Wednesday, 2 September 2009

Com o Trunfo na Mão?


O repetitivo filme de fuga e captura de um dos responsáveis pelo desaparecimento físico do jornalista Carlos Cardoso cansa até aqueles que com muito afinco cultivam uma serenidade mais esmerada que a de um bovino cansado.

Alguns, provavelmente, vaticinaram que esse mais mediático cadastrado seria recapturado por estas alturas e acertaram. A base dessa previsão avançada prendia-se com o facto de não ser “politicamente ético” apanhar o mecânico antes do último informe do PR, pois o mais provável é que isso, a acontecer, poderia despoletar alguns impactos nada agradáveis para determinada classe política preocupada com a afinação da máquina governativa. Esta hipótese só pode ser verdadeira aos olhos do diabo! Mas, para que seja de facto verdadeira seria necessário organizar um fórum próprio para se assumir por maioria o que é o diabo entre nós.

A parte mais visível, fugindo do mundo das hipóteses, é que houve trabalho no sentido de recapturar tal indivíduo. A Interpol teve o seu mérito. Mas, a acreditar na peça passada por um dos canais televisivos, nos dias 25 e 26, relacionada com os telefonemas feitos pelo indivíduo recapturado dá para perceber que o mesmo arquitectou todo este sucesso policial. Será?

Uma outra leitura, provavelmente mais rasante, é que tudo isso não foi mais do que parte do show teatral. Um show que pode ser um bom trunfo político para a campanha que se avizinha. Nesta ordem de ideias, o importante é saber quem poderá ganhar politicamente com este trunfo. Algum partido político ou candidato às presidenciais tem interesse neste trunfo? Poderá este facto constituir-se em si como trunfo político?

Tudo dependerá da estratégia de cada um. Coloquemos de seguida três dos potenciais interessados. Nestes os candidatos às presidenciais serão tratados como um, dois e três e os partidos como A, B, C e outros. Um corresponde a A, dois a B, três a C, e etc.

Interessado um: será que o candidato um e seu partido poderão usar esta recaptura como trunfo político para as eleições que se avizinham? Ao que parece ele e os seus têm pautado por uma postura de quem percebe a paisagem política como local em que não se fere e nem se sai ferido. Não tratam a paisagem por tu. Pisam-na pensando que é um tapete macio. Provavelmente não usarão isso como um dos pontos da sua campanha por achar algo mesquinho.

Interessado dois: o cachimbo pode parecer algo ligado à arrogância de determinada classe social. Abandoná-lo em benefício de uma imagem próxima da realidade sócio-cultural moçambicana já foi um bom progresso político. Este e os seus têm provavelmente duas opções: não usar essa recaptura para efeitos políticos para evitar suspeições e más interpretações, o que a acontecer não deixaria de ser uma nódoa política com impacto negativo na imagem em geral. A segunda opção seria a de mostrar que se empenharam nessa recaptura pois, o objectivo era pegar nos vários animais com rabos escondidos por fora e apresentá-los aos olhos de todos. Boa campanha seria esta para fazer vibrar as “massas frias” sedentas de homens com power! Fariam aquilo que se quer que se faça!

Interessado três: pode capitalizar esta questão da vibração forçando a segunda opção do “interessado dois” bastando para tal colocar como nata um discurso inflamado de acusações relativamente ao mau funcionamento governamental, em particular, nos ministérios do Interior e da Justiça. A recaptura em si seria parte da amostra de um grande trunfo a usar. Falariam aquilo que se quer que se fale!

Cá entre nós: o trunfo pode estar nas mãos dos candidatos e ou dos seus partidos, porém, mais do que isso, o trunfo está nas mãos de cada cidadão. Continuar a manter a serenidade de um bovino resignado em contemplar preguiçosamente a paisagem política sem se preocupar com o incómodo de moscas famintas é um comportamento que não deve continuar a servir de modelo a quem quer que seja, sobretudo aos mais jovens.

( Luís Guevane, no Savana de 28/08/09, citado em www.macua.blogs.com .)

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