Friday, 6 February 2009

É preciso reflectir sobre este caos em ano de eleições

Maputo (Canal de Moçambique) - Em Maputo, Matola e arredores, este 3 de Fevereiro foi quente. Muito quente. Um calor abrasador. Insuportável. Ao fim da tarde o céu, a Sul, começou a ficar cor de chumbo e ainda a noite acabava de se instalar já estava a chover imenso, mas nada que não aconteça todos os anos normais – muita água mas próprio da época húmida. As mazelas, a precariedade das infra-estruturas, entretanto, ficaram à vista, um pouco por todo o lado. O Estado “ficou despido”. O caos, do que tem sido a propalada “boa governação”, ficou a nu.
Já não bastava as prisões dos altos “galifões” que andaram a estropiar o Estado com fins pessoais e outros ainda inconfessos, e o caos nas instituições que devem zelar pela nossa segurança. Agora veio mais esta desgraça mostrar-nos que ou mudamos mesmo, sem fingir que mudamos, ou o futuro vai ser ainda pior.
Ficou à vista a “boa governação” que tantos elogios tem merecido de quem fala em causa própria e já tem acesso aos bens materiais que permitem uma vida confortável. Os outros, mais uma vez, experimentam os habituais transtornos e o agravamento do eterno sofrimento que com chuvas intensas e sucessivos governos incompetentes não pode, naturalmente, ser vencido. A tal “boa governação” ficou à vista com poucos milímetros de chuva a mais: avarias eléctricas por todo o lado e horas a fio sem energia; telecomunicações mais deficientes do que é vulgar ultimamente; estradas, avenidas, ruas e ruelas intransitáveis; trânsito automóvel totalmente desgovernado; danos incalculáveis em viaturas de laboriosos cidadãos que pagam o manifesto automóvel para depois o governo lhes proporcionar apenas autênticos “caminhos de cabras”; casas cheias de água por inexistência de drenagem em condições ou por causa de sistemas de drenagem de construção deficiente; enfim… um role de marcas do que uma autêntica fanfarra governativa nos anda a “oferecer” com gastos exorbitantes e sem resultados que nos convençam. Está patente, para quem agora pode ver com os seus próprios olhos, que mais vale uma boa imagem do que mil palavras. Está mais uma vez à vista de todos nós o que têm sido os sucessivos governos a quem temos vindo a entregar os cuidados do Estado. Poucos milímetros de chuva a mais, foi, é o suficiente para o caos se instalar em qualquer cidade do país. Não é preciso chover muito. Um pouco mais do que uns chuviscos é constantemente o caos. As tais obras estruturantes para além de poucas são tão bem feitas que não resolvem nada. O drama repete-se, a mesma conversa repete-se…Sempre as mesmas obras…um ciclo vicioso que teima em persistir. Enquanto nós deixarmos!...
Todos os anos entra a época húmida e tudo volta a complicar-se. Durante a época seca são raras as obras estruturantes. As poucas que há são tão bem feitas – passe a ironia – que fica tudo na mesma. É num instante. Basta uns pingos de chuva a mais, que na época húmida até o que caiu esta terça e quarta feiras nem foi nada por aí além, e não há quem possa desmentir que um governo sendo uma entidade para prevenir o caos no nosso caso não consegue mostrar-nos que tomou medidas adequadas para prevenir o caos. É óbvio que continua a não tomar decisões atempadas e eficientes. Há dinheiro para grandes carros, grandes casas para satisfazer o ego de funcionários superiores do Estado, mas não há resultados convincentes. Rodeiam-se os funcionários superiores do Estado de luxos incalculáveis e no fim apercebemo-nos de que as “catorzinhas” e os “catorzinhos” e o ego deram-lhes cabo da cabeça…Rodeiam-se os altos funcionários do Estado de conforto para supostamente terem um ambiente sereno para trabalharem para o bem comum da cidadania, para servirem bem os cidadãos, e no fim de contas fica tudo na mesma, com tendência a piorar. A consistência dos auto-elogios e elogios de conveniência aos sucessivos governos que temos vindo a ter, vê-se nestes momentos que não passa de conversa refinada e bem afiada. Trinta e tal anos depois da Independência, em dias de um pouco mais chuva do que é normal, fica logo à vista o que o Estado governado continuamente pelos mesmos eternos “sabichões” é capaz de fazer para nos transtornar a vida. No fim de contas, o que se constata é que os anos passam e não há nenhum alívio ao sofrimento. É só isto que se vê: o caos. O alívio à pobreza é mesmo uma treta. Com isto se vê até onde vai o descaramento de quem nos anda a deitar poeira nos olhos com a conversa da auto-estima. Que auto-estima pode ter um povo tratado desta maneira, sujeito a estas condições de vida por sucessivos governos que não conseguem prevenir o caos? Veja-se a capital do país e arredores como fica, como ficou impraticável com umas poucas horas de chuva persistente em cima: um descalabro, um horror, um martírio. Sobretudo para quem vive na periferia onde sucessivos governos ainda continuam a desprezar quem lá mora e a só considerar essa tanta gente quando se trata de lá ir pedir-lhes o voto para continuarem a fanfarra da desgovernação com que nos brindam já sem vergonha na cara. Isto acontece em todas as cidades do país onde o dinheiro do Estado só existe para subornar as consciências dos eleitores em períodos eleitorais. E que podemos fazer para que os anos passem e a vida melhore? – Cabe, naturalmente a cada um pensar nisso e ver como pode dar mais utilidade prática ao seu voto. Cada cidadão tem direito a um voto e em estados de direito os cidadãos já se aperceberam que não há governos bons. Por isso jogam com o seu voto. Obrigam os políticos a trabalhar. Como? – Nunca dão os votos ao mesmo partido, ao mesmo presidente. Começam por mudar o ambiente governativo para se experimentar nova gente. O funcionalismo do Estado é sempre o mesmo, mas mudam quem governa. Mudam o partido no poder. Nós temos gente que estudou, nova gente ou gente nova que ainda está disposta a trabalhar para o bem comum e não apenas continuar sentada nos pelouros do Estado para nos extorquir boa vida com os nossos impostos. Há em Moçambique muito boa gente, com ideias novas, com projectos novos, com outra visão da governação. Há gente nova capaz, aberta ao mundo, com ideias novas, com olhos postos no futuro e não sempre pendurados no passado e nas mentiras como a que durante anos nos andaram a contar sobre a morte do presidente da Frente de Libertação de Moçambique que aglutinou vontades que hoje já não se revêem no projecto partidarizado da dita continuidade que mais não é do que o projecto falido que hoje nos serve este caos sempre que chove.
Quem quer ser bem governado, quem não quer ver o Governo de Moçambique a fazer sempre as mesmas obras porque as anteriores foram mal feitas, não pode continuar a apostar no caos. Em tempo de eleições o cidadão tem de se deixar de ficar em casa a dormir. Um cidadão que não quer viver no caos não pode chorar depois da desgraça acontecer. Tem de se prevenir. Este é ano de eleições. Pense sobre o caos. Recuse-se a ter memória curta. Moçambique só poderá evoluir se os seus cidadãos quiserem. Quem não vai votar, ou quem não aprende o pouco que vale uma T-shirt ou uma capulana depois das eleições, pode queixar-se, mas de nada lhe vale “depois de casa arrombada meter trancas na porta”. Fique a pensar no assunto!

(Canal de Moçambique e Zambeze), 5/2/09 )

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