefa de assegurar a integridade territorial e a segurança dos homens imaginemos o que pode acontecer para nós os outros. Portanto, nós pensamos que o facto deste Governo continuar a pautar por dizer que tem tudo e tudo pode fazer tem prejudicado o desenvolvimento do país. Imagino o que está a acontecer agora com os megaprojectos. Ninguém sabe o que está a acontecer por dentro destes megaprojectos e que vantagens trazem para as nossas comunidades, pois os moçambicanos devem se sentir donos da sua riqueza, porque isto está plasmado na Constituição da República, portanto, não deve haver segredo nisto porque a riqueza é nossa e devemos saber até onde vai a nossa obrigatoriedade em função dos direitos adquiridos.
N - E no campo político?
DS- Olhe, um aspecto alarmante actualmente é que há intenções para a revisão da Constituição. O que me espanta é que a nível da Assembleia da República se cria uma comissão “ad hoc”, mas o proponente não dá o caminho da sua intenção. Isto cria condições para que os outros que são deputados, moçambicanos que não estão filiados ou não pertençam ao chamado clube de decisão no poder, vivam na imaginação pensando o que é que isso vai representar. A forma correcta seria apresentar propostas concretas e a partir dai permitir o alargamento da base do debate. Não percebo como é que a própria presidente da AR permitiu que uma bancada parlamentar propusesse a criação de uma comissão “ad hoc” mas sem argumentos.
Outro aspecto é que as nossas fronteiras são frágeis, Temos assistido a situações de narcotráfico e há cidadãos que andam com milhões de dólares em mãos. Para além de não ser seguro para a própria pessoa, isto também faz crer que os nossos bancos não são seguros o que também pode afugentar os investidores.
Por outro lado, há situações de drogas e isto vem envolver os megaprojectos como é o caso do Porto de Nacala, Beira e outros em que os moçambicanos assistem os seus dirigentes a serem mencionados com traficantes. O general na reserva Alberto Chipande, apareceu a desmentir as notícias, mas ele não é a voz autorizada porque este país tem Governo e um Chefe do Estado que devem se pronunciar sobre o assunto para lavarem a imagem do país.
Também notamos que outro mal que este Governo está a cometer é o facto de continuar a insistir em atribuir maiores recursos financeiros a sectores como Segurança, Presidência da República e outros em detrimento, por exemplo, da Agricultura ou Educação ou, ainda, da política habitacional que poderia tirar os jovens do sofrimento e poderia criar outro tipo de motivação. Na Polícia, por exemplo, há muito dinheiro que vai lá mas os agentes não têm condições de trabalho nem instrumentos de acção. Este dinheiro vai lá fazer o quê? Certamente que é um dinheiro que vai servir de drenagem para os interesses particulares de vários membros ligados ao poder. A nossa visão é de que precisamos de investir nas áreas que possam dar frutos, de geração de rendimentos para permitir que os moçambicanos possam, de facto, ser auto-suficientes.
Também notamos fragilidade do Governo pelo facto de ainda não ter conseguido separar o Governo do partido. Estávamos convencidos de que depois de tanto se falar sobre a despartidarização no Aparelho do Estado seria oportuno que o Chefe do Estado se pronunciasse mas nada disso aconteceu. Como não bastasse o secretário-geral do partido Frelimo disse publicamente que tal dependerá do congresso o que mostra que o partido deu golpe ao Estado, partido é que comanda ao Estado e somos obrigados a esperar até 2012, enquanto temos um Governo, um Estado.
São situações desagradáveis que infelizmente temos que conviver com elas. Estes procedimentos todos não ajudam pois o Governo tem de ter a capacidade de dialogar, de se abrir aos cidadãos e deixá-los livre porque nós devemos olhar a projecção da moçambicanidade na continuidade e no futuro. Há células em todo o lado que é instituição do Estado, incluindo no Aeroporto de Maputo, escolas, ministérios, etc.
N- Acha que o sector agrícola está assumir o seu papel neste esforço nacional de combate à pobreza por via da produção de alimentos ?
