MAPUTO – Alguns membros da Frelimo e Renamo, em Gorongosa, na província central de Sofala, dão conta do uso indevido, por parte do partido no poder, dos recursos do Estado, como dinheiro e viaturas, para aliciar membros da “Perdiz” a filiarem-se à Frelimo, nas zonas, outrora, baluartes do partido de Afonso Dhlakama.
João Fundisse, membro da Frelimo, da Organização da Juventude Moçambicana, OJM, e beneficiário do Orçamento de Investimento de Iniciativas Locais, OIIL, em Vanduzi, Sofala, conta que “normalmente, para fazermos o nosso trabalho de mobilização política, em zonas distantes da sede do posto administrativo, vamos com os funcionários dos serviços da Agricultura. O posto administrativo organiza mantimentos para levarmos, em geral, um saco de arroz, para os dias que vamos passar a fazer o trabalho do partido”.
“Os funcionários da Agricultura levam-nos de carro e deixam-nos, nas localidades, onde ficamos a fazer o nosso trabalho partidário, enquanto eles fazem o trabalho deles”, conta a fonte, acrescentando que “ficamos dois, três, quatro dias, uma semana, e, depois, os mesmos funcionários da Agricultura
passam a recolher-nos. É assim que conseguimos atingir as localidades longínquas, implantamos a OJM e angariamos mais membros para o partido Frelimo, nas zonas, antigamente, sob maior influência da Renamo”.
Um antigo combatente e membro da Frelimo, residente, no posto administrativo de Vunduzi e mutuário
do OIIL, Moisés Massua, conta que “toda a gente, aqui, pertencia à Renamo. Quando acabou a guerra,
eu e a minha família viemos ficar aqui (vindo de Gorongosa). Construímos casa, mas, eu, como membro da Frelimo, era muito difícil fazer trabalho político. Nas eleições de 1994, não conseguimos fazer nada, mas, depois, as coisas começaram a mudar e, hoje, posso dizer queconseguimos libertar esta zona”.
Aliás, para as libertar, Frelimo utiliza os recursos do Estado, através da construção de alianças locais, numa
lógica de clientelismo, tal como mostra o caso de um antigo delegado da Renamo, que se converteu em secretário da célula do partido Frelimo, Marichera Gemusse.
“Nasci na localidade da Casa Banana. Tenho 50 anos e sempre vivi, aqui. Durante a guerra civil, fui uma pessoa importante para a Renamo. Eu mobilizava a população para apoiar os soldados da Renamo. Nunca fui soldado, mas a Renamo me respeitava muito. Quando a guerra terminou, em 1992, a Renamo disse para eu ser o delegado do partido, ao nível de todo o posto administrativo de Vunduzi”, conta Gemusse, acrescentando que “fiz muito trabalho, para a Renamo, em todas as campanhas eleitorais, desde 1994 até 2004. A Renamo, sempre, ganhou, aqui em Vunduzi, mas, todo esse trabalho que fiz não foi reconhecido, pela Renamo”.
Gemusse acrescenta que “a Renamo não me deu nada, nem sequer uma lapiseira, nem subsídio. Uma vez, quando fui pedir subsídio, para alimentar as minhas crianças, a Renamo disse-me que nada tinha. Como eu via que não ganhava nada, decidi sair da Renamo, em 2005. Fiquei um ano, sem fazer política. Em 2007, apresentei-me, à Frelimo. Quando veio a ministra, em 2007, aqui na Casa Banana, eu contei toda a minha história aos jornalistas e toda a gente aplaudiu. O administrador trouxe cinco litros de óleo, dois sacos de arroz para a minha família. Eu vi a diferença com a Renamo, daí, comecei a trabalhar para a Frelimo, a mobilizar as pessoas para se juntarem à Frelimo”.
“No ano passado, o próprio administrador convidou-me para ir fazer a campanha eleitoral, na vila de Gorongosa, em favor da Frelimo e seu candidato para as eleições, no município de Gorongosa. Eu fui e muita gente que me conheceu como delegado da Renamo, antigamente, ao verme a fazer campanha para a Frelimo, também, abandonou a Renamo e começou a fazer campanha para a Frelimo”, disse Gemusse.
