Tuesday, 17 August 2010

O crónico problema de habitação (1)

EM qualquer parte do mundo, a questão de habitação é encarada com uma certa seriedade, com a criação de facilidades para a sua aquisição e ou construção. Naqueles países onde o cidadão comum tem algum valor humano, é-lhe conferida a mínima comodidade habitacional, constituindo uma prioridade para todos.

Maputo, Terça-Feira, 17 de Agosto de 2010:: Notícias

Cá entre nós, tudo está difícil, ou mesmo impossível, reina a lei da selva, em que o mais forte é que se sai a contento. Ter emprego não é solução para se ter uma habitação condigna, como o dizem os políticos, como se tivesse que haver habitação não condigna! Habitação condigna tem olhos bem grandes. Uma residência convencional não é para Zé Ninguém.
Épa, isto é assim mesmo, cá entre nós, salve-se quem puder, de resto, Deus é que é o responsável por todos os humanos moçambicanos. Isso de andar aos murmúrios contra as entidades de direito, não é nada. Quem tem poder e possibilidades para se arranjar, que o faça.
Alguém fica à espera do fundo de habitação, é uma fantochada. O que aparece de bandeja, cá entre nós? Ou o aflito sua às estopinhas para conseguir algo, ou então fica a lamentação, em que ninguém vai ter a paciência de escutar, mesmo que seja apenas para o ouvir.
A classe política que está no poleiro já teve a oportunidade de advertir aos jovens deste país que ninguém deve ficar à espera que o Governo, ou melhor, o Estado, faça algo por eles. O importante é esgravatar o chão, tal como a galinha o faz. Esta geração tem que se virar a si própria.
Outras vozes do poder político dão conta que isso de a gente andar a reclamar que há uma minoria que se enriquece, é preciso calar a boquinha. Nada de fazer confusão, isto é assim mesmo, dar a César o que lhe pertence, e deixar a Deus que tome conta daquilo que é seu. Quem está a misturar alhos com bugalhos? Nada disso. Cá entre nós, não queremos confusão.
Diz-se que o trabalho dignifica o Homem, sim senhor! Só que, para o caso dos moçambicanos, digo, de moçambicanos comuns, o trabalho nunca o dignificou, pois, o rendimento mensal, o chamado salário, que eu, pessoalmente, chamo de “troco”, não dá para comprar um cabaz mínimo de uma pessoa. O trabalho dignificou o Homem noutros tempos já idos.
Os sindicatos lutam e digladiam-se em tentar um salário mínimo que dê para um cabaz para cinco pessoas, contudo, eu penso que deviam, antes de mais, lutar pelo cabaz só para o próprio trabalhador, este apenas. Mais tarde, teriam que encetar uma outra peleja, para o seu agregado familiar.
E se o salário não chega para um cabaz mínimo que dá para sustentar uma única pessoa, como será em habitação? Quem nos ajuda fazer essas contas, para ver se a gente pode poupar, de modo que por mês, um trabalhador comum possa comprar um saco de cimento?

Arlindo Oliveira

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