Maputo (Canalmoz / Canal de Moçambique) - Na Frelimo, coisas importantes para o país começaram a ter de ser faladas a partir do momento em que Joaquim Chissano, Presidente Honorário desse partido, no seu jeito matreiro e certeiro habitual, e com o seu costumeiro ar ingénuo, na mais recente reunião do Comité Central, na Matola, disse que, nas suas viagens pelo mundo, as pessoas estavam a perguntar-lhe se realmente a Frelimo ia mudar a Constituição para acomodar mais um mandato, o terceiro, de Armando Guebuza na Presidência da República.
Armando Guebuza, contrariado ou não, já anunciou que não está disponível para um terceiro mandato, como Presidente da República. Só não disse é se quer ou não perpetuar-se como líder da Frelimo. Mas isso é outra coisa, que nada tem a ver com a Constituição da República de Moçambique.
“Não, não e não” são as palavras do presidente Guebuza mais repetidas ultimamente pela imprensa que afina pelo diapasão da Frelimo, por isso tudo leva a crer que se trate de coisa séria, embora haja muito boa gente que ainda duvida dessa franqueza. Cada um sabe de si!
Foi sempre nossa convicção que nem mesmo os mais de dois terços que a Frelimo tem na Assembleia da República lhe dão legitimidade para mudar a Constituição numa questão sacramental como é a questão dos mandatos presidenciais e outros aspectos do mesmo grau de importância como são os direitos, liberdades e garantias individuais que, para que hoje sejam princípios inscritos na Lei Fundamental, os moçambicanos tiveram já de se desentenderem seriamente, chegando ao ponto de se matarem uns aos outros.
A loucura desmesurada pelo Poder que por aí vai em algumas cabeças estava a deixar o País em pânico. Notava-se uma apetência desmedida pelo Poder em certos círculos que se habituaram a viver pendurados no Estado e na corrupção que a impunidade vem proporcionando.
A apetência pelo Poder em que alguns estavam a incorrer podia levar a que se cometessem actos de loucura proporcionalmente equivalentes aos que nos levaram a todos para uma guerra civil, que acabou sendo talvez a maior vergonha de todos nós, até hoje.
Jorge Rebelo, a “Velha Raposa”, ajudou a pôr termo às eventuais veleidades de Guebuza quanto ao terceiro mandato, ajudando assim Chissano a servir, com toda a meiguice, a “vingança” por que certamente desde há muito ansiava. “Amor com amor se paga”.
Se a sucessão de Guebuza já foi discutida na Frelimo, como referiu esta semana a senhora Graça Machel “Mandela” a um jornal português, não parecia. Mas lá está: a Frelimo tem donos, e ai de quem duvide disso…
Certo, porém, é que, ao mesmo tempo que Graça Machel, em Lisboa, foi afirmando que “o sucessor de Guebuza será da nova geração” e que a “geração dos antigos combatentes não voltará a ocupar a Presidência depois de Armando Guebuza, em 2014”, da Beira chegam-nos notícias dando conta de que o general do “Primeiro Tiro”, o “Velho Maconde”, acha que chegou a vez de ele de ser Presidente da República, tendo em conta a hierarquia no antigo Bureau Político, e isso até viria ainda mais a propósito por também coincidir com uma outra ideia muito apregoada, segundo a qual “é hora de o país ter um presidente genuinamente do Centro ou do Norte”. A questão fica em aberto, até que seja devidamente esclarecida.
Fica também em dúvida se a Frelimo já decidiu realmente conforme aquilo que Graça Machel disse em Portugal. Se já decidiu que o sucessor de Guebuza será da nova geração e não um velho combatente, Maria da Luz Guebuza também passa a ser uma carta fora do baralho.
Ficará, para já, a aguardar esclarecimento, se ainda é válido continuar-se a dar crédito à hipótese de a Primeira Dama se estar a colocar em posição para suceder ao seu próprio marido. Pelos gastos que tem obrigado o Estado a efectuar durante as suas acções sociais junto dos “economicamente débeis”, que nos fazem lembrar as obras de beneficência das senhoras do Movimento Nacional Feminino nos últimos anos da administração colonial, não está fora de cogitações a sua candidatura. Em princípio, só está seguro que Armando “não, não e não”. Mas se esse “não” também é válido para o apelido Guebuza, isso é o que ainda se vai ver...
Está também a circular a versão segundo a qual Aires Ali, actual primeiro-ministro, está a ser preparado para ser o candidato presidencial da Frelimo em 2014, o que não cola em muitos sectores do próprio partido Frelimo.
A coisa não está fácil para o “Partidão”. São muitos a querer chegar ao tacho. E, mesmo assim, para chegarem à Ponta Vermelha, terão de disputar eleições com candidatos da oposição. É saudável que o debate esteja aberto desde já, para que Moçambique possa ser de facto, e não só parecer, um País Democrático.
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