Propus-me a interromper por momentos a minha análise sobre os problemas do positivismo jurídico para reflectir um pouco sobre o "estado do maior partido da oposição moçambicana, a Renamo". Poderei não ser a pessoa mais recomendada para o efeito, uma vez que não sou membro desse partido, mas como actor político deste país, tenho o direito a palavra.
A história da Renamo teve maior visibilidade com a guerra civil que devastou o Moçambique por cerca de quinze anos, findo os quais, as partes beligerantes, decidiram em Roma pôr fim às tréguas que os separavam. A favor ou não do povo, as duas partes perceberam que nada deveria justificar a guerra, sendo que o diálogo deveria ser o único meio para conciliar os interesses.
Na sequência, em 1994 realizam-se as primeiras eleições multipartidárias em Moçambique, eleições essas que atraíram dezenas de partidos políticos e candidatos à Presidência da República. Todo mundo chegou a acreditar ser capaz de transformar-se em Presidente da República de Moçambique. Valeu pelo menos o exercício da auto estima dos meus concidadãos.
Contudo, sem querer menosprezar as dezenas de nomes de candidatos e partidos, as verdadeiras atenções nessas eleições históricas, estavam sobre duas figuras e dois partidos: sobre a Renamo e Afonso Dhlakama e sobre a Frelimo e Joaquim Chissano.Pelo sim ou pelo não, os resultados foram favoráveis à Frelimo e ao seu candidato Joaquim Chissano, que mais tarde veio a renovar o mandato que teve seu fim em 2004 com a condução de Armando Guebuza à Presidência, como continuidade do maior partido do país.
A Renamo e seu candidato Afonso Dhlakama, não foram mais do que algum domínio na Assembleia da República, principalmente quando coligada com alguns partidos de pequena expressão.Seja como for, há quem diga que se não fosse a fraude, em 1994 a Renamo e Dhlakama teriam ganho as eleições gerais. A pergunta que coloco é: como é que um partido e um candidato que já estiveram na porta da vitória, senão mesmo na vitória, venham perder a popularidade em tão curto período de tempo?
Porque é que a Renamo ganhou ou quase ganhou as eleições de 1994? Porque é que manteve uma representatividade considerável na Assembleia da República? A resposta é obvia: a Renamo chegou a representar para muitos moçambicanos a alternativa política de governação deste país.
Fora de ser uma esperança de muitos moçambicanos, a própria liderança da Renamo parecia ter a fé de que o partido um dia chegaria ao poder e o seu candidato seria o mais alto magistrado deste país. Mas o sonho ruiu. O mito e a utopia criadas e residentes no seio da Renamo perderam vida e o movimento perdeu a luz de orientação.
Li algures na imprensa semanal, pouco depois das celebrações do dia do dito fundador da Renamo, André Matsangaisse, um artigo interessante, em que o presidente da Renamo Afonso Dhlakama dizia já ter começado a escrever um livro que tinha decidido escrever quando estivesse a deixar a Ponta Vermelha. Sem querer especular, pareceu-me que o líder da Perdiz estava a anunciar a sua capitulação em relação a intenção de um dia vir a ser Presidente da Republica de Moçambique.
Alias, todo o processo que levou a realização das terceiras eleições autárquicas, bem assim os seus resultados preliminares, mostraram claramente que tanto a Renamo como a sua liderança perderam totalmente toda popularidade que alguma vez conseguiram conquistar no eleitorado moçambicano.
Quanto a mim, não tenho receio de anunciar que o a Renamo chegou ao começo do seu fim, ou seja, de agora em diante o que se vai assistir é uma decadência em série da Perdiz.Estrategicamente incorrecta, a Renamo excluiu o único candidato com perfil de ganhar a Cidade da Beira em seu nome, consequentemente, veio a perder todos os outros municípios antes em seu poder, a favor da Frelimo, sua rival.
Nota-se que a Renamo perdeu suporte nos seus mais poderosos laboratórios, sinal mais que suficiente de que o partido já não tem sustentabilidade. O povo não é burro, é na hora do voto que este faz a justiça e pune os seus detractores.
A Beira, acabou sendo o emblema mais recomendado das terceiras eleições autárquicas neste país, isso porque pela primeira vez na história de Moçambique um candidato independente vence as eleições com uma percentagem esmagadora.
Trata-se aqui de um sinal bastante positivo para a nossa democracia que caminha para a sua própria transformação. Os erros que a Renamo cometeu tomaram maior visibilidade na medida em que ela é oposição e não se pode dar ao luxo de jogar sem estratégias. Na verdade a Frelimo já tinha cometido os mesmos erros.
É que o partido da maçaroca, chegou a perder um pouco da sua credibilidade com o actual Presidente da República na medida em que não conseguiu realizar o seu manifesto eleitoral, onde um dos seus cavalos de batalha era o combate a corrupção. Com vista a recuperar sua imagem inventou bodes expiatórios e colocou o judiciário num fogo cruzado.
A não indicação de Comiche para a sua própria substituição, foi também um desses erros estratégicos, contudo, a Frelimo é um partido no poder, tem meios, é organizado e conseguiu trazer um candidato que embora no descontentamento das suas bases, possui um curriculum que acalma os ânimos.
O Simango de Maputo conseguiu vencer Namburete não só porque este sofria por tabela as consequências dos erros que a Perdiz veio cometendo ao longo de todo o processo eleitoral, mas também porque os eleitores da Frelimo têm uma disciplina partidária muito forte.
Em parte, essa disciplina partidária é sustentada pelo medo que o povo moçambicano tem de mudanças e aqui reside mais uma vez a lição que os eleitores do país inteiro deveriam aprender da Beira, não somente ser politicamente correcto, mas participar no processo eleitoral como exercício dos seus mais sagrados direitos fundamentais.
Simango da Beira vence Bulha da Frelimo e Pereira da Renamo, num claro vaticínio de que nem a Frelimo nem a Renamo são capazes de contrariar a vontade dos eleitores. Nesse andar, o Simango da Beira ainda Chega a Presidência da República.Cabe me agora encerrar esta reflexão com a triste constatação de que a Renamo conseguiu anunciar aos moçambicanos o seu próprio fim. Valeu o tempo que conviveu com os moçambicanos nos municípios que dirigiu e nos assentos que teve na Assembleia da Republica. Daqui para frente a Perdiz vai ensaiando o seu voo de retirada, a não ser que um milagre ressuscite o sonho perdido em 1994.
( Custódio Duma em http://www.athiopia.blogspot.com/ )
NOTA: Se houver bom senso e humildade eu ainda acredito em milagres, o sonho de 1994 pode ser recuperado! Esperamos pelo sentido de responsabilidade e patriotismo mesmo nesta hora tardia!
Vai acontecer em breve!
ReplyDeleteEstamos no terreno e trabalhar para isso.
Essa certeza dá-nos muito alento, o País não pode ser constantemente adiado!
ReplyDeleteViva Moçambique livre e democrático!