Sunday, 22 November 2009

Da blogue linguagem à neobritanização da sociedade

Os efeitos da globalização são aterradores. Sobretudo numa sociedade como a nossa, que não tem criadas estratégias de filtragem, o chamado efeito peneira, dos efeitos nefastos e perniciosos, preferindo-os aos socialmente benéficos e sadios. Vai daí que temos uma sociedade a caminhar célere para a desestruturação, que se reflecte na evidente falta de identidade dos moçambicanos. Infelizmente, importamos construções alheias e forçamos a sua incorporação na nossa sociedade. Entendemos que o melhor vem de fora. Abrimos um boteco qualquer de venda de bugigangas e damos-lhe o pomposo nome de souvernir`s place.
Na senda do empreendedorismo abrimos um senta-baixo onde vamos vender hambúrgueres e teremos vozearia às sextas e sábados de bebedores-mor de cerveja a copo e estampamos orgulhosos o nome: take away and fast food. A cidade está infestada de nacionais empreendedores que se dedicam ao import and export de… fardos de roupa usada, num contentor meio caquéctico encontramos um front office para fotocópias, outros ainda britanizam as suas companies and enterprises de… gelinhos, pasme-se! Acredito mesmo que muitos nem sequer sabem o significado do nome por eles mesmos estampado. Que razões levam a esta aculturação, ou, se quisermos, a esta brutal (neo) britanização da nossa sociedade? Por que razão nos aculturamos para nos inculturarmos? É evidente que esta situação tem efeitos, nefastos, sublinhe-se, sobre a cultura do nosso país, especialmente num país pobre, como o nosso, onde os contrastes sociais são ainda mais perceptíveis. Se calhar podemos considerar que tal aculturação resulta também de uma espécie de conformidade e adaptação. Em função da exigência de competitividade, cada um se vê como adversário dos outros e pretende lutar pela manutenção da sua sobrevivência.
Repare-se no espírito de sobrevivência evidenciado na linguagem dos blogues. Todos nós hoje não vivemos sem e-mail e web sites. Os nossos filhos são internautas e cibernautas assumidos, usam linguagem e conceitos influenciados pelos blogspot, fazem links e actualizam os seus reportórios musicais fazendo downloads, tudo isso longe dos olhares críticos dos pais. Aos dez anos os putos, que deviam estar balouçando e futebolando num parque infantil, vivem grudados em síties duvidosos de onde saem com os olhos arregalados e com as mentes perversas e corrompidas. Aliás, quem não tem sotaque bloguista sente-se à deriva, à margem do estilo e experimenta os olhares críticos da sociedade. Não está na moda. Daí que para a nossa própria sobrevalorização, pragmatismo, eficiência e até mesmo estilo para o acesso ao mercado do trabalho britanizamos o português e passamos a participar em workshops e meetings ao invés de reuniões, vamos ao office em vez de escritório e apanhamos o bus que nos levará ao nosso place, de onde depois sairemos para umas beers e para fazer uns connections com uns brothers. Os sorry, Tank you, feeling, nice, job, coach, round e quejandos já estão fossilizados no léxico nacional, nalgumas vezes até usados em textos administrativos e protocolares. E quase sempre nem damos conta da sua estrangeirice.
Pensamos globalmente para agir localmente. Com todas as consequências que isso pode trazer.
Se a imagem das futuras gerações será fragmentada ou mais homogeneizada não sei, mas a possibilidade de uma crescente desumanização da nossa sociedade é muito grande.

nice!
Ciao

* Leonel Magaia - leoabranches@yahoo.com.br, Notícias 19/11/09

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