O País está a comemorar os 40 anos do desaparecimento físico de Eduardo Chivambo Mondlane, filho insigne desta pátria, espécimen raro do génio de um povo aguerrido, mentor da nacionalidade e dignidade dos moçambicanos, o idealizador e materializador do projecto de construção do Estado moçambicano independente e soberano, enfim, o guarda-chuva da moçambicanidade.
A imensa e exuberante figura de Eduardo Mondlane constitui a sombra refrescante e o cobertor aconchegante que a todos os moçambicanos acolhe e conforta, independentemente do pluralismo das visões político-ideológicas que os possam caracterizar na prossecução da sua vida diária.
Eduardo Mondlane foi o catalisador e aglutinador, não só dos três movimentos então existentes, mas, sobretudo, das esperanças e das expectativas libertadoras do povo moçambicano, rumo a um futuro inteira- mente dependente da sua capacidade criadora.
Mais do que o timoneiro da luta pela liberdade do seu povo. Mondlane foi um líder inspirador de uma vasta teia de gerações de combatentes por um Moçambique melhor.
Mondlane foi o moldador da consciência libertadora do povo moçambicano.
Mondlane foi aquele homem que disse ao povo moçambicano que sim, "nós podemos vencer o colonialismo Sim. nós podemos ser donos do nosso próprio destino. Sim, nós temos capacidade para construirmos o nosso próprio caminho de liberdade e de felicidade".
Desse modo, Eduardo Mondlane entrou nos anais da História Nacional como o arquitecto da cidadania moçambicana, o fundador e o patrono da nossa identidade, enquanto elementos do povo moçambicano.
Por isso, celebrar a passagem dos 40 anos após a morte, em combate, de Eduardo Mondlane é reviver momentos empolgantes da gesta libertadora do povo moçambicano, é relembrar a História recente de Moçambique, é esboçar uma reflexão profunda, necessariamente crítica, sobre como este País tem tratado o legado intelectual e político do guarda-chuva da moçambicanidade
Dos diversos depoimentos, transmitidos pelos diferentes órgãos de comunicação social do País, ressalta a triste realidade de que parte significativa do povo moçambicano, sobretudo nas camadas mais jovens, não possui uma informação oficial correcta sobre a vida e obra de Eduardo Mondlane, porquanto as pessoas exprimem uma vaga ideia de um Eduardo Mondlane qualquer de quem ouviram falar, apenas na escola primária, sem nenhuma continuidade, quer através de livros retratando a sua vida e obra, quer através de filmes e/ou outros meios de transmissão habitual de informação
Aliás, convém dizer, aqui e agora, que a visão religiosa de Eduardo Mondlane chocou, profundamente, nos primeiros anos da Independência, com a ideologia marxista-leninista, oficialmente adoptada como sendo a do Partido Frelimo, em Fevereiro de 1977, no decurso do seu congresso constitutivo, realizado em Maputo.
Talvez tenha sido por isso que não era conveniente, para a Frelimo marxista-leninista, divulgar, em pormenor, o pensamento político, social e cultural de Eduardo Mondlane, na nova realidade moçambicana. Talvez tenha sido por isso que. nos primeiros anos da Independência, sobretudo entre os anos 1977 e 1987, se não tenha dado ênfase, quer nas escolas, quer no discurso politico oficial, então vigente, ao pensamento político de Eduardo Mondlane
Aliás, em Fevereiro de 1979, o Departamento do Trabalho Ideológico do Partido Frelimo mandou confiscar, das bancas e das pessoas, na rua a edição da revista Tempo comemorativa do décimo aniversário da morte de Mondlane, pois essa edição trazia uma entrevista inédita de Mondlane, concedida a Aquino de Bragança, em que Mondlane declarava não ver nenhuma contradição entre religiosos e marxistas e que na óptica dele os religiosos também podiam ser marxistas e que os dois grupos podiam colaborar na construção de uma sociedade socialista!
Isso entrava em flagrante contradição com a prática ideológica de uma Frelimo anti-religiosa, uma Frelimo que pregava que a religião era "ópio do povo", uma Frelimo que devido à sua intolerância religiosa, tinha vários religiosos detidos e marginalizados da vida pública, só porque eram religiosos! Então, a entrevista de Mondlane, a ser amplamente consumida pelo público, iria subverter a ordem política estabelecida, iria desacreditar o discurso dos "continuadores" de Mondlane, pelo que a Única saída encontrada foi a recolha compulsiva de uma edição inteira da revista Tempo, nas bancas e na rua para os armazéns do tenebroso Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP).