DS- De facto continuamos a assistir que o país está a produzir menos e a segurança alimentar ainda não está garantida precisando, para isso, avançar com a mecanização agrária de uma forma profissionalizada. Mas, infelizmente, continuamos a criar condições para que o Homem seja dependente das autoridades políticas. Por exemplo, os sete milhões possuem uma política discriminatória e isso cria separação ou distanciamento entre o governante e o governado ou dirigente e o dirigido. Também não há desembolsos e isso não se verifica. Significa que alguma coisa está mal. Na minha óptica está falhar este processo porque o Governo está a chamar a si a responsabilidade de dirigir ou gerir o dinheiro. É preciso compreender que nem o administrador e nem algum ministro ou ministério estão abalizados para isso. É necessário criar instituições vocacionadas para este efeito e que possam gerir de forma adequada este processo.
Se tivéssemos pegado estes sete milhões e comprado tractores imaginemos quantos tractores teríamos em cada distrito para a dinamização agrícola através de associações ou agricultores devidamente identificados e idóneos. Na nossa óptica pensamos que estes constituem alguns desafios, nomeadamente a promoção de segurança alimentar, escoamento de produtos pois o agricultor não pode continuar a ser ele a assumir a tarefa de produzir, escoar, comercializar o seu produto. Devem existir instituições vocacionadas para estes aspectos incluindo uma assistência clara até sob ponto de vista técnico e utilização de sementes, busca de mercados, entre outros aspectos afins. Também é preciso que deixemos de depender das chuvas, pois o país é bastante rico em termos de hidrografia. Temos muitos rios em todo o país e que deviam ser aproveitados para que tenhamos sucesso no campo agrícola.
CRIAMOS EQUILÍBRIO NA AR
N- O MDM está representado na Assembleia da República. Como avalia a prestação da sua bancada?
DS- Os nossos deputados têm realizado o que eram as esperanças do partido, do nosso eleitorado e sentimos nalgum momento que a presidência da Assembleia da República tem criado condições para que o MDM não tenha tempo para falar nem espaço.
Achamos que se trata de uma situação propositada pois criamos o equilíbrio e isto pode ser visto a partir da avaliação e comparação com anterior legislatura em que a plenária era uma escolinha de barulho, contrariamente ao que se verifica neste momento em que se nota um pouco mais de profissionalismo dado esse equilíbrio demonstrado pelo MDM.
Apesar disso, estamos preocupados porque a bancada da maioria continua a reboque do Governo. Sentimos que o facto do partido que tem mais assentos na AR estar a levar a que não esteja preocupado em legislar nem em exercer a sua função fiscalizadora mas sim, isso sim, mais preocupado em seguir aquilo que são os passos do Governo.
Nós estamos a lutar para contrariar esta situação. Por outro lado, sentimos que deveríamos estar em algumas comissões de trabalho pois certos trabalhos internos do Parlamento não correm com perfeição. Seria salutar se o MDM contribuísse usando a sua própria experiência de gestão. Portanto, de um modo geral pensamos que estamos a conseguir cumprir com aquilo que é o mandato do povo.
N- O que é que o MDM está a fazer para melhorar o seu desempenho em futuros actos eleitorais?
DS- O que estamos a fazer agora é assegurar que situações de aproveitamento como as que foram feitas não possam ocorrer mais. É verdade que o Homem é diabólico e pode ser que na época própria possam arranjar outros argumentos mas dentro da projecção e atenção que estamos a ter, seguramente que iremos reduzir estes riscos em grande escala.
N- O MDM tem esperança de um dia chegar ao poder?
DS- O MDM é um grupo jovem e desde que Deus nos ajude chegaremos longe. Como se sabe, em 2009 concorremos apenas seis meses após a nossa constituição e a nossa intenção estava clara que era evitar que a Frelimo tivesse a percentagem que tem hoje. Mas quando a Frelimo se apercebeu disso e infelizmente houve a colaboração de algumas forças políticas acabou criando toda aquela situação sobejamente conhecida. Foi feito tudo em termos matemáticos para que não houvesse espaço para o MDM. Infelizmente a outra força política que apoiou a Frelimo não entendeu que esta exclusão do MDM seria também fatal para eles e os resultados foram estes que foram conhecidos.
