Thursday, 27 August 2009

Anibalzinho desacredita serviços do Estado moçambicano

A Polícia acabou por confirmar quase toda a informação que vinha sendo avançada pela imprensa, dando conta da recaptura de Anibalzinho. Justifica que mentiu para “garantir a segurança durante a transferência do criminoso da Pretória para Maputo”. Mas a leitura que o público está agora a fazer da atitude das autoridades é bem diferente. A vox-popoli entende que as autoridades agiram como agiram, mentindo, porque queriam eliminar Anibal dos Santos Júnior, no caminho entre Pretoria e Maputo.

Maputo (Canalmoz) – Se as três “fugas” que empreendeu dos calabouços (uma das quais a partir da dita cadeia de “máxima segurança” do País, conhecida por B.O, na Machava) já puseram em dúvida à seriedade do Estado moçambicano por todas as circunstâncias em que se deram levarem antes a concluir que foi tirado, como aliás ele próprio tem dito, desta vez, Anibalzinho provou, em definitivo, que o crime organizado se sobrepõe ao poder executivo do Estado e está intimamente relacionado com um Estado infectado.
O mediático criminoso, condenado a mais de 29 anos de prisão pelo assassínio do jornalista Carlos Cardoso, pôs em causa, mais uma vez, a seriedade dos serviços do Estado, falsificando a mais recente carta de condução, electronicamente produzida, e criada com tão fortes dispositivos de segurança. Esta “carta electrónica”, tipo cartão de crédito, quando se iniciou o seu uso corrente, foi apresentada como praticamente impossível de ser sujeita a contrafacção. Mas Anibal dos Santos Júnior tinha em seu poder uma com outro nome. E tinha também consigo um passaporte moçambicano, verdadeiro, mas com nome falso, o mesmo da carta.
Na conferência de imprensa em que ontem se falou da recaptura de Anibalzinho, a Polícia exibiu aos jornalistas, um passaporte moçambicano com o número T 024559, e uma carta de condução, também nacional, com o número 6542651/2/1, ambos com fotografias de Aníbal dos Santos Júnior (Anibalzinho), mas ostentando o nome: Maurício Alexandre Mhula. Os dois documentos, conforme o Canalmoz pôde testemunhar, foram emitidos em datas anteriores ao da fuga de Anibalzinho de Maputo, o que reforça a convicção que sempre prevaleceu, isto é, que Anibalzinho foi sempre tirado dos cárceres e nunca fugiu propriamente.
Sobre o passaporte, o inspector policial, e porta-voz do Comando Geral da PRM, Pedro Cossa, conseguiu argumentar com alguma consistência que a foto do criminoso foi sobreposta ao documento que vem registado em nome de Maurício Mhula. Mas em relação à carta de condução electrónica, não há nada que prove que a mesma não foi produzida pelo Instituto Nacional de Viação, com o conhecimento de que a mesma se destinava a Anibalzinho.
Fora a hipótese de que a carta de condução encontrada com Anibalzinho ter sido passada pelo INAV, como agora se procura alegar, é mais grave ainda, saber-se que o que era dado como livre de contrafacção, afinal, é falsificável. Se existe alguém que consegue falsificar este tipo de documento, imitando perfeitamente as marcas de segurança que contém – os símbolos do Estado e até a assinatura do próprio director da instituição que emite cartas de condução nacionais, o INAV – o assunto torna-se bem mais preocupante do que em si já é.
Na breve avaliação conjunta entre os mais de 30 jornalistas presentes na sala em que decorreu a conferência de imprensa, estando também presentes alguns elementos da polícia, não se notou nenhuma marca de falsidade da carta de condução de Anibalzinho, a não ser a disparidade entre o nome e a fotografia.
Alegar-se agora que os funcionários do INAV passaram a carta de condução de Anibalzinho, e o respectivo director a assinou, sem, no entanto, conseguirem identificar a fotografia de Anibalzinho, é inaceitável e ridículo.
Ao mais alto nivelo INAV é dirigido por “antigos combatentes” e veteranos da Polícia. Até provas contrárias, resta assumir que o crime organizado está fortemente penetrado nos serviços do Estado, desacreditando-o perante os cidadãos moçambicanos e perante o mundo.

