Wednesday, 14 April 2010

Frelimo ataca D. Jaime

Foi na semana de Páscoa que o arcebispo da Beira, Dom Jaime Pedro Gonçalves, considerou de infundadas as apreciações negativas que a Frelimo na Beira fez, em Fevereiro último, na conferência de doadores na qual o Executivo de Daviz Simango pediu cerca de USD 400 milhões para resolver problemas urbanos daquela cidade. A Frelimo ouviu e não gostou do pronunciamento: “ele devia saber das normas de funcionamento da autarquia antes de desinformar pessoas em pleno culto pascal”.

Dom Jaime Gonçalves disse não entender a razão do levantamento de vozes críticas “contra um gestor municipal que está preocupado em melhorar as condições básicas para a vida dos cidadãos dentro da urbe”.
O arcebispo indicou que as lideranças devem respeitar os direitos humanos e defendé-los e não dificultar o progresso.
“Não podemos continuar a ver pessoas a ter dificuldades em circular na cidade por causa de problemas nas vias públicas. Os líderes devem tomar a dianteira na procura de soluções ao invés de dificultar”, anotou.

Frelimo diz que é desinformação

O chefe da bancada da Frelimo na AMB (Assembleia Municipal da Beira) desqualificou as declarações do arcebispo, considerando-as de “uma autêntica desinformação”. Jossefo Nguenha negou que a Frelimo tenha em manga um plano que visa obstruir o plano de desenvolvimento da cidade da Beira desenhado pela edilidade de Daviz, que está a cumprir o seu segundo mandato.
Para Nguenha, as declarações de Dom Jaime têm como base o desconhecimento das normas de funcionamento de uma autarquia.
Como que a explicar, o chefe da bancada da Frelimo na AMB disse que a existência de três órgãos dentro da autarquia, (Assembleia Municipal, Presidente do Município e Conselho Municipal) significa que entre eles existe uma relação de interdependência no desenvolvimento das actividades da urbe. Para ele, a discórdia da sua bancada reside no facto de “o Executivo da Beira ter organizado uma conferência de pedido de investimentos para sustentar o Plano Estratégico de Desenvolvimento da Beira, um documento que não foi apreciado e aprovado pela AMB”.
Socorrendo-se da lei 2/97, do Regimento da AMB, Nguenha disse que compete àquele órgão deliberativo apreciar e aprovar o Plano de Desenvolvimento Económico da autarquia. Prosseguiu explicando que a sua bancada participou na conferência de doadores da Beira sem o documento sobre o Plano de Desenvolvimento Económico Social em mão.
“Nós (bancada da Frelimo na AMB) somos parte integrante dos munícipes e temos um mandato que nos concede o direito de sermos consultados sobre aquilo que constitui plano das acções da edilidade”.
Enquanto isso, a edilidade prefere não reagir às críticas da Frelimo que as classifica de “tolices de quem discorda de tudo com o intuito de acomodar discursos populistas”.
“A nossa grande preocupação neste momento é procurar soluções dos problemas que afligem a urbe por forma a que os autarcas tenham uma cidade que vai servir futuras gerações sem ameaças, sublinhou Paulo Sérgio, chefe do Gabinete do Presidente do Município.

Cerco à casa de Dhlakama e MDM

Quanto ao cerco que a PRM tem vindo a manter na casa do presidente da Renamo em Nampula, o arcebispo da diocese da Beira entende que a “situação não revela um bom relacionamento entre os políticos moçambicanos”.
A residência de Afonso Dhlakama tem vindo a ser fortemente vigiada por agentes da PRM após a divulgação dos resultados eleitorais em 2009. Lembre-se que desde o ano passado o presidente do maior partido da oposição no país tem vindo a reiterar a realização de manifestações de repúdio aos resultados das últimas eleições eleitorais. As mesmas foram ganhas confortavelmente pela Frelimo e Armando Guebuza, mas a oposição, liderada pela Renamo, alega que houve irregularidades graves.
O prelado católico na diocese da Beira referiu que “a sociedade moçambicana está a espera para ver como é que a atitude vai acabar”.
“Neste momento, enquanto os políticos discutem podemos dizer que há esperança de algum dia a relação entre eles vir a melhorar para o bem comum”, disse Dom Jaime, para depois referir que as diferenças políticas resolvem-se com o diálogo e reconciliação.
Quanto à preocupação do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) em formar uma bancada na Assembleia da República (AR), Dom Jaime considera a ideia de salutar num país onde se defende a pluralidade de ideias.
Tratando-se de um grupo de políticos moçambicanos com ideias próprias e que mereceu confiança de voto da parte do eleitorado no país, diz Dom Jaime, seria salutar que as suas ideias contribuíssem na busca de soluções para as preocupações do povo.
“No meu entender, se de facto queremos combater a pobreza não faz sentido que um grupo de pessoas que representa parte do eleitorado moçambicano seja excluído nos debates das preocupações do povo”, disse.

Artigos de ouro roubados na diocese da Beira

Na conversa com o SAVANA, o arcebispo Dom Jaime Gonçalves fez saber que a diocese da Beira tem vindo a sofrer, de forma sistemática, roubos de diversos artigos religiosos.
O mais recente roubo fez desaparecer artigos de ouro oferecidos pelos Papas Bento XVI e João Paulo II (falecido). No passado, outros artigos religiosos deixados pelo primeiro bispo da Beira, Dom Sebastião Soares de Resende, também foram roubados.
O nosso interlocutor explicou que no mais recente roubo, pessoas desconhecidas introduziram-se no quarto do arcebispo, tendo sacado uma cruz, uma corrente e anéis de ouro que se encontravam numa gaveta, incluindo um aparelho DVD. Todos artigos fazem parte de uma doação do papado.
Dois funcionários da diocese da Beira, nomeadamente, um jardineiro e um cozinheiro, estão sob investigação das autoridades policiais.
Uma fonte que pediu anonimato especulou que os roubos devem ser uma das formas de reivindicação de dois meses de salário em atraso por parte de alguns trabalhadores da diocese. Confrontado com este pronunciamento, Dom Jaime reconheceu o atraso, mas disse ter regularizado a situação de um mês.
“O que aconteceu foi que a diocese estava em tempo de balanço das suas contas internas e externas”, justificou. A diocese da Beira possui 15 funcionários.
Em consequência dos roubos, nos últimos dias o arcebispo da Beira tem aparecido nas celebrações e outras cerimónias religiosas sem os referidos artigos, cujo uso é recomendado protocolarmente de acordo com a sua categoria dentro da igreja católica
Dom Jaime vai a reforma em Novembro do próximo ano quando completar 75 anos de idade, segundo recomendam normas da Igreja Católica Apostólica Romana.



Eurico Dança, SAVANA de 09/04/10, citado no Diário de um Sociólogo

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