O que é que nós vamos continuar a fazer? O MDM tem que continuar a trabalhar e assegurar que a nível do eleitorado possamos ter o máximo possível de votos. É verdade que conseguimos arrastar muita gente e simpatia mas neste processo de votação, e quando se foi a votação no dia 28 de Outubro, a nossa exclusão criou um certo desapontamento por parte dos nossos membros e simpatizantes o que terá levado a que muitos não fossem votar. É preciso compreender que quando concorremos com apenas seis meses de vida, tínhamos a consciência de que não havia condições necessárias e suficientes para tornarmos a liderança do país. Como disse antes, o nosso grande objectivo era de evitar o maior número de votos para a Frelimo e fomos impedidos para que isso não acontecesse.
Quando me pergunta se estaremos no poder posso-lhe responder claramente que o MDM tem esperanças de estar no poder. Este partido vai governar o país, mas isso depende apenas de trabalho que temos que fazer de modo a vencermos os desafios. Para além de trabalho que temos que fazer, é uma questão de continuarmos com o perfil que temos e que o mundo compreenda que a alternância do poder é fundamental num país democrático. Sem querer menosprezar alguém, podemos dizer que neste momento a melhor força política nacional da oposição e que representa respeito, confiança e Moçambique para todos é o MDM.
N - Como é que o MDM se relaciona com outros partidos tanto a nível interno como externo?
DS - Temos tido um bom relacionamento. Temos diálogo interno com alguns partidos e esse diálogo tem sido naquilo que é a perspectiva de Moçambique. Sempre diremos a todos que não há mãos a medir em termos de trabalho mas compreendemos que qualquer resultado que o MDM tiver tem de ser pelo esforço próprio. Esperemos que juntemos o esforço do nosso partido e dos outros seja um esforço colectivo e com isso possamos atingir patamares muito mais altos. A nível externo temos uma grande satisfação pois um dos nossos grandes aliados venceu as eleições na Costa de Marfim. No Zimbabwe temos o MDC que também é um dos nossos amigos, alguns partidos sul-africanos. Em suma, o nosso partido goza de reputação quer em África como no mundo inteiro pois somos membro da IDC onde estão muitos partidos democráticos.
NÃO FALO COM DHLAKAMA
N- Senhor presidente, como estão as suas relações com o presidente da Renamo?
DS- Bom, o que eu me lembro é que nós tivemos a “Revolução de 28 de Agosto”, algum tempo antes falamos, mas desde essa altura até agora nunca mais falamos e nem nos encontramos.
N- Nem ao telefone?
DS- Nada. Nem por telefone, nem por carta. Julgo que estamos bem assim (risos).
N- Qual é o futuro do MDM?
DS- Nós continuamos a dialogar com outros partidos políticos sem limites não significando isso necessariamente acordos nem memorandos. O que temos é a discussão da vida nacional e essa discussão é feita com o partido no poder, a própria Renamo, líderes comunitários, entre outros. É uma forma em que nos batemos na mesma mesa e defendemos as nossas posições e vermos quem de direito pode fazer uso destas ideias para o bem das nossas comunidades, como o fazemos na AR e nos outros aspectos. Com o Chefe do Estado também continuamos a insistir sobre a despartidarização do Aparelho do Estado, entre outros aspectos.
A questão fundamental é como podemos angariar mais membros. Temos as nossas estruturas montadas e que dentro da lei vão trabalhando para o engrandecimento das nossas fileiras.