Polícia confirma informação que Imprensa avançára

Pedro Cossa confirmou, em grande parte, as notícias que já vinham sendo avançadas pela imprensa, incluindo as nossas publicações, Canalmoz (diário) e Canal de Moçambique (semanário), referentes à recaptura de Anibal dos Santos Júnior.
Disse que Anibalzinho foi recapturado por volta de 19 horas do dia 21 de Agosto, em Joanesburgo, na África do Sul. Disse ainda que enquanto aguardava pela transferência para Maputo, o cadastrado estava encarcerado em Pretória, sem no entanto se referir ao nome do estabelecimento prisional onde se encontrava.
Foi exactamente o que o Canalmoz escreveu na sua edição do dia 24 de Agosto, bem como escreveu o Canal de Moçambique, na edição desta quinta-feira 27 de Agosto, mas que saiu à rua no dia 26, portanto, antes da confirmação da polícia.

Polícia mentiu para garantir segurança

Sobre os motivos que levaram a Polícia a recorrer a mentiras, confundindo a opinião pública e tentando remeter a Imprensa ao descrédito, quando esta avançou com as notícias da recaptura de Anibalzinho que até o próprio comandante-geral Jorge Khaláu se recusou a confirmar ou desmentir, o porta-voz do Comando Geral da PRM disse que a Polícia queria garantir a segurança do criminoso, até retornar às celas do comando da Polícia, donde se evadira no dia 7 de Dezembro do ano passado, ou saíra, como o próprio Anibalzinho afirmou: “fugir e sair não é a mesma coisa.

Duvidem da Polícia se quiserem

Ao porta-voz do Comando Geral da PRM questionámos se a forma como a Polícia e os diferentes membros do Governo geriram este assunto, optando pela mentira, não iria fazer os cidadãos duvidar de pronunciamentos futuros das autoridades, em eventuais casos análogos ou outros, sem evasivas, Pedro Cossa respondeu: “duvidem das declarações da Polícia, se quiserem, mas não podíamos pôr em causa a segurança. Não sei em que Estado do mundo a Polícia teria confirmado que sim, de facto Anibalzinho foi recapturado!”, disse.

Não vai fugir

Pedro Cossa diz não saber ainda, qual será o encaminhamento final de Anibalzinho, se irá permanecer nas celas do comando da PRM na cidade de Maputo, ou se será transferido para uma outra penitenciária. No entanto, garantiu que enquanto se estuda aonde será encarcerado agora este cadastrado, “das celas do comando da PRM não se irá escapulir”. Porém, não disse que medidas extraordinárias de segurança estarão instaladas no local, para dar tanta garantia. As mesmas garantias foram dadas antes e Anilbalzinho já se saiu três vezes sem ordem oficial de soltura. O porta-voz alega tratar-se de questões de segurança, pelo que se esquivou a revelá-las.


“Não se entregou”


Sobre a hipótese avançada por alguma imprensa, de que Anibalzinho se teria entregue nas mãos da Polícia, Pedro Cossa refutou redondamente, sustentando que a recaptura do assassino de Carlos Cardoso “foi o culminar de um trabalho da INTERPOL, que há cerca de um mês, teve os primeiros sinais da localização de Anibalzinho, na cidade de Joanesburgo, o que levou a uma maior aproximação do fugitivo, por parte das polícias da África do Sul e de Moçambique”.
Anibalzinho evadira-se das celas do comando da PRM na cidade de Maputo, a 7 de Dezembro de 2008, acompanhado por dois comparsas seus, nomeadamente Luís de Jesus Samuel Tomás (Todinho), que veio a ser abatido pela Polícia a 9 de Janeiro do presente ano, algures no município da Matola, e Samuel Januário Nhare (Samito), que foi recapturado pela Polícia a 23 do mesmo mês, em Caia, na província de Sofala.


(Borges Nhamirre, CANALMOZ, 27/08/09)

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