De acordo com dados em poder do A TribunaFax, a fraca distinção entre as esferas estatal e partidária está, cada vez mais, na origem da maior penetração do partido no poder, Frelimo, em zonas, outrora, sob influência do partido Renamo, facto acompanhado pela implantação da burocracia administrativa, escolas, postos de saúde, entre outros serviços, em zonas onde o Estado esteve ausente, durante a guerra civil.
Ademais, estas revelações vêm juntar-se às constatações de Hanlon e Smart, na sua obra publicada, ano
passado, intitulada Há Mais Bicicletas. Mas há Desenvolvimento?, que dá conta que “a seguir às eleições de 2004, a Frelimo tratou de consolidar o seu poder e posição e a reduzir o espaço disponível, para a oposição. Há, agora, uma identificação mais próxima entre o aparelho de Estado e o partido predominante. Funcionários públicos e figuras da sociedade civil estão, agora, debaixo de pressão, para
se juntarem ao partido. (…) existem, cada vez mais, alegações de que é mais fácil obter licenças e empréstimos ou donativos do governo, sendo membro do partido”.
A progressão da Frelimo, nas zonas sob influência da Renamo, através do processo de implantação do Estado, é visível, a partir da evolução do voto no distrito de Gorongosa, por exemplo, particularmente, em Vunduzi, onde, nas eleições gerais, a Frelimo teve 18, 23 e 32 porcento, em 1994, 1999 e 2004, enquanto a Renamo arrecadou 63, 64, 54 porcento, o que mostra, portanto, a tendência de a Renamo perder membros,a favor da Frelimo, nas zonas, anteriormente, consideradas trincheiras da “Perdiz”.
João Fundisse, membro da Frelimo, da Organização da Juventude Moçambicana, OJM, e beneficiário do Orçamento de Investimento de Iniciativas Locais, OIIL, em Vanduzi, Sofala, conta que “normalmente, para fazermos o nosso trabalho de mobilização política, em zonas distantes da sede do posto administrativo, vamos com os funcionários dos serviços da Agricultura. O posto administrativo organiza mantimentos para levarmos, em geral, um saco de arroz, para os dias que vamos passar a fazer o trabalho do partido”.
“Os funcionários da Agricultura levam-nos de carro e deixam-nos, nas localidades, onde ficamos a fazer o nosso trabalho partidário, enquanto eles fazem o trabalho deles”, conta a fonte, acrescentando que “ficamos dois, três, quatro dias, uma semana, e, depois, os mesmos funcionários da Agricultura
passam a recolher-nos. É assim que conseguimos atingir as localidades longínquas, implantamos a OJM e angariamos mais membros para o partido Frelimo, nas zonas, antigamente, sob maior influência da Renamo”.
Um antigo combatente e membro da Frelimo, residente, no posto administrativo de Vunduzi e mutuário
do OIIL, Moisés Massua, conta que “toda a gente, aqui, pertencia à Renamo. Quando acabou a guerra,
eu e a minha família viemos ficar aqui (vindo de Gorongosa). Construímos casa, mas, eu, como membro da Frelimo, era muito difícil fazer trabalho político. Nas eleições de 1994, não conseguimos fazer nada, mas, depois, as coisas começaram a mudar e, hoje, posso dizer queconseguimos libertar esta zona”.
Aliás, para as libertar, Frelimo utiliza os recursos do Estado, através da construção de alianças locais, numa
lógica de clientelismo, tal como mostra o caso de um antigo delegado da Renamo, que se converteu em secretário da célula do partido Frelimo, Marichera Gemusse.
“Nasci na localidade da Casa Banana. Tenho 50 anos e sempre vivi, aqui. Durante a guerra civil, fui uma pessoa importante para a Renamo. Eu mobilizava a população para apoiar os soldados da Renamo. Nunca fui soldado, mas a Renamo me respeitava muito. Quando a guerra terminou, em 1992, a Renamo disse para eu ser o delegado do partido, ao nível de todo o posto administrativo de Vunduzi”, conta Gemusse, acrescentando que “fiz muito trabalho, para a Renamo, em todas as campanhas eleitorais, desde 1994 até 2004. A Renamo, sempre, ganhou, aqui em Vunduzi, mas, todo esse trabalho que fiz não foi reconhecido, pela Renamo”.
Gemusse acrescenta que “a Renamo não me deu nada, nem sequer uma lapiseira, nem subsídio. Uma vez, quando fui pedir subsídio, para alimentar as minhas crianças, a Renamo disse-me que nada tinha. Como eu via que não ganhava nada, decidi sair da Renamo, em 2005. Fiquei um ano, sem fazer política. Em 2007, apresentei-me, à Frelimo. Quando veio a ministra, em 2007, aqui na Casa Banana, eu contei toda a minha história aos jornalistas e toda a gente aplaudiu. O administrador trouxe cinco litros de óleo, dois sacos de arroz para a minha família. Eu vi a diferença com a Renamo, daí, comecei a trabalhar para a Frelimo, a mobilizar as pessoas para se juntarem à Frelimo”.
“No ano passado, o próprio administrador convidou-me para ir fazer a campanha eleitoral, na vila de Gorongosa, em favor da Frelimo e seu candidato para as eleições, no município de Gorongosa. Eu fui e muita gente que me conheceu como delegado da Renamo, antigamente, ao verme a fazer campanha para a Frelimo, também, abandonou a Renamo e começou a fazer campanha para a Frelimo”, disse Gemusse.
De acordo com dados em poder do A TribunaFax, a fraca distinção entre as esferas estatal e partidária está, cada vez mais, na origem da maior penetração do partido no poder, Frelimo, em zonas, outrora, sob influência do partido Renamo, facto acompanhado pela implantação da burocracia administrativa, escolas, postos de saúde, entre outros serviços, em zonas onde o Estado esteve ausente, durante a guerra civil.
Ademais, estas revelações vêm juntar-se às constatações de Hanlon e Smart, na sua obra publicada, ano
passado, intitulada Há Mais Bicicletas. Mas há Desenvolvimento?, que dá conta que “a seguir às eleições de 2004, a Frelimo tratou de consolidar o seu poder e posição e a reduzir o espaço disponível, para a oposição. Há, agora, uma identificação mais próxima entre o aparelho de Estado e o partido predominante. Funcionários públicos e figuras da sociedade civil estão, agora, debaixo de pressão, para
se juntarem ao partido. (…) existem, cada vez mais, alegações de que é mais fácil obter licenças e empréstimos ou donativos do governo, sendo membro do partido”.
A progressão da Frelimo, nas zonas sob influência da Renamo, através do processo de implantação do Estado, é visível, a partir da evolução do voto no distrito de Gorongosa, por exemplo, particularmente, em Vunduzi, onde, nas eleições gerais, a Frelimo teve 18, 23 e 32 porcento, em 1994, 1999 e 2004, enquanto a Renamo arrecadou 63, 64, 54 porcento, o que mostra, portanto, a tendência de a Renamo perder membros,a favor da Frelimo, nas zonas, anteriormente, consideradas trincheiras da “Perdiz”.
( ATribunaFax , 05/05/09 )
Há muitos que reclamam provas quando se fala de pressão e uso de meios públicos para angariacão de membros. Temos aqui ou não algumas provas? Ainda bem que se mencionam nomes.
ReplyDeleteProva evidente de que a Frelimo nao distingue entre Partido e Estado e vergonhosamente usa fundos publicos para aliciar pessoas.
ReplyDeleteUm verdadeiro escandalo!
Partido e Estado fazem parte de uma 'fusao' para a Frelimo. Que pouca vergonha! Ainda falam em democracia... Mocambique precisa urgentemente de uma oposicao credivel. Maria Helena
ReplyDeleteIsto perturba mesmo e faz perigar qualquer vestigio de democracia.
ReplyDeleteOs exemplos sao muitos mas os frelos preferem ignorar estas situacoes vergonhosas!