Mugabe não reconhece que foi derrotado por Tsivangiray, não acredita que a ZANU-PF perdeu a favor do MDC, por isso, ensaia manobras dilatórias que, pelos seus cálculos, desaguarão no estado de emergência. O ditador espera prender a liderança do MDC, proibir actividades políticas, restringir a livre circulação de pessoas, impedir aglomerações de pessoas e golpear as instituições democráticas.
A recente cimeira da SADC, em Lusaka, foi branda com Mugabe. Não o obrigou a agir com racionalidade, abandonando o poder, por ter sido preterido. Mugabe conta com padrinhos e afilhados, a quem ajudou a manter ou a colocar no poder – Frelimo, de Moçambique, SWAPO, da Namíbia, e ANC, da Africa do Sul. Os compromissos que unem os governantes dos países da SADC não permitem condenação mútua.
O apoio deve ser aos povos e não aos governantes para se manterem no poleiro. Estes passam, os povos permanecem para sempre. É de bom senso que os libertadores assumam as consequências do princípio de que a soberania reside no povo. Nenhum dirigente foi enviado por Deus para governar seja qual for o povo.
O ditador diaboliza o vencedor como agente da Inglaterra e Ocidente. Chama a seus adversários de agentes do inimigo quando vencem as eleições e cidadãos comuns quando as perdem. Mugabe exige a recontagem e uma segunda volta antes da divulgação dos resultados. É um absurdo.
Os exemplos da Costa de Marfim e Quénia, destruídos pela ganância dos seus líderes, deveriam servir de lição. A derrapagem da economia do Zimbabwe custa a Moçambique uma pesada factura, com o corredor da Beira desfeito, devido ao belicismo de Mugabe e sua falsa reforma agrária.
Mugabe perde a ocasião de perpetuar seu nome no pedestal dos heróis. De combatente passa a vilão, odiado pelo povo que ajudou a se libertar do regime minoritário de Ian Smith. O ditador prefere morrer agarrado ao poder, apesar de ter visto um cartão vermelho directo.
Os tempos de Fidel Castro, que indicou seu irmão, Raul Castro, para o substituir na chefia do estado, passaram à história. Democracia é alternância ao poder. Se for julgado favorável, é reconduzido. Caso contrário, cede lugar a outro. Democracia não é, só, fazer eleições cíclicas e vencê-las, de forma retumbante, para agradar o Ocidente.
A SADC perdeu tempo, em Lusaka, elaborando um comunicado frouxo, ao invés de se despedir de Mugabe. Se a táctica mugabista pegar moda, estamos lixados. Não são claras as razões por que regimes africanos organizam eleições, se não respeitam o veredicto popular! Ninguém duvida de que Mugabe perdeu as eleições de 29 de Março.
Tememos que a arrogância e prepotência da Frelimo instale uma crise pior que à do Zimbabwe, em Moçambique, quando for confrontada por uma oposição organizada e laboriosa, capaz de lhe tirar o tapete dos pés. Se a Renamo fosse uma oposição séria, em 1999, teríamos uma situação simular, no País. Os ditadores não deixam o poder por via eleitoral.
( Edwin Hounnou, em “ A TribunaFax “, de 21 de Abril de 2008, retirado com a devida vénia)
O Reflectindo ja havia abordado a questao do clubismo no seio dos governos da SADC, agora mais do que nunca, eis a ai a prova em evidencia.
ReplyDeleteSo nao sei porque insistem em aceitar eleiçoes se logo a partida querem manipular resultados, nao querem abandonar o poder ou nao se querem render a evidencia: o povo ja nao os quer!
No meu modesto ponto de vista, a onda ja se formou e o tsunami das mudanças em Africa esta a espreita em cada um dos "tronos" e, logo, a ideia é intimidar os que estao na rota das eleiçoes.
A brandura dos chefes de Estado membros da SADC so tem um objectivo: olhar para o seu proprio umbigo!
Nunca é demais falar neste escandalo que se vai passando no Zimbabwe.
ReplyDeleteEstes governos anti-democraticos aceitam eleições para agradarem ao Ocidente e para fingirem que são democratas, para eles não existe o conceito de alternancia democratica.
A tragédia no Zimbabwe só é possível devido à conivencia dos "líderes" africanos, mas o que me preocupa é que isto tem consequencias graves para toda a
região.
Como muito bem afirma, a onda está aí e vai ser difícil conter este
tsunami, vamos esperar pelos ventos da mudança! Excelente análise!