Editorial: Há causa
Maputo (Canalmoz) - Catorze (14) milhões de dólares americanos é uma estimativa muito limitada – muito limitada mesmo – que se faz do que tem estado a gastar, por ano, o presidente da Frelimo Armando Guebuza, nas suas “Presidências Abertas”, para pagar helicópteros, e toda a logística dos parasitas do sistema, obviamente sem contabilizar-se todos os outros meios do Estado usados. Só de helicópteros e pouco mais estima-se uma despesa acumulada de cerca de 70 milhões de dólares, em cinco anos. Esta estimativa vem de fontes da Sociedade Civil atentas a estes gastos.
Mais ainda: cerca de 3 milhões de USD estima-se que estejam a custar os helicópteros que estão a ser utilizados para esta campanha da Frelimo. Sairão das comissões do que, durante o quinquénio que está a terminar, o Estado pagou à companhia Helicópteros Capital? São vários helicópteros. Seis (6) pelo menos. Fazem um espectáculo imenso para o qual também estarão a contribuir as gasolineiras que estão a suportar o deficit dos preços dos combustíveis aos consumidores, nessa outra grande burla orçamental que um grupo de cidadãos irresponsáveis e sedentos de se perpetuarem no Poder, montaram para enganar os moçambicanos, enquanto durarem as eleições, para depois nos trazerem a factura que certamente nos vai doer bem nos bolsos, a partir de 2010.
Podemos avaliar os números referentes aos gastos com aluguer de helicópteros, de várias maneiras. Há quem já tem a barriga cheia e por isso terá a tendência de ir pela via política, dizendo que esta despesa enorme com helicópteros é um investimento que permite um contacto directo da população pobre com “o Presidente”. Muitos desses são aqueles que beneficiam das comissões e de toda a negociata em volta dos helicópteros. Mas de facto é muito dinheiro que faz falta ao dito combate à pobreza absoluta.
Nós somos daqueles para quem esse dinheiro são “quantias irrisórias”, terminologia que já um dia ouvimos dizer a um “jovem empresário de sucesso”, no julgamento do Caso Carlos Cardoso, o jornalista assassinado por ordem de mandates ainda não julgados.
Somos daqueles que queremos abertamente, sem rodeios, dizer basta a este esbanjamento que tanta felicidade podia proporcionar a quem tem a dupla e fatídica sina de ser mesmo pobre e estar simultaneamente a ter de ouvir, quem esbanja, a dizer que está a combater a pobreza absoluta.
Nós nunca estivemos, não estamos, nem queremos estar aqui a puxar sacos. Por isso dizemos abertamente: quem anda a esbanjar dinheiro desta maneira está a enganar os moçambicanos quando diz que tem no seu programa o ideal de combater a pobreza absoluta.
Não pode ser verdade alguém dizer que quer combater a pobreza absoluta e gastar ao mesmo tempo, em helicópteros e cortejos, milhões de dólares dos nossos impostos e dos impostos dos Povos pobres de países do Grupo dos 19 que sustenta, pelo menos 55% do Orçamento Geral do Estado de Moçambique.
Nós recusamo-nos a ser cúmplices desta vergonha.
Quem combate mesmo a pobreza absoluta faz contas e 70 milhões de dólares é um valor inadmissível para ser “mamado” desta maneira hipócrita.
Quem combate de facto a pobreza absoluta não gasta dinheiro desta maneira. E quem quer mesmo saber onde há miséria absoluta, não anda de helicóptero. Anda no terreno, anda inclusivamente a pé, anda por forma a sentir in loco os problemas dos pobres. Sobretudo não se esquece de onde veio e o quanto o ofendia a “riqueza absoluta” dos “colonialistas”.
De helicóptero anda quem quer estar longe das realidades e perto da teta leiteira dos cofres do Estado, “a chupar o sangue fresco da manada”.
Esta maneira hipócrita de nos falarem da pobreza que só vêem do alto, de helicóptero, faz-nos lembrar a história, ensinada nas escolas primárias após a Independência de Moçambique, do pai que comia cinzas para que os filhos não exigissem muito. Mais tarde os filhos descobriram que o pai nesse período de fome, afinal não comia cinzas, mas chupava mel.