António Janeiro
Continuamos a assistir a uma degradação moral, uma educação cada vez mais a decrescer. Os funcionários públicos estão sem possibilidade de progressão em termos de vida social. Também continuamos a assistir os “gangsters” a tomarem conta do Estado em que os agentes da PIC e da PRM são assassinados de qualquer maneira, portanto, se isto acontece com autoridades policiais que têm a tarefa de assegurar a integridade territorial e a segurança dos homens imaginemos o que pode acontecer para nós os outros. Portanto, nós pensamos que o facto deste Governo continuar a pautar por dizer que tem tudo e tudo pode fazer tem prejudicado o desenvolvimento do país. Imagino o que está a acontecer agora com os megaprojectos. Ninguém sabe o que está a acontecer por dentro destes megaprojectos e que vantagens trazem para as nossas comunidades, pois os moçambicanos devem se sentir donos da sua riqueza, porque isto está plasmado na Constituição da República, portanto, não deve haver segredo nisto porque a riqueza é nossa e devemos saber até onde vai a nossa obrigatoriedade em função dos direitos adquiridos.
N - E no campo político?
DS- Olhe, um aspecto alarmante actualmente é que há intenções para a revisão da Constituição. O que me espanta é que a nível da Assembleia da República se cria uma comissão “ad hoc”, mas o proponente não dá o caminho da sua intenção. Isto cria condições para que os outros que são deputados, moçambicanos que não estão filiados ou não pertençam ao chamado clube de decisão no poder, vivam na imaginação pensando o que é que isso vai representar. A forma correcta seria apresentar propostas concretas e a partir dai permitir o alargamento da base do debate. Não percebo como é que a própria presidente da AR permitiu que uma bancada parlamentar propusesse a criação de uma comissão “ad hoc” mas sem argumentos.
Outro aspecto é que as nossas fronteiras são frágeis, Temos assistido a situações de narcotráfico e há cidadãos que andam com milhões de dólares em mãos. Para além de não ser seguro para a própria pessoa, isto também faz crer que os nossos bancos não são seguros o que também pode afugentar os investidores.
Por outro lado, há situações de drogas e isto vem envolver os megaprojectos como é o caso do Porto de Nacala, Beira e outros em que os moçambicanos assistem os seus dirigentes a serem mencionados com traficantes. O general na reserva Alberto Chipande, apareceu a desmentir as notícias, mas ele não é a voz autorizada porque este país tem Governo e um Chefe do Estado que devem se pronunciar sobre o assunto para lavarem a imagem do país.
Também notamos que outro mal que este Governo está a cometer é o facto de continuar a insistir em atribuir maiores recursos financeiros a sectores como Segurança, Presidência da República e outros em detrimento, por exemplo, da Agricultura ou Educação ou, ainda, da política habitacional que poderia tirar os jovens do sofrimento e poderia criar outro tipo de motivação. Na Polícia, por exemplo, há muito dinheiro que vai lá mas os agentes não têm condições de trabalho nem instrumentos de acção. Este dinheiro vai lá fazer o quê? Certamente que é um dinheiro que vai servir de drenagem para os interesses particulares de vários membros ligados ao poder. A nossa visão é de que precisamos de investir nas áreas que possam dar frutos, de geração de rendimentos para permitir que os moçambicanos possam, de facto, ser auto-suficientes.
Também notamos fragilidade do Governo pelo facto de ainda não ter conseguido separar o Governo do partido. Estávamos convencidos de que depois de tanto se falar sobre a despartidarização no Aparelho do Estado seria oportuno que o Chefe do Estado se pronunciasse mas nada disso aconteceu. Como não bastasse o secretário-geral do partido Frelimo disse publicamente que tal dependerá do congresso o que mostra que o partido deu golpe ao Estado, partido é que comanda ao Estado e somos obrigados a esperar até 2012, enquanto temos um Governo, um Estado.
São situações desagradáveis que infelizmente temos que conviver com elas. Estes procedimentos todos não ajudam pois o Governo tem de ter a capacidade de dialogar, de se abrir aos cidadãos e deixá-los livre porque nós devemos olhar a projecção da moçambicanidade na continuidade e no futuro. Há células em todo o lado que é instituição do Estado, incluindo no Aeroporto de Maputo, escolas, ministérios, etc.