Portanto, comemoremos os 40 anos da morte de Mondlane, mas sem passar por cima de factos históricos sérios, que indicam que houve, num certo período da História do País, um esforço oficial visível para se apagar a imagem e o pensamento político de Mondlane por o mesmo colidir com ideologias políticas abraçadas após a morte do arquitecto da Unidade Nacional.
Por isso mesmo, seria curial, em nossa opinião, que o "Ano Eduardo Mondlane", oficialmente, declarado peio Governo, não se cingisse a eventos folclóricos de tipo festa "com cerca de 30 mil pessoas" aqui e acolá, mas que fosse uma oportunidade soberana para a reposição da verdade sobre o pensamento político, económico e social de Eduardo Mondlane, reposição essa incentivada pelo Governo, mas a ser efectivada por intelectuais honestos e com alguma independência, política e económica, em relação ao próprio Governo, pois, de contrário, continuaremos a ter versões convenientes e "autorizadas" sobre quem foi Mondlane e o que ele realmente, pensava sobre a organização e administração do Pais após a Independência Nacional.
Por exemplo, nós pensamos ser insultuoso para o gabarito académico e intelectual de Eduardo Mondlane que a única Universidade com o seu nome esteja a ser gerida como se de uma barraca se tratasse, esforçando-se mais por produzir quantidades de doutores ignorantes do que por aprofundar conhecimentos científicos que possam dignificar o perfil académico, político e intelectual do seu patrono e do Pais
Eduardo Mondlane era um homem muito sério, organizado e profundo em tudo o que pensava e fazia. Como é que, em homenagem a esse homem tão sério, o Governo consegue encontrar gestores aventureiros, que mais não fazem que vilipendiar o nome de Eduardo Mondlane na maior universidade pública do País, introduzindo licenciaturas de carácter duvidoso? Como é que se faz uma Licenciatura em três anos? Como é que a Licenciatura dura o mesmo tempo que um curso médio de ensino técnicoprofissional? Em quê e a quem é que prejudica o modelo actual de uma Licenciatura de quatro anos?
Qual é a razão desta pressa toda, na formação de quadros? Será porque o País precisa, urgentemente, de licenciados? Ou será porque os actuais gestores da UEM tem pressa, eles próprios, de mostrar serviço a alguém7
No tempo em que o País, de facto, carecia de quadros, porque só havia um único estabelecimento do ensino superior, a Licenciatura fazia-se em cinco anos e era bastante difícil à maioria chegar ao fim.
Agora que o País conta com mais de 25 instituições de ensino superior, entre públicas e privadas, oferecendo uma variada gama de cursos com a duração de quatro anos, surgem aventureiros "revolucionários", altamente patrocinados pelo MEC, a escangalhar a maior universidade pública do Pais. por sinal, tudo isso a acontecer no "Ano Eduardo Mondlane!
Nós exigimos que o Governo intervenha, urgentemente, na UEM, exonerando o actual reitor e mandando restaurar a paz e a solenidade académicas que devem caracterizar uma universidade séria.
Não se pode gerir seriamente uma universidade moderna com pessoas apressadas em mostrar serviço a alguém, com pessoas dispostas a trocar a qualidade académica por modelos, economicamente, mais lucrativos, porque tiram muitos ignorantes em pouco tempo para o mercado de trabalho, onde vão matar pessoas, umas nos hospitais, outras debaixo de prédios que desabarão, outras, : ainda, na travessia de pontes mal feitas ou que vão levar empresas e governos à falência, porque mal administrados.
Afinal, o que é que este País quer?
Será verdade que o Pais pretende, realmente, homenagear Eduardo Mondlane este ano?
Então, se sim, aguardemos por actos concretos, condizentes e dignificantes da personalidade política, académica e humana do guarda-chuva da nossa moçambicanidade! Não se pode aceitar que, precisamente, no ano da sua homenagem nacional, Eduardo Mondlane seja vilipendiado por actos irresponsáveis, que acabam por transformar a universidade tom o seu nome numa fábrica de produção rápida de enchidos sem garantia de qualidade.
Quem quer experimentar se a sua cabeça está boa ou não, que crie a sua própria escola e não faça isso com a maior referência universitária deste País.
É verdade que nos devemos inspirar em Nachingweia, mas não para tudo!