Agora estamos perante um cenário parecido em que o presidente Guebuza e “a Esposa do Chefe de Estado” fingem chorar a miséria que os rodeia, mas ofendem, dia-a-dia, com gastos exorbitantes e inadmissíveis, essa mesma camada de moçambicanos que tantos dias nem sequer um pedaço de pão têm para enganar o estômago.
O que andam a gastar para irem dizer ao Povo que querem continuar a combater a miséria absoluta, seria suficiente para manter, com um rendimento mínimo nacional de 1.600,00 MT/mês, cento e cinco mil, setecentos e vinte e nove moçambicanos (115726), durante 12 meses. Com esse rendimento mínimo garantido, os beneficiários, cada um certamente saberia o que fazer para reproduzir esses valores e construir a sua própria riqueza sem ter de continuar pobre a ouvir quem diz combater a pobreza, ofendê-los com exibicionismos que nem os presidentes dos Países que ajudam Moçambique têm o descaramento de praticar.
Com este dinheiro quantas casas para jovens ou bancas para tirar os informais das ruas, ou postos de saúde, ou machimbombos se poderiam construir ou comprar? Quantas bolsas de estudo ou médicos poderiam ser contratados para que os moçambicanos não morressem enquanto outros estudavam? Quantas coisas poderiam ter sido feitas para o bem de Moçambique, e não apenas de um pequeno grupo a nível da actual Presidência da República, se o dinheiro gasto em helicópteros fosse bem gerido e gasto em coisas realmente úteis para o Povo?
Quem assim se comporta, será mesmo verdade que quer combater “a pobreza” e a “pobreza absoluta”?
Quem assim se comporta é mesmo republicano e socialista? Será que algum dia o foi ou só andou esperando a morte de Samora para exibir a sua verdadeira face?
Com estes gastos exorbitantes com os seis (6) helicópteros, que dirá a FDC da Senhora Graça Machel, esposa de Mandela? Não vê que quando anda a reunir-se em segredo com o presidente da CNE, João Leopoldo da Costa, para ajudar a transformar estas eleições uma burla, está apenas a tentar amaciar a ditadura, e a pôr “nívea” na burla que se preparou? O dinheiro dos helicópteros não seria melhor empregue em projectos de desenvolvimento comunitário?
E ainda aos representantes dos doadores. Quanto dos impostos dos pobres dos Vossos Países vai ter de continuar a alimentar esta ostentação “helicopteriana” dos desavergonhados que insistem em esbanjar dinheiro ao mesmo tempo que ofendem a miséria? Quanto tempo mais os Senhores vão permitir-se enganar os dignos Povos dos vossos Países aceitando que o dinheiro suado por eles continue a alimentar despesistas, chulos e burladores de eleições, nesta “dita democracia” em Moçambique?
Pobres povos que se sacrificam por nós moçambicanos!
Perante isto: que fazer? – A resposta é simples. É irmos massivamente às urnas votar e votar bem para acabarmos com estes abusos e esta maneira de gerir o erário público.
Votando, cada cidadão pode ajudar a acabar com estes parasitas, chulos e burladores do Povo Moçambicano e dos Povos irmãos e amigos de Moçambique.
O voto de cada um tem mais utilidade do que se pensa. Votar consciente é um imperativo nacional.
(CANALMOZ, 15/10/09)
Isto é o que chamo de ostentação pornográfica!
ReplyDeleteNum país onde a maior parte da população vive expressões dramáticas de falta de alimento e entre outras necessidades básicas, é inaceitável que um cidadão, mesmo que seja o presidente da república, se dê ao luxo de torrar quantias exorbitantes de dinheiro em futilidade.
É estranho, ou pior, repugnante quando ouvimos, uma vez e outra, que o país não tem dinheiro para isto e aquilo, mas quando se trata de assuntos relacionados com as supostas viagens presidências ou de trabalho, o cofre do Estado é escancarado para satisfazer caprichos de um empresário.
Este esbanjamento obsceno já não nos surpreende, mas o que revolta mesmo são as tentativas de justificarem esta pouca vergonha.
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