N- Acha que o sector agrícola está assumir o seu papel neste esforço nacional de combate à pobreza por via da produção de alimentos ?
DS- De facto continuamos a assistir que o país está a produzir menos e a segurança alimentar ainda não está garantida precisando, para isso, avançar com a mecanização agrária de uma forma profissionalizada. Mas, infelizmente, continuamos a criar condições para que o Homem seja dependente das autoridades políticas. Por exemplo, os sete milhões possuem uma política discriminatória e isso cria separação ou distanciamento entre o governante e o governado ou dirigente e o dirigido. Também não há desembolsos e isso não se verifica. Significa que alguma coisa está mal. Na minha óptica está falhar este processo porque o Governo está a chamar a si a responsabilidade de dirigir ou gerir o dinheiro. É preciso compreender que nem o administrador e nem algum ministro ou ministério estão abalizados para isso. É necessário criar instituições vocacionadas para este efeito e que possam gerir de forma adequada este processo.
Se tivéssemos pegado estes sete milhões e comprado tractores imaginemos quantos tractores teríamos em cada distrito para a dinamização agrícola através de associações ou agricultores devidamente identificados e idóneos. Na nossa óptica pensamos que estes constituem alguns desafios, nomeadamente a promoção de segurança alimentar, escoamento de produtos pois o agricultor não pode continuar a ser ele a assumir a tarefa de produzir, escoar, comercializar o seu produto. Devem existir instituições vocacionadas para estes aspectos incluindo uma assistência clara até sob ponto de vista técnico e utilização de sementes, busca de mercados, entre outros aspectos afins. Também é preciso que deixemos de depender das chuvas, pois o país é bastante rico em termos de hidrografia. Temos muitos rios em todo o país e que deviam ser aproveitados para que tenhamos sucesso no campo agrícola.
CRIAMOS EQUILÍBRIO NA AR
N- O MDM está representado na Assembleia da República. Como avalia a prestação da sua bancada?
DS- Os nossos deputados têm realizado o que eram as esperanças do partido, do nosso eleitorado e sentimos nalgum momento que a presidência da Assembleia da República tem criado condições para que o MDM não tenha tempo para falar nem espaço.
Achamos que se trata de uma situação propositada pois criamos o equilíbrio e isto pode ser visto a partir da avaliação e comparação com anterior legislatura em que a plenária era uma escolinha de barulho, contrariamente ao que se verifica neste momento em que se nota um pouco mais de profissionalismo dado esse equilíbrio demonstrado pelo MDM.
Apesar disso, estamos preocupados porque a bancada da maioria continua a reboque do Governo. Sentimos que o facto do partido que tem mais assentos na AR estar a levar a que não esteja preocupado em legislar nem em exercer a sua função fiscalizadora mas sim, isso sim, mais preocupado em seguir aquilo que são os passos do Governo.
Nós estamos a lutar para contrariar esta situação. Por outro lado, sentimos que deveríamos estar em algumas comissões de trabalho pois certos trabalhos internos do Parlamento não correm com perfeição. Seria salutar se o MDM contribuísse usando a sua própria experiência de gestão. Portanto, de um modo geral pensamos que estamos a conseguir cumprir com aquilo que é o mandato do povo.
N- O que é que o MDM está a fazer para melhorar o seu desempenho em futuros actos eleitorais?
DS- O que estamos a fazer agora é assegurar que situações de aproveitamento como as que foram feitas não possam ocorrer mais. É verdade que o Homem é diabólico e pode ser que na época própria possam arranjar outros argumentos mas dentro da projecção e atenção que estamos a ter, seguramente que iremos reduzir estes riscos em grande escala.
N- O MDM tem esperança de um dia chegar ao poder?
DS- O MDM é um grupo jovem e desde que Deus nos ajude chegaremos longe. Como se sabe, em 2009 concorremos apenas seis meses após a nossa constituição e a nossa intenção estava clara que era evitar que a Frelimo tivesse a percentagem que tem hoje. Mas quando a Frelimo se apercebeu disso e infelizmente houve a colaboração de algumas forças políticas acabou criando toda aquela situação sobejamente conhecida. Foi feito tudo em termos matemáticos para que não houvesse espaço para o MDM. Infelizmente a outra força política que apoiou a Frelimo não entendeu que esta exclusão do MDM seria também fatal para eles e os resultados foram estes que foram conhecidos.
O que é que nós vamos continuar a fazer? O MDM tem que continuar a trabalhar e assegurar que a nível do eleitorado possamos ter o máximo possível de votos. É verdade que conseguimos arrastar muita gente e simpatia mas neste processo de votação, e quando se foi a votação no dia 28 de Outubro, a nossa exclusão criou um certo desapontamento por parte dos nossos membros e simpatizantes o que terá levado a que muitos não fossem votar. É preciso compreender que quando concorremos com apenas seis meses de vida, tínhamos a consciência de que não havia condições necessárias e suficientes para tornarmos a liderança do país. Como disse antes, o nosso grande objectivo era de evitar o maior número de votos para a Frelimo e fomos impedidos para que isso não acontecesse.
Quando me pergunta se estaremos no poder posso-lhe responder claramente que o MDM tem esperanças de estar no poder. Este partido vai governar o país, mas isso depende apenas de trabalho que temos que fazer de modo a vencermos os desafios. Para além de trabalho que temos que fazer, é uma questão de continuarmos com o perfil que temos e que o mundo compreenda que a alternância do poder é fundamental num país democrático. Sem querer menosprezar alguém, podemos dizer que neste momento a melhor força política nacional da oposição e que representa respeito, confiança e Moçambique para todos é o MDM.
N - Como é que o MDM se relaciona com outros partidos tanto a nível interno como externo?
DS - Temos tido um bom relacionamento. Temos diálogo interno com alguns partidos e esse diálogo tem sido naquilo que é a perspectiva de Moçambique. Sempre diremos a todos que não há mãos a medir em termos de trabalho mas compreendemos que qualquer resultado que o MDM tiver tem de ser pelo esforço próprio. Esperemos que juntemos o esforço do nosso partido e dos outros seja um esforço colectivo e com isso possamos atingir patamares muito mais altos. A nível externo temos uma grande satisfação pois um dos nossos grandes aliados venceu as eleições na Costa de Marfim. No Zimbabwe temos o MDC que também é um dos nossos amigos, alguns partidos sul-africanos. Em suma, o nosso partido goza de reputação quer em África como no mundo inteiro pois somos membro da IDC onde estão muitos partidos democráticos.
NÃO FALO COM DHLAKAMA
N- Senhor presidente, como estão as suas relações com o presidente da Renamo?
DS- Bom, o que eu me lembro é que nós tivemos a “Revolução de 28 de Agosto”, algum tempo antes falamos, mas desde essa altura até agora nunca mais falamos e nem nos encontramos.
N- Nem ao telefone?
DS- Nada. Nem por telefone, nem por carta. Julgo que estamos bem assim (risos).
N- Qual é o futuro do MDM?
DS- Nós continuamos a dialogar com outros partidos políticos sem limites não significando isso necessariamente acordos nem memorandos. O que temos é a discussão da vida nacional e essa discussão é feita com o partido no poder, a própria Renamo, líderes comunitários, entre outros. É uma forma em que nos batemos na mesma mesa e defendemos as nossas posições e vermos quem de direito pode fazer uso destas ideias para o bem das nossas comunidades, como o fazemos na AR e nos outros aspectos. Com o Chefe do Estado também continuamos a insistir sobre a despartidarização do Aparelho do Estado, entre outros aspectos.
A questão fundamental é como podemos angariar mais membros. Temos as nossas estruturas montadas e que dentro da lei vão trabalhando para o engrandecimento das nossas fileiras.
António Janeiro
Considero o título tendencioso, considerando o conteúdo da entrevista.
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