Friday, 2 October 2009

A estratégia da desinformação


Nestes dias de campanha eleitoral torna-se evidente e põe-se na prática a teoria maquiavélica de que os fins justificam os meios. Incluindo a desinformação.
E no capítulo da desinformação, nós na imprensa acabamos sendo vítimas. Vítimas tanto como portadores de mensagens subversivas emanadas de interesses ocultos, como também alvos dessas mesmas mensagens. É nestes momentos onde se não os temos, os inimigos têm que ser inventados, porque é preciso ter inimigos. Inimigos que servirão de bodes expiratórios para justificar os nossos fracassos, para alimentar as nossas visões de curto alcance.
A divergência nos nossos pontos de vista tem que ser posta de lado porque ao mais pequeno desentendimento, o rótulo já está feito e pronto para ser exibido. Órgãos de comunicação social e jornalistas que ousam exprimir um pensamento crítico, criticar o que consideram de errado e de injusto, são demonizados e projectados como lacaios ao serviço de interesses estrangeiros cujo objectivo é desacreditar as instituições moçambicanas, e desse modo provocar o caos e a desestabilização do país. Não se acredita na capacidade dos moçambicanos de pensarem independentemente, mesmo que os pontos de vista que defendem estejam errados. Tem que estar sempre um “diplomata zangado” por detrás de qualquer pensamento divergente. Este é o nível de análise que se produz em certos laboratórios de ideologias retrógradas, análises que depois são inadvertidamente enfiados como artigos de “opinião” em jornais de créditos firmados. Tomam-nos como tolos, como pessoas que não têm massa cinzenta, que não sabem o que querem. Que parvoíce!
Sob capa de pseudónimos vão atirando farpas a todo quanto imaginam ser seu inimigo. Se os seus alvos se identificam claramente, porque recorrer a pseudónimos para entrar na arena do debate de questões que
são do interesse público? Será que se sentem embaraçados de se identificarem com os pontos de vista que pontificam. Nós não usamos pseudónimos para comunicar o nosso pensamento, porque fazêmo-lo de forma honesta.
Felizmente para o nosso bem, neste semanário que sai às sextas- feiras, orgulhamo-nos de não depender da influência de qualquer chancelaria ou diplomata para emitir os pontos de vista que defendemos. Acreditamos que somos moçambicanos e que temos a obrigação de, de forma livre e honesta, nos pronunciarmos sobre todos os aspectos da vida deste país. É por isso que no dia 28 de Outubro estaremos orgulhosamente perfilados nos nossos respectivos postos de votação para decidir sobre quem nos deve governar, e possivelmente com coincidência de opção para com aqueles que hoje nos olham e nos tratam com o maior desdém e ódio.
Repetimos, para que bem nos oiçam. Somos moçambicanos, e não recebemos nenhuma ordem, seja qual for a sua proveniência, para defender interesses que visem criar a instabilidade neste país. Devemos obediência à Constituição da República, às instituições e símbolos desta grande nação, inspirados que somos, na passagem do nosso Hino Nacional que diz que “nenhum tirano nos irá escravizar”.
É por isso que nos sentimos na legitimidade e obrigação de nos pronunciarmos sobre o actual processo eleitoral, mantendo-nos firmes na nossa convicção de que a Comissão Nacional de Eleições (CNE) não teve a visão estratégica de olhar para o alcance político do seu trabalho, tendo se agarrado apenas, e de forma escrava, à lei. O que a CNE nunca entendeu foi que as leis são feitas por políticos, e que elas visam atingir objectivos políticos, através da codificação das normas de vivência numa sociedade heterogénea e democrática. Elas não são um fim em si.
Nisso, não temos a mínima dúvida de que a CNE falhou redondamente, mesmo que em sua defesa agite desesperadamente a bandeira da lei.
Se tudo o que aconteceu foi propositado ou não, é matéria para especulação. Mas notem, caros leitores, o apoio e simpatia que ela (a CNE), como árbitro, tem estado a receber por parte de um dos protagonistas num processo onde a sua imparcialidade deve ser a sua maior virtude.

( Editorial do Savana, 02/10/09, citado em www.oficinadesociologia.blogspot.com )

1 comment:

  1. Uma farsa completa, um daqueles filmes em que nos apetece desligar a televisão antes de vomitarmos ou nos sentirmos mal. A CNE deveria de ser imediatamente saneada, eles sabem muito bem o que fazem, porque o fazem e a mando de quem o fazem... Os mesmos patrões que os puseram no poleiro e os promoveram a postos ou categorias jamais vistas, podem pô-los na rua a 'toque de caixa'. Eles sabem a quem devem prestar vassalagem.
    Maria Helena

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