Wednesday, 2 September 2009

Da cidadania diaspórica ao nacionalismo bacoco (2)

Agora vos apresento três exemplos-trechos do que apelido de nacionalismo bacoco.Sabino Matsinhe e Júlio Mutisse, depois de terem lido o meu artigo intitulado “direito à residência: um panfleto constitucional ilusório?”, publicado e comentado aqui http://comunidademocambicana.blogspot.com/2009/07/direito-residencia-um-panfleto.html, escrevem o seguinte ao bloguista Reflectindo:
1. Júlio Mutisse disse... “O que questionaria ao Josué Bila que está no Brasil que experiências pode nos dar da realização deste desiderato a partir do ponto onde observa o país. É que, é muitas vezes fácil lançar estas coisas de LÁ FORA, do que olhar a volta onde estamos e, com base nas experiências desse local, sugerirmos caminhos possíveis pra o nosso país.Reflectindo, sei que é um homem viajado e preocupado com o país, dentro da conjuntura conhecida, inclusive com ameaças de doadores de diminuírem a ajuda ao país (ajuda de que o país continua a depender em grande medida), que alternativas ou condições julga existirem para que o país ponha em prática uma política de habitação? E ao pôr em prática essa política, o que é que se deve sacrificar: a saúde? a educação? (que são as prioridades)”.
2. Sabino Matsinhe disse: “Reflectindo, o ideal de habitação digna que pinta no seu texto julga ser susceptível de atingir em Moçambique ou em África hoje? Não estará a confundir Moçambique e África com o país nórdico onde vive?Pensa que os "cidadãos" moçambicanos pagam suficiente imposto para capacitar o "seu" Estado a cumprir o "sonho" que Reflectindo tão magistralmente pinta?Isto é o que dá viver fora do país sem ligações profundas com a pátria... Começã-se a fazer exigências incomportáveis para o país real.Iremos lá chegar, caro Reflectindo. Só que não nesta nossa geração. E não será por causa dos que "estão no poder", como Maria Helena sugere. Este país tem distorções estruturais que não serão resolvidas com mera demagogia”.
Leiam também o que Arão Valoi escreve aqui http://br.dir.groups.yahoo.com/group/mocambiqueonline/message/11181, respondendo a um meu artigo, que o escrevi e publicado dentro de Moçambique, no jornal ZAMBEZE, Dhnet e blog de Milton Machel, intitulado “Do jornalismo provinciano e faz-tudo ao jornalismo responsável”. Um trecho que me interessa, para este propósito, é este:
3. “O Josué acabou "refugiando- se" ao Brasil, donde começa a mandar estas bombas, justamente porque viu que cá os problemas eram enormes e se calhar o mais correcto, como não entendesse a sua própria realidade, fosse deixar”.
Como muito bem disse, o referido texto publiquei-o em Moçambique, antes de vir ao Brasil, pela segunda vez consecutiva; porém, releiam para perceber a interpretação que se dá quando supostamente um texto foi escrito na diáspora.

Fechando, mas abrindo...
Infelizmente, não raras vezes, o nacionalismo bacoco satiriza e ridiculariza determinadas formas de pensar por somente o debate vir da diáspora. Se a cidadania diaspórica exige do Estado o direito à habitação condigna e outros direitos, por exemplo, para que os moçambicanos vivam dentro de “mínimos direitos”, então, a proposta e a indagação são revolvidas negativamente, deixando-se a oportunidade de debater expositiva e intelectualmente, com argumentos cívicos e filosóficos, fazedores da elegância da esfera pública.
Apesar do fechamento do nacionalismo bacoco em debater o que a cidadania diaspórica propõe, esta, entretanto, deve debater continuamente, em nome de justiça social e direitos humanos, e lutar para que a “República Moral”, sonhada por Emmanuel de Kant, seja o alvo de todos os moçambicanos de, em e para Moçambique, independentemente de viverem fora dele ou não.

P.S. 1- Permitam-me terminar à moda do camarada, intelectual e ideólogo da FRELIMO, Sérgio Vieira: um abraço aos democratas!
2 - Nutro um grande respeito e consideração pela cidadania de idéias de Mutisse e Valói. Sei que ao responderem estas minhas indignações racionais, poderão esboçar bons argumentos. Quanto a Matsinhe nada posso dizer; desconheço a sua matriz racional.

( Josué Bila, em www.bantulandia.blogspot.com )

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