Saturday 29 November 2014

Raptos, Estado e a nossa resignação colectiva

Esta semana, aconteceram mais dois sequestros na cidade de Maputo. Juntam-se a mais umas tantas dezenas de outros já acontecidos.
Há quem é ainda mais rigoroso na estatística. Fala de quase uma centena de pessoas sequestradas, desde a eclosão deste fenómeno, há cerca de dois/três anos.
Como em quase todos os sequestros verificados até aqui, a nossa diligente polícia está no encalço dos criminosos. Tem mesmo pistas prometedoras dos sequestradores, como com muita simpatia e pouca convicção, repetem os seus porta-vozes, diariamente. Só não os alcança. Para não sermos injustos de todo: os que apanha são, nitidamente, os operativos, peixe miúdo. O graúdo, esse, continua eternamente a monte, numa impunidade que já é arreliadora num Estado de Direito, onde é suposto que reine o império da lei.
No início, o problema eram as leis, que eram lacunosas, que não eram suficientemente contundentes para desencorajar o fenómeno, disseram-nos. Vieram as leis, alguma manifestação de preocupação do poder político, muito discurso e exibição de força por parte das autoridades policiais.
Depois, regressou tudo à mesma (a)normalidade com que começara. Não há responsabilidade política ao nível do pelouro que superintende a polícia e nem operativa ao nível do comando das forças que devem velar pela segurança. É como se nada de grave se passasse e o país seguisse dentro de um quadro de estabilidade. O Governo reúne semanalmente em Conselho de Ministros e nada faz saber de medidas extraordinárias para acabar com os sequestros. Ou pelo menos tranquilizar os seus cidadãos. O parlamento segue em silêncio e quando se faz ouvir é para convocar sessões extraordinárias para aprovar leis de urgência duvidosa, uma das quais da sua própria previdência social. O sistema judicial, para não ficar fora da festa, brinda-nos com juízes complacentes, que parecem viver fora da realidade social vigente e decretam medidas de coacção brandas, quando se impõe que sejam impetuosos.
Com o Estado e suas instituições a agonizarem e sem ideias sobre como defender os seus próprios cidadãos - Jean-Jacques Rosseau coraria de tédio com a sua cada vez mais arcaica ideia de contrato social - o crime organizado afirma-se como um verdadeiro poder paralelo, com a sua economia ilícita e fervilhante como suporte.
Para piorar: a sociedade civil, que tão boa conta de si deu para chamar a atenção deste problema, na sua fase inicial, parece que ela também capitulou. É uma espécie de resignação colectiva…


PS: Sem surpresas, a Assembleia da República decidiu, ontem, não avançar com a revisão da Constituição da República.
 É o triunfo da razão. A Frelimo, mentora do projecto, tinha nesta legislatura poderes legislativos suficientes para, sozinha, mudar a Constituição, por força da sua maioria qualificada. Em algum momento deste processo, esteve quase a cair na tentação de o fazer. Felizmente, percebeu que para uma democracia salutar não se pode avançar sempre sozinho. É preciso fazer compromissos políticos, mais a mais, quando se trata da Constituição da República.
 

