Tuesday, 22 June 2010

País do tá pidir

A SEMANA passada foi fértil em questões que, directa ou indirectamente, têm a ver com todos nós, moçambicanos de pé descalço, dacontroversa classe média, e ainda dos tais empresários de sucesso.Sejam eles narcotraficantes ou não.
Assistimos, pois, ao recuo dos Parceiros de Apoio Programático (PAP) no que diz respeito à verba destinada ao Orçamento do Estado para o ano 2001, da ordem dos 47 milhões de dólares norte-americanos. Uma diferença enorme face ao corrente ano, onde, à rasca, o Governo conseguiu totalizar os 472 milhões de dólares norte-americanos.
Por outras palavras, isto quer dizer que para o ano 2011, o G19, que compõe os países e instituições do PAP, só vão desembolsar 425 milhões de dólares norte-americanos. O argumento para tamanho recuo não podia ser tão pedagógico quanto o facto de certas rubricas terem sido mal executadas, no entender de quem dá o dinheiro.
Este ano, os desembolsos dos G19 custaram a cair na conta do Governo, por causa de problemas ocorridos antes e durante o último processo eleitoral. Desta vez, na programação para o próximo ano, os PAP endureceram a barra, não dando garantias quanto a uma comparticipação monetária no mínimo semelhante à do corrente ano.
Vale dizer que os compromissos de desembolsos são rubricados com antecedência, e uma vez acordados, dificilmente de lá se consegue escapar, como terá sido o caso deste ano, em que, aborrecidos com o processo eleitoral, alguns dos membros do G19 quase encolhiam o braço com a massa (dinheiro). Assunto a ser repensado pelas autoridades moçambicanas.
O “Caso-MBS” continuou a alimentar algumas tertúlias. Os Estados Unidos da América, que haviam dado a entender que não podiam exibir provas do envolvimento de Momade Bachir Sulemane – ou Mohamed Bachir Seleman… já não se sabe bem qual o verdadeiro nome do homem – acabaram distribuíndo alguns elementos das investigações e que mostram cinco passaportes que seriam pertença do patrão do MBS.
Talvez os norte-americanos tenham pretendido, com esta iniciativa, transmitir a ideia de que não estão a brincar com coisas sérias, e que o moçambicano é efectivamente “barão de drogas” alistado na pauta primeira.
Irreversível, no entanto, o senhor MBS parece mesmo ter contratado advogados norte-americanos para o defender por lá, enquanto cá,o fil ho do senhor MBS via a sua matrícula na Escola Americana a ser interrompida por razões não clarificadas.
Fora isso, o Barclays anunciava para as próximas semanas, o encerramento da sua agência localizada nas instalações do Maputo Shopping Center, do senhor MBS. Outros poderão seguir-lhe o rasto, não vão, os norte-americanos, condicionar- -lhes o negócio.
A leitura que se faz é a de que o assunto ainda promete. Pena que haja por aí uma malta em clara
posição proteccionista do senhor MBS, sabe-se lá a troco de quê. A verdade é que não se deve, ainda, defender ou atacar o senhor MBS ou os Estados Unidos da América, dada a delicadeza que o assunto encerra.
Os moçambicanos, de resto, estão habituados a assistir a uma mesma malta com a mania de lambe- botas, nem que para isso tenha de colocar o seu profissionalismo em causa. Deixemos que o curso dos acontecimentos prossiga o seu rumo. Aí sim, veremos quem tem razão em tudo isto. Se Barack Obama, ou então o senhor MBS.
Esta casa entende, por isso, que o procedimento do Presidente Armando Guebuza sobre o assunto, foi precipitado. O Presidente devia ser o último a falar, preferencialmente, após o conhecimento de alguns resultados do trabalho que está a ser levado a cabo pela Procuradoria-
Geral da República, pelo menos por essa altura.
O Presidente Armando Guebuza corre o risco de se contradizer quando, por ventura – esperamos
sinceramente que a Casa Branca esteja enganada – Washington concluir que afinal cometera erros de palmatória.
Na mesma semana, no entanto, Armando Guebuza voltou a chamar a sí um cerimonial que liga o presente do passado heróico dos moçambicanos. Foi a Mueda homenagear as pessoas que perderam a vida pela causa de todos nós. De resto, o Presidente Guebuza é exímio em ligar a geração dos nossos tempos, àquela que ajudou a construir a heróica história de Moçambique.
E a 16 de Junho, o Banco de Moçambique fez recordar a data em que nasceu o Metical, a moeda nacional.
Em síntese. Volvidos quase 35 anos de Independência Nacional, continuamos um País de ‘tá pidir’, sempre de mão estendida para o estrangeiro, que sabendo da situação, não hesita em impôr as suas regras de jogo sobre o dinheiro que manda cá para dentro.
Do mesmo modo, aliás, que determinadas pessoas do sucesso de hoje, afinal de contas parecem ter manchas negras a pintar tal sucesso, entretanto não detectável a nível interno, mas sim, a partir de fora. Isto até parece que cá dentro haja uma espécie de proteccionismo, do tipo eu te protejo mas, em contrapartida, terás de devolver esse gesto…Ou seja, tráfico de influência para sustentar eventuais aldrabices.
Mesmo assim, sabemos honrar os nossos heróicos combatentes, para que, de onde estiverem, possam emprestar o seu contributo para que continuemos a ser bem sucedidos nas nossas negociatas.
Pena que o Metical não tenha a mesma força prometida quando da mudança da velha para a nova moeda, inicialmente designada Metical de Nova Família. Assunto que devia merecer alguma reflexão. E lá vamos nós, de mão estendida no já tradicional ‘tá pidir’, quando internamente já poderíamos evitar isso, desde que controlando os empresários de sucesso de hoje.


Expresso (Moçambique), 21/06/10, citado no Diário de um Sociologo.

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