A imensa e exuberante figura de Eduardo Mondlane constitui a sombra refrescante e o cobertor aconchegante que a todos os moçambicanos acolhe e conforta, independentemente do pluralismo das visões político-ideológicas que os possam caracterizar na prossecução da sua vida diária.
Eduardo Mondlane foi o catalisador e aglutinador, não só dos três movimentos então existentes, mas, sobretudo, das esperanças e das expectativas libertadoras do povo moçambicano, rumo a um futuro inteira- mente dependente da sua capacidade criadora.
Mais do que o timoneiro da luta pela liberdade do seu povo. Mondlane foi um líder inspirador de uma vasta teia de gerações de combatentes por um Moçambique melhor.
Mondlane foi o moldador da consciência libertadora do povo moçambicano.
Mondlane foi aquele homem que disse ao povo moçambicano que sim, "nós podemos vencer o colonialismo Sim. nós podemos ser donos do nosso próprio destino. Sim, nós temos capacidade para construirmos o nosso próprio caminho de liberdade e de felicidade".
Desse modo, Eduardo Mondlane entrou nos anais da História Nacional como o arquitecto da cidadania moçambicana, o fundador e o patrono da nossa identidade, enquanto elementos do povo moçambicano.
Por isso, celebrar a passagem dos 40 anos após a morte, em combate, de Eduardo Mondlane é reviver momentos empolgantes da gesta libertadora do povo moçambicano, é relembrar a História recente de Moçambique, é esboçar uma reflexão profunda, necessariamente crítica, sobre como este País tem tratado o legado intelectual e político do guarda-chuva da moçambicanidade
Dos diversos depoimentos, transmitidos pelos diferentes órgãos de comunicação social do País, ressalta a triste realidade de que parte significativa do povo moçambicano, sobretudo nas camadas mais jovens, não possui uma informação oficial correcta sobre a vida e obra de Eduardo Mondlane, porquanto as pessoas exprimem uma vaga ideia de um Eduardo Mondlane qualquer de quem ouviram falar, apenas na escola primária, sem nenhuma continuidade, quer através de livros retratando a sua vida e obra, quer através de filmes e/ou outros meios de transmissão habitual de informação
Aliás, convém dizer, aqui e agora, que a visão religiosa de Eduardo Mondlane chocou, profundamente, nos primeiros anos da Independência, com a ideologia marxista-leninista, oficialmente adoptada como sendo a do Partido Frelimo, em Fevereiro de 1977, no decurso do seu congresso constitutivo, realizado em Maputo.
Talvez tenha sido por isso que não era conveniente, para a Frelimo marxista-leninista, divulgar, em pormenor, o pensamento político, social e cultural de Eduardo Mondlane, na nova realidade moçambicana. Talvez tenha sido por isso que. nos primeiros anos da Independência, sobretudo entre os anos 1977 e 1987, se não tenha dado ênfase, quer nas escolas, quer no discurso politico oficial, então vigente, ao pensamento político de Eduardo Mondlane
Aliás, em Fevereiro de 1979, o Departamento do Trabalho Ideológico do Partido Frelimo mandou confiscar, das bancas e das pessoas, na rua a edição da revista Tempo comemorativa do décimo aniversário da morte de Mondlane, pois essa edição trazia uma entrevista inédita de Mondlane, concedida a Aquino de Bragança, em que Mondlane declarava não ver nenhuma contradição entre religiosos e marxistas e que na óptica dele os religiosos também podiam ser marxistas e que os dois grupos podiam colaborar na construção de uma sociedade socialista!
Isso entrava em flagrante contradição com a prática ideológica de uma Frelimo anti-religiosa, uma Frelimo que pregava que a religião era "ópio do povo", uma Frelimo que devido à sua intolerância religiosa, tinha vários religiosos detidos e marginalizados da vida pública, só porque eram religiosos! Então, a entrevista de Mondlane, a ser amplamente consumida pelo público, iria subverter a ordem política estabelecida, iria desacreditar o discurso dos "continuadores" de Mondlane, pelo que a Única saída encontrada foi a recolha compulsiva de uma edição inteira da revista Tempo, nas bancas e na rua para os armazéns do tenebroso Serviço Nacional de Segurança Popular (SNASP).
Portanto, comemoremos os 40 anos da morte de Mondlane, mas sem passar por cima de factos históricos sérios, que indicam que houve, num certo período da História do País, um esforço oficial visível para se apagar a imagem e o pensamento político de Mondlane por o mesmo colidir com ideologias políticas abraçadas após a morte do arquitecto da Unidade Nacional.