Curtíssimo intervalo


Salvo melhor interpretação, tudo parece indicar que os principais líderes políticos moçambica­nos continuam determinados a, ciclicamente, re­petir os mesmos erros, quando podiam, querendo, experimentar novos e diferentes.
Tudo indica, por assim dizer, que desta vez o intervalo das hostilidades armadas será curto, aliás curtíssimo, comparado com aquele que durou per­to de 21 anos, se nada de sério e rápido for feito.
Alguns dirão que sou pessimista, mas como em momentos anteriores, alertas destes não faltaram, porém foram ignorados e deu no que deu. Pena que depois de centenas de cadáveres plantados na terra os responsáveis dos grupos dinamizadores da guerra se sentam, conversam, assinam pactos de paz (podre) e convivem, enquanto os “pobres coitados” já perderam os seus entes queridos e bens materiais e nem são tidos nem achados.
Nos últimos tempos renovados sinais dão a entender que Moçambique parece caminhar, de novo, a passos largos PARA mais uma confrontação militar, senão vejamos:
- fala-se de agrupamentos e reforços de con­tingentes militares do Governo em diversas regiões do país, com maior enfoque PARA o Centro (dirão alguns que é legítimo exercício governamental).
- há dias multiplicou-se um “bate-boca” por causa da VISITA do vice-ministro do Interior, José Mandra, ao acampamento de onde em 21 de Outubro de 2013, depois de lá viver exactamente um ano, o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, foi afugentado, a tiros, por uma coligação das Forças de Defesa e Segurança (FDS), em Sadjundjira. De novo, os legalistas dirão que se trata de um exercício legítimo do Governo.
- foi noticiado que os “homens armados resi­duais da Renamo” impedem a circulação de pes­soas e bens nas zonas sob sua influência/controlo (eles alegam que desconfiam das reais intensões de algumas delas).
- inevitavelmente, de seguida surgiram acusa­ções de parte a parte (Governo/Renamo) de viola­ção do pacto de cessação das hostilidades celebrado a 5 de Setembro deste 2014 pelo ACTUAL Chefe de Estado, Armando Guebuza, e o líder da Renamo (seguido de uma animada patuscada de ambos e outros convivas na Presidência da República).
- ... e quando alguns políticos tanto da Renamo como do Governo/Frelimo (mesmo os que se acredi­tava serem “RESERVASmorais” sociais) cada vez que abrem a boca, na media, falam apenas babozeiras que só atiçam o ódio e animam a violência que cau­sará vítimas e mártires apenas a filhos dos que (quase) em nada se beneficiam das riquezas deste Moçambique.
- Esta quarta-feira Dhlakama orientou um comício na Beira, CAPITALda sua sempre fiel província de Sofa­la, PARA repudiar os resultados das eleições de 15 de Outubro passado publicados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) e pelo Secretariado Técnico de Adminis­tração Eleitoral (STAE) que o dão como derrotado, pela quinta vez consecutiva, desta frente a Nyusi, o Filipe, do partido Frelimo, que deverão ser homologados nos próximos dias pelo Conselho Constitucional (CC).
- Dhlakama diz que o comício da Beira foi o “pon­tapé de saída” de outros que tenciona orientar pelo país fora, PARA “agradecer o voto em si depositado pelo povo” no escrutínio de Outubro.
E MAIS, o líder da Renamo vem agora dizer que rejeita o estatuto de “Líder da Oposição”, por se tratar de uma artimanha da Frelimo/Governo para acomodá­-lo e fazê-lo resignar de “lutar pelo povo”.
“Esse estatuto de líder da oposição não é para mim. Pode ser até para Nyusi”, diz Dhlakama que se afirma vencedor das eleições e farto de ser “empurra­do” sempre que se prepara para se sentar na poltrona de Chefe de Estado de Moçambique, depois de assim ter sido eleito pelo povo.
“Com assessores, gabinete e carro pensam que posso esquecer o meu povo e ficar em Maputo acomodado, não é esse o Dhlakama, porque aqui na Beira e lá no norte pensam que ‘o nosso irmão (Afonso Dhlakama) vai ser comprado, vai ser líder da oposição’, isto não é o Dhlakama”, extremou o líder da Renamo.
- Dhlakama vai mais longe e promete formar Governo em Janeiro e diz que jamais baixará os braços, e avisa: “sei lutar. Sei lutar”.
Vale recordar que em 5 de Setembro de 2015, em plena sala magna do novel edifício da Presidência da República de Moçambique, Dhlakama avisou, alto e bom som, não estar disponível para negociar e/ou assinar um terceiro acordo de paz...
Posto isso, parecem estar mais que reunidos todos os ingredientes necessários PARA uma nova carnificina em Moçambique, porque o Nyusi, segundo a CNE e o STAE, eleito futuro PR de Moçambique com 57,03%, também, de facto, estará já a esboçar (senão mesmo já a fazer CONSULTAS) PARA formar o seu Gabinete, e não vejo coabitação alguma de dois executivos antagónicos nesta chamada Pérola do Índico.
Porque a mim não interessa um cenário de guerra, muito pelo contrário, como sempre digo quando faço este tipo de ALERTAS, termino fazendo votos sinceros de estar flagrantemente equivocado.
PS
- Para completar o quadro temos os sucessivos raptos e sequestros nas grandes cidades de Moçambique, com destaque para as de Maputo e Matola;
- Temos a multiplicação crescente de casos de roubos de viaturas e propriedades, não raras vezes “apimentados” com agressões físicas e violações sexuais;
- E, por enquanto, o conflito diplomático (que pode resvalar para outras modalidades) por causa da disputa fronteiriça (marítima) com a vizinha República da África do Sul, hoje governada pe­los “camaradas” do ANC, a fé dos comentários feitos semana passada em público na cidade da Beira pelo embaixador da França, Serge Segura, segundo os quais o assunto já corre os seus trâmites na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque...


