Começa a ser preocupante um certo comportamento anti-estrangeirista que se apossou de alguns moçambicanos, incluindo, infelizmente, figuras que assumem cargos públicos de responsabilidade nacional.
Será que alguns entre nós estamos a ficar xenófobos? O discurso anti-estrangeiros assume vários níveis, desde a associação de alguns actos de delinquência social e criminal, até à estranha ideia de que estrangeiros são uma espécie de “papa empregos”.
É admissível e imperioso que Moçambique, como qualquer outro país, adopte políticas que tornem o país impermeável ao crime internacional, que proteja o direito ao emprego para os seus cidadãos, e que de uma maneira geral impeça que a presença de estrangeiros no nosso país se torne num incómodo que não podemos suportar.
Mas é preciso saber distinguir entre cidadãos estrangeiros que escolhem viver no nosso país como uma oportunidade de viver em melhores condições humanas, económicas e sociais, e aqueles a quem as fragilidades institucionais do nosso país constituem uma oportunidade para a má conduta.
E há muitos que pertencem a esta última categoria. Eles devem ser tratados como criminosos e malfeitores, mas não se pode generalizar a imagem de que são criminosos porque são estrangeiros. Porque se assim fosse, não haveria moçambicanos também criminosos.
Os actos de xenofobia que depois degeneram em violência muitas vezes partem deste tipo de discurso pretensamente em defesa da causa da pureza nacional.
O assalto efectuado na semana passada pelos serviços de Migração a um restaurante bastante movimentado da cidade de Maputo enquadra-se perfeitamente neste modo de pensamento de que os cidadãos estrangeiros no nosso país não têm direitos, e que por isso eles podem ser violentados na sua paz e laser pelas autoridades, a qualquer momento que estas o entenderem.
Do mesmo modo que o debate que tem sido feito sobre trabalhadores estrangeiros é, quanto a mim, feito a partir de uma premissa errada. É lógico que qualquer empregador dará em primeiro lugar prioridade ao emprego de moçambicanos, mesmo que não seja apenas por razões de racionalidade económica e de rentabilidade da sua própria empresa. Tenho visto em vários países africanos onde estas mesmas empresas também têm operações, e onde empregam pessoal local até para cargos executivos. Moçambique não seria diferente.
A partir desta constatação é preciso então procurar investigar as causas fundamentais que levam estas empresas a fazerem em Moçambique aquilo que não fazem nos outros países. Depois de encontrar a resposta, o importante será a necessidade de uma acção concertada no sentido de garantir que a situação seja alterada, não com medidas administrativas que têm sempre as suas limitações, mas com actos concretos que gradualmente poderão levar estas empresas a ganharem cada vez maior confiança na qualidade, eficiência e eficácia da mão de obra moçambicana. Para ser claro, somos nós que temos que nos esforçar por elevar a qualidade da nossa mão de obra para padrões reconhecidos ao nível internacional, e não exigir que sejam esses padrões a acomodarem-se à nossa realidade. E quanto mais cedo nos apercebermos disso, melhor será para o nosso próprio bem.
É contraditório que estejamos a falar da integração da nossa economia no contexto regional e internacional, mas ao mesmo tempo pretendermos isolar o factor fundamental dessa integração, que é a mobilidade do Homem.
Há moçambicanos a viver e a trabalhar fora das nossas fronteiras, e certamente que não será do nosso agrado se eles, nesses países de acolhimento, tiverem que ser discriminados e sujeitos a maus tratos só pelo facto de serem estrangeiros.
( Fernando Gonçalves, Savana, 10/04/09 )
Muitos dos que assumem cargos publicos e mesmo os membros do governo teem familiares a estudar, a trabalhar ou a viver no estrangeiro. Portanto, nao esperem dos outros paises em relacao aos vossos familiares o que voces nao estao preparados a oferecer aos respectivos cidadaos desses paises, em suma: reciprocidade mutua. Dizem que 'da mais gosto dar do que receber', mas convosco passa-se exactamente o contrario. A xenofobia atingiu proporcoes desastrosas na RSA; deveriam de ter aprendido algumas licoes daquele pais vizinho, tanto mais que atingiu muitos Mocambicanos inocentes. Controlem melhor as fronteiras e acabem com a corrupcao na emissao de vistos, autorizacoes de residencia e aquisicao de nacionalidade. Maria Helena
ReplyDeleteEste texto é muito bem escrito - obrigada por compartilhá-la aqui. Concordo plenament com o ponto que o autor faz. Tem que entender quais são as causas de raiz do fato (ou percepção) de que as empresas aqui preferem contratar mão-de-obra estrangeira em vez de nacional. E a solução definitivamente tem que vir de Moçambique, para o benefício dos Moçambicanos.
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