Wednesday, 20 August 2008

Governo é hipócrita!


No dia 25 de Julho de 2008, na província do Niassa, a caminho do Matchedje, para as celebrações dos 40 anos do 2° Congresso da FRELIMO, realizado em 1968, o ministro da Defesa Nacional, Filipe Nyussi e acompanhantes da viatura em que seguia, tiveram um acidente de viação. Nyussi, partiu o braço, fracturado duas costelas, foi, de imediato, evacuado para uma clínica, na África do Sul. O ministro da Agricultura, Soares Nhaca, saiu ileso. O motorista, que ficou gravemente ferido, continua internado no Hospital Provincial de Lichinga.
Os dirigentes exortam o público com um slogan bonito — produza moçambicano, consuma moçambicano. Distribuem certificados às instituições que se mostrem ter assumido o seu conteúdo. Uma coisa é falar para impressionar e outra coisa, bem diferente, é o que se faz no quotidiano. Os dirigentes quando têm dor de cabeça, metem-se no avião, para irem tomar paracetamol do outro. Gastam divisas para irem, ao estrangeiro, palitar os dentes, como se não tivéssemos médicos. Temo-los que, por vezes, fazem milagres, trabalhando em condições precárias.
Não estamos contra a evacuação de Nyussi, mas, condenamos a hipocrisia do governo. Nyussi poderia ter sido assistido em qualquer hospital do País. Temos médicos competentes para tratarem da saúde de qualquer dirigente. Se os nossos técnicos não têm capacidade, o que duvidamos, o culpado seria o governo que não cria condições para que a competência que procuram além-fronteira seja instalada no País. O governo apercebe-se da falta de algum equipamento imprescindível, no hospital da última referência, quando um dirigente ou seu parente cai doente.
Sob o ponto de vista do governo, o hospital de Lichinga tem condições para tratar o doente que ficou, gravemente, ferido, porém, não vale para concertar o braço e as costelas do ministro. É um paradoxo. Existirá uma vida que tenha maior peso que outra? Nenhuma vida é superior a outra. Duvidamos se o governo pensa como nós, porque, de outro modo, não teria feito discriminação. Se o governo apostasse na formação do pessoal técnico nacional, há muito que os membros do Executivo teriam deixado de ir à África do Sul à procura de cuidados médicos básicos.
Os dirigentes mandam seus filhos para as melhores escolas do planeta, apesar de lindos discursos que proferem de que o nosso sistema de educação, que eles conceberam, é um dos melhores do mundo. É pura mentira! Se fosse tão bom como dizem, não mandariam seus meninos para Europa e América à procura de melhor educação. Ficariam nas escolas onde os filhos do povo estudam – encurvados no chão, por vezes, sem vidros, nem quadro, nem giz.
Se a hipocrisia do governo – dois pesos, duas medidas - não for afastada com actos concretos, o produza moçambicano, consuma moçambicano cheira a burla. Falar é uma coisa, fazer é outra, bem diferente. Na hora da verdade, esta coisa de produza moçambicano, consuma moçambicano resta, para o povo chuchar o dedo.

( Edwin Hounnou, em A Tribuna Fax, de 08/08/08, retirado com a devida vénia )

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