Por isso mesmo, seria curial, em nossa opinião, que o "Ano Eduardo Mondlane", oficialmente, declarado peio Governo, não se cingisse a eventos folclóricos de tipo festa "com cerca de 30 mil pessoas" aqui e acolá, mas que fosse uma oportunidade soberana para a reposição da verdade sobre o pensamento político, económico e social de Eduardo Mondlane, reposição essa incentivada pelo Governo, mas a ser efectivada por intelectuais honestos e com alguma independência, política e económica, em relação ao próprio Governo, pois, de contrário, continuaremos a ter versões convenientes e "autorizadas" sobre quem foi Mondlane e o que ele realmente, pensava sobre a organização e administração do Pais após a Independência Nacional.
Por exemplo, nós pensamos ser insultuoso para o gabarito académico e intelectual de Eduardo Mondlane que a única Universidade com o seu nome esteja a ser gerida como se de uma barraca se tratasse, esforçando-se mais por produzir quantidades de doutores ignorantes do que por aprofundar conhecimentos científicos que possam dignificar o perfil académico, político e intelectual do seu patrono e do Pais
Eduardo Mondlane era um homem muito sério, organizado e profundo em tudo o que pensava e fazia. Como é que, em homenagem a esse homem tão sério, o Governo consegue encontrar gestores aventureiros, que mais não fazem que vilipendiar o nome de Eduardo Mondlane na maior universidade pública do País, introduzindo licenciaturas de carácter duvidoso? Como é que se faz uma Licenciatura em três anos? Como é que a Licenciatura dura o mesmo tempo que um curso médio de ensino técnicoprofissional? Em quê e a quem é que prejudica o modelo actual de uma Licenciatura de quatro anos?
Qual é a razão desta pressa toda, na formação de quadros? Será porque o País precisa, urgentemente, de licenciados? Ou será porque os actuais gestores da UEM tem pressa, eles próprios, de mostrar serviço a alguém7
No tempo em que o País, de facto, carecia de quadros, porque só havia um único estabelecimento do ensino superior, a Licenciatura fazia-se em cinco anos e era bastante difícil à maioria chegar ao fim.
Agora que o País conta com mais de 25 instituições de ensino superior, entre públicas e privadas, oferecendo uma variada gama de cursos com a duração de quatro anos, surgem aventureiros "revolucionários", altamente patrocinados pelo MEC, a escangalhar a maior universidade pública do Pais. por sinal, tudo isso a acontecer no "Ano Eduardo Mondlane!
Nós exigimos que o Governo intervenha, urgentemente, na UEM, exonerando o actual reitor e mandando restaurar a paz e a solenidade académicas que devem caracterizar uma universidade séria.
Não se pode gerir seriamente uma universidade moderna com pessoas apressadas em mostrar serviço a alguém, com pessoas dispostas a trocar a qualidade académica por modelos, economicamente, mais lucrativos, porque tiram muitos ignorantes em pouco tempo para o mercado de trabalho, onde vão matar pessoas, umas nos hospitais, outras debaixo de prédios que desabarão, outras, : ainda, na travessia de pontes mal feitas ou que vão levar empresas e governos à falência, porque mal administrados.
Afinal, o que é que este País quer?
Será verdade que o Pais pretende, realmente, homenagear Eduardo Mondlane este ano?
Então, se sim, aguardemos por actos concretos, condizentes e dignificantes da personalidade política, académica e humana do guarda-chuva da nossa moçambicanidade! Não se pode aceitar que, precisamente, no ano da sua homenagem nacional, Eduardo Mondlane seja vilipendiado por actos irresponsáveis, que acabam por transformar a universidade tom o seu nome numa fábrica de produção rápida de enchidos sem garantia de qualidade.
Quem quer experimentar se a sua cabeça está boa ou não, que crie a sua própria escola e não faça isso com a maior referência universitária deste País.
É verdade que nos devemos inspirar em Nachingweia, mas não para tudo!
DIÁRIO INDEPENDENTE – 04.02.2009
Claro que o Pais nao pretende homenagear E. Mondlane, pois ai teria que explicar muitas coisas, ha muitas perguntas pendentes e quase nenhumas respostas. Os verdadeiros ideais de Mondlane foram atraicoados pela pessoa de S. Machel e os que se lhe seguiram. Maria Helena
ReplyDeleteA verdadeira História de Moçambique ainda vai ser contada um dia, mas enoja-me todo este cinismo quando sabemos que os ideais de Mondlane foram ataraiçoados.
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