Editorial do CORREIO DA MANHÃ – 27.11.2014

Lançamento de livro amanha em Portugal


Friday 28 November 2014

ESTATUTO DE LÍDER DE OPOSIÇÃO: UMA LEGALIZAÇÃO DO GOLPE DE ESTADO ELEITORAL


A introdução do processo da democratização das instituições políticas moçambicanas que, para o então Presidente da República (PR), Joaquim Chissano, e o Governo da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), era a condição incontornável para obter a aprovação e a tutela das potências ocidentais, no contexto da Nova Ordem Política mundial, a seguir à queda do muro de Berlim, em Novembro de 1989, para o presidente da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo), Afonso Dhlakama - que sempre procurou atribuir um cunho heroico à guerra civil dos dezasseis anos – a democratização do sistema político moçambicano é fruto maduro da guerra civil movida pela Renamo, contra o Governo da Frelimo. Esta interpretação, além de proteger Dhlakama contra qualquer tipo de acusação ou processo penal de crimes de guerra, confere-lhe o direito de autoproclamar-se o “pai da democracia moçambicana”.
Numa atmosfera de catadupa de acontecimentos de carácter pouco democráticos, contra todas as expectativas, O Governo da Frelimo - que ainda está a dever os eleitores a renúncia da manobra consistente em esconder-se atrás, ora da Comissão Nacional de Eleições (CNE), ora do Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE), ora do Conselho Constitucional (CC), e provar com 1+1 que Filipe Jacinto Nhysi venceu, efectivamente, as eleições presidenciais de 15 de Outubro - apressou-se através da Comissão Permanente da Assembleia da República (CPAR) a apresentar a proposta sobre o estatuto de Líder de Oposição que, uma vez aprovada pela V sessão extraordinária da Assembleia da República (AR), que decorre desde hoje, dia 26 de Novembro de 2014, Dhlakama passará a ter mais regalias, na sua qualidade de líder do maior partido de oposição no País.
Num País onde os cidadãos foram habituados a ver os “senhores da guerra” e todos os coniventes do circuito de crime organizado a ser premiados pelos seus actos abomináveis, pode parecer natural que, Anfonso Dhlakama, que durante toda a sua vida só fez guerra, tenha também o mesmo direito de ser premiado pelas atrocidades que cometeu. No entanto, tal premio, não só não é fundado sobre a mesma base que funda os prémios dos outros “senhores da guerra” existentes no País, mas ele contraria também os princípios democráticos que Dhlakama diz ter estado sempre a defender.
Estranhamente, a proposta sobre a instituição do estatuto de Líder da Oposição, a ser atribuído a Dhlakama, surge na sequência do anúncio feito pelo PR, Armando Guebuza , aquando da assinatura do Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, com Afonso Dhlakama, no dia 5 de Setembro do corrente ano. Em outras palavras, a CPAR apresenta a proposta como mecanismo de transformação em Lei do anúncio feito pelo PR. Portanto, uma conexão susceptível de consubstanciar as acusações frequentemente feitas ao Governo de Guebuza de interferir nos respectivos campos dos poderes legislativo e judiciário.
Alguns académicos que se ocupam de análises da questão política moçambicana já manifestaram a própria aprovação e apoio ao gesto de Armando Guebuza, argumentando que a positividade deste gesto reside no facto dele contribuir para a consolidação da paz que, segundo aqueles académicos, passa através de gestos de inclusão.
O que, na minha ótica, confere estranheza a toda a iniciativa sobre a criação de tal estatuto a ser atribuído a Afonso Dhlakama, é o facto da iniciativa ter sido anunciada nas vésperas das Eleições Gerais de 15 de Outubro, as quais tinham o mesmo Dhlakama como um dos concorrentes à presidência da República. Como se pode, racionalmente, enquadrar no contexto da assinatura do Acordo de Cessação de Hostilidades Militares, de 5 de Setembro, a promessa da instituição de um estatuto de Líder de Oposição, feita a Dhlakama pelo presidente do partido do seu rival na corrida à Ponta Vermelha? E como interpretar o pacífico acolhimento que tale promessa possa eventualmente obter da parte de Dhlakama e da Renamo? Por acaso o presidente visionário, Armando Guebuza, terá tido, antecedentemente, uma revelação sobrenatural dos resultados das V Eleições Gerais de 15 de Outubro? E, qual terá sido a reacção da Renamo? Quando no segredo dos “deuses” ficou revelado que Dhlakama e a Renamo não tinham a chance de vencer as V Eleições, estes preferiram eventualmente aceitar os “derivados do frango” – para fazer uso da lição magistral da Dra Lucília Hama – já que o frango em si estava reservado para os outros? Nesse caso, a opinião pública seria induzida a concluir que o próprio Dhlakama foi o principal cúmplice da “fantochada” eleitoral que posteriormente se fez de vítima publicamente. Em vez da obsessiva pretensão de ser o “pai da democracia moçambicana”, ter-se-ia comportado como um verdadeiro fantoche traidor do povo moçambicano.
Olhando atentamente para os acontecimentos que dominaram o cenário político moçambicano, no período entre 2013 e 2014, existem razões suficientes para suspeitar que alguns episódios possam ter induzido Dhlakama e a Renamo a deixar-se enganar (mais uma vez) pelas velhas raposas da Frente de Libertação de Moçambique.
Em primeiro lugar, o ano 2013 fechou com a clamorosa (e não indiferente) ascensão do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) no panorama político moçambicano. Além de renovar os próprios mandatos nas cidades de Beira e Quelimane, este partido conquistou também as cidades de Nampula e Guruè; e aumentou significativamente os próprios assentos nos Municípios de Maputