A vitória, por uma larguíssima margem, da Frelimo e de Armando Guebuza mostra-nos uma coisa que me parece importante: o facto de que não tinha sido necessária toda a bandalheira a que assistimos para conseguir esta vitória.
Todas as artimanhas e distorções da lei a que os órgãos eleitorais nos sujeitaram, toda a utilização de meios do Estado para fins eleitorais, todos os actos de intimidação só vieram sujar uma vitória que, é bem claro agora, teria acontecido na mesma sem isso tudo.
Talvez não tivesse sido tão grande como foi, mas não sei. Porque as referidas trafulhices também fizeram com que muita gente, que teria votado Frelimo, acabasse por votar noutro partido qualquer.
No fundo, a equipa que, não tenho grandes dúvidas, esteve à frente de toda a série de truques sujos, acabou por ser mais prejudicial do que útil ao seu partido.
O que poderia ter sido uma vitória limpa acabou por o não ser.
De qualquer forma foi uma vitória significativa.
Mais uma vez a força dos números mostra que, com ou sem tropelias, a Frelimo teria ganho por uma maioria muito confortável. Que as tropelias não alteraram os resultados de forma a pôr em causa a legitimidade do futuro governo.
Em relação às declarações alarmantes do dirigente da Renamo e de outros militantes daquele partido não creio que o país tenha nada a temer.
Os tempos, em termos regionais, são muito diferentes daqueles em que Dlakama e os seus homens fizeram a guerra contra o governo.
Neste momento já não existem a Rodésia de Ian Smith, o Malawi de Hastings Banda nem a África do Sul do apartheid para apoiar os combatentes da Renamo com todo o tipo de equipamento militar e logístico. Já não há fronteiras simpáticas onde podessem encontrar abrigo.
Se os homens da Renamo enveredarem pelo caminho da violência, talvez estejam a fazer o maior dos favores ao governo da Frelimo que, com esse pretexto, poderá aniquilar de uma vez por todas a pequena capacidade militar de Dlakama.
Os antigos guerrilheiros da Perdiz estão hoje barrigudos e instalados. Não serão eles quem vai, de novo, para o mato. E novos recrutas parecem difíceis de encontrar, se avaliarmos pelos próprios resultados eleitorais em zonas que foram, anteriormente, baluartes da Renamo.
Por este lado, não creio que haja razão para sustos.
Tudo isto não quer dizer, no entanto, que a Renamo não possa ter razão nas acusações que faz de fraudes várias no processo...
Por fim temos o fenómeno MDM e Davis Simango.
Saídos do nada, há cerca de 6 meses, apareceram nestas eleições como a terceira força política, sem margem para dúvidas. Se as contas do Joe Hanlon estiverem certas, o MDM vai ter 8 deputados na nova Assembleia da República e teria 17 se lhe tivessem permitido concorrer em todos os círculos eleitorais.
De qualquer forma, pela primeira vez vai haver uma terceira bancada na Assembleia e isso só pode ser positivo, apesar do peso enorme que será a presença de 192 deputados da Frelimo, com força para fazer e desfazer a seu bel prazer.
Para Simango e o seu partido os próximos 5 anos podem ser anos de reforço e consolidação, anos em que procure ir mais além do que as cidades, seu principal centro de influência, penetrando nas áreas rurais. Anos de construção de uma capacidade ideológica e governativa que permita aparecerem, cada vez mais, como uma alternativa concreta e viável à dupla Frelimo-Renamo.
Mas ao longo desses 5 anos, Simango e o MDM também correm o risco de irem perdendo o ímpeto, deixando que os adversários os corroam através de ameaças e aliciamentos. Porque isso será, sem qualquer dúvida, tentado. Faz parte do jogo...
Para bem da democracia no nosso país espero que a primeira hipótese seja a que se irá concretizar.
Porque a democracia moçambicana só pode sobreviver com uma oposição forte e credível.
E a vitória esmagadora da Frelimo, por legítima que seja, pode ser esmagadora, principalmente, para a democracia.
(Machado da Graça, no Savana, citado em www.oficinadesociologia.blogspot.com)
Todas as artimanhas e distorções da lei a que os órgãos eleitorais nos sujeitaram, toda a utilização de meios do Estado para fins eleitorais, todos os actos de intimidação só vieram sujar uma vitória que, é bem claro agora, teria acontecido na mesma sem isso tudo.
Talvez não tivesse sido tão grande como foi, mas não sei. Porque as referidas trafulhices também fizeram com que muita gente, que teria votado Frelimo, acabasse por votar noutro partido qualquer.
No fundo, a equipa que, não tenho grandes dúvidas, esteve à frente de toda a série de truques sujos, acabou por ser mais prejudicial do que útil ao seu partido.
O que poderia ter sido uma vitória limpa acabou por o não ser.
De qualquer forma foi uma vitória significativa.
Mais uma vez a força dos números mostra que, com ou sem tropelias, a Frelimo teria ganho por uma maioria muito confortável. Que as tropelias não alteraram os resultados de forma a pôr em causa a legitimidade do futuro governo.
Em relação às declarações alarmantes do dirigente da Renamo e de outros militantes daquele partido não creio que o país tenha nada a temer.
Os tempos, em termos regionais, são muito diferentes daqueles em que Dlakama e os seus homens fizeram a guerra contra o governo.
Neste momento já não existem a Rodésia de Ian Smith, o Malawi de Hastings Banda nem a África do Sul do apartheid para apoiar os combatentes da Renamo com todo o tipo de equipamento militar e logístico. Já não há fronteiras simpáticas onde podessem encontrar abrigo.
Se os homens da Renamo enveredarem pelo caminho da violência, talvez estejam a fazer o maior dos favores ao governo da Frelimo que, com esse pretexto, poderá aniquilar de uma vez por todas a pequena capacidade militar de Dlakama.
Os antigos guerrilheiros da Perdiz estão hoje barrigudos e instalados. Não serão eles quem vai, de novo, para o mato. E novos recrutas parecem difíceis de encontrar, se avaliarmos pelos próprios resultados eleitorais em zonas que foram, anteriormente, baluartes da Renamo.
Por este lado, não creio que haja razão para sustos.
Tudo isto não quer dizer, no entanto, que a Renamo não possa ter razão nas acusações que faz de fraudes várias no processo...
Por fim temos o fenómeno MDM e Davis Simango.
Saídos do nada, há cerca de 6 meses, apareceram nestas eleições como a terceira força política, sem margem para dúvidas. Se as contas do Joe Hanlon estiverem certas, o MDM vai ter 8 deputados na nova Assembleia da República e teria 17 se lhe tivessem permitido concorrer em todos os círculos eleitorais.
De qualquer forma, pela primeira vez vai haver uma terceira bancada na Assembleia e isso só pode ser positivo, apesar do peso enorme que será a presença de 192 deputados da Frelimo, com força para fazer e desfazer a seu bel prazer.
Para Simango e o seu partido os próximos 5 anos podem ser anos de reforço e consolidação, anos em que procure ir mais além do que as cidades, seu principal centro de influência, penetrando nas áreas rurais. Anos de construção de uma capacidade ideológica e governativa que permita aparecerem, cada vez mais, como uma alternativa concreta e viável à dupla Frelimo-Renamo.
Mas ao longo desses 5 anos, Simango e o MDM também correm o risco de irem perdendo o ímpeto, deixando que os adversários os corroam através de ameaças e aliciamentos. Porque isso será, sem qualquer dúvida, tentado. Faz parte do jogo...
Para bem da democracia no nosso país espero que a primeira hipótese seja a que se irá concretizar.
Porque a democracia moçambicana só pode sobreviver com uma oposição forte e credível.
E a vitória esmagadora da Frelimo, por legítima que seja, pode ser esmagadora, principalmente, para a democracia.
(Machado da Graça, no Savana, citado em www.oficinadesociologia.blogspot.com)
Adoro o Machado da Graca
ReplyDeleteIlustre, concordemos ou não, o Machado da Graça escreve muito bem e distingue-se pela lucidez.
ReplyDeleteDevemos reflectir profundamente nestas palavras:
"O que poderia ter sido uma vitória limpa acabou por o não ser.
Porque a democracia moçambicana só pode sobreviver com uma oposição forte e credível.
E a vitória esmagadora da Frelimo, por legítima que seja, pode ser esmagadora, principalmente, para a democracia."
Um abraço!