Monday, 20 April 2009

Um sismo chamado MDM

Para quem misturou arrogância e despeito no nascimento do MDM (Movimento Democrático de Moçambique), o partido fundado por Daviz Simango não pára de provocar uma sucessão de sarilhos aos seus opositores.
E a procissão ainda vai no adro.
Mesmo antes do pleito autárquico, foram ensaiadas várias tentativas para conseguir uma “vitória de secretaria” que levasse ao afastamento de Daviz, o que poria em causa, prematuramente, a formação do MDM.
Sem apelo nem agravo, a disputa eleitoral na Beira levou ao tapete, por KO brutal, o candidato formal da Renamo. Bulha, uma figura prestigiada na Beira, não fez melhor, mas, num primeiro momento, as hostes da Frelimo “distraíram-se” na celebração eufórica do desmoronamento do seu principal adversário político.
Daviz e os seus apoiantes eram um problema de dissidência na Renamo.
A conferência do MDM lançou as primeiras dúvidas entre os mais convictos. Num país complicado, em que para se fazer coisas com o mínimo de capacidade é preciso sempre lançar mão da muleta do Estado e dos patrocínios pródigos das instituições satelitisadas, o MDM reuniu à Beira do Chiveve 350 delegados vindos de todo o país e do estrangeiro. Não houve notícias de confusão, algazarra ou barafunda. Um Daviz magnânimo encerrou o conclave com um discurso de moderação e ramos de oliveira lançados em várias direcções.
No momento seguinte acontece o périplo europeu. Todos os dias houve notícias da agenda Simango. Entrevistas em profundidade aconteceram em todas as capitais europeias por onde passou. Para qualquer observador minimamente atento, ressalta uma viagem bem preparada, contactos estabelecidos, audiências de peso e com impacto mediático, atenção e sensibilidade para com a comunicação social em cada local visitado. A internet e os blogues, fizeram a complementaridade da visita.
Na política doméstica, o sucesso de Daviz provocou, naturalmente, um novo rolar de cabeças na frente parlamentar da Renamo.
Mas os ventos do MDM chegavam rapidamente à Namaacha, a vila fronteiriça que acolheu a camaradagem governamental e os complementos partidários que definem o que é poder no país.
É de lá que sai a equipa “sheltox” encarregue de arrumar a casa em Sofala e com indicações específicas para que a roupa suja não fosse entregue à lavandaria da comunicação social.
Depois de várias semanas de consultas, um nervoso vai-e-vem entre Maputo e a Beira, sai finalmente fumo branco a partir de Sofala. O partido de Guebuza, Chipande e Macuácua está preparado para enfrentar as batalhas eleitorais agendadas para o início da época das chuvas, ainda este ano.
O MDM, claramente na onda Obama, lança uma campanha na internet para recolha de fundos. Pedem apenas um metical por apoiante/simpatizante. Tudo simples, sem mesmo haver necessidade de deixar o nome. Há também um portal, fresco, inovador, feito a pensar no cinzentismo e na enorme preguiça com que são concebidos os sites dos partidos em Moçambique. Mais uma vez, há organização, iniciativa e uma dose razoável de novidade a fazer política no século XXI em Moçambique.
Para ajudar à festa, um tal de Capece, eleito de fresco para liderar a Frelimo na Beira, atira extemporaneamente a tolha ao chão com a desculpa esfarrapadíssima que afinal não tinha tempo para tão nobre e delicada missão. Num partido que tem por motto, “a vitória, prepara-se, a vitória organiza-se” é no mínimo “inovador” que alguém dê o dito por não dito para dar corpo à “democracia interna” e aos “postulados estatutários” do partido Frelimo. As aspas servem para enfatisar as frases que mais ouvi debitar nos canais de televisão aos camaradas encarregues de fazer o controlo de danos causados pelas dúvidas do professor doutor turbo que sofreu um fortuito encontrão, quando ainda mal tinha subido as escadas para o sinuoso palco da política no Chiveve.
Na Assembleia Municipal acontece o impensável mas previsível na lógica do inimigo do meu inimigo é meu amigo. A Frelimo e a Renamo dão as mãos para tramar o engenheiro, formalmente sem bancada parlamentar
Daviz Simango, em mangas de camisa, vai encolhendo os ombros, ao verdadeiro terramoto que teve epicentro na temerária decisão de virar as costas à política comanditada aos “proprietários” dos destinos do país.
A terra não treme só em L’ Aquila.

( Fernando Lima, Savana, 17/04/09 )

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