Wednesday, 15 September 2010

Governo tomou medidas psicológicas que não resolvem o problema

Algumas conclusões do debate sobre as manifestações de 1 e 2 de Setembro
Nuno Castel-Branco defende que o Estado deve renegociar os mega-projectos e fechar o cerco à evasão fiscal. Carlos Serra diz que a principal causa das manifestações foi a ausência do Estado...


As medidas tomadas pelo Governo e anunciadas a 7 de Setembro corrente, com vista à redução do impacto do aumento do custo de vida no país, não passam de uma manobra psicológica do Executivo, pois as mesmas não vão resolver o real problema dos manifestantes.
Esta posição foi tomada, ontem, pelo economista e docente universitário, Nuno Castel-Branco, durante um debate público organizado pelo Parlamento Juvenil (PJ) com o objectivo de reflectir à volta das manifestações havidas entre 1 e 2 do mês em curso.
“As medidas de congelamento dos salários e subsídios de altos dirigentes do Estado não vão libertar recursos financeiros para financiar nem o arroz de terceira qualidade, pois foram anunciadas para ter um impacto psicológico nas pessoas”, defendeu.
Para Castel-Branco, os manifestantes ficaram enganados pelas medidas e acalmaram-se por pensar que um “sacrifício” do Governo ia resolver este problema.
“Do ponto de vista psicológico, tem impacto, mas do ponto de vista real, não tem muito e do ético tem pouco ainda”, realçou o economista, acrescentando que “o corte das despesas não resolve o problema, pois o custo da solução é muito elevado em relação ao valor resultante da política de congelamento”.

O Governo tem um “passado sujo”

Explicando o seu ponto de vista sobre as medidas do Governo, Nuno Castel-Branco defendeu que o mais importante era procurarmos saber o que os dirigentes vão defender, daqui a quatro meses, em relação a esta decisão, visto que tomou as medidas sem os devidos cálculos.
“Fazendo uma retrospectiva da decisão do Executivo de subsidiar os combustíveis, aquando das manifestações de 5 de Fevereiro de 2008, alguns meses depois, alguns ministros, dentre eles a antiga primeira-ministra, Luísa Diogo, e o ministro da Energia, Salvador Namburete, vieram admitir que aquelas decisões não eram sustentáveis e foram um erro. Agora pergunto, o que eles dirão daqui a alguns meses?”, questionou.
Num outro desenvolvimento, Castel-Branco afirmou que “o Governo diz que vai subsidiar o preço do pão. Pelos cálculos, cada saco de trigo deverá ser subsidiado por 10 dólares. Agora imaginem quanto será necessário para custear todas as importações de trigo no país. Aliás, será que os 46 milhões de dólares serão suficientes, eu digo que não!”, asseverou.

André Manhice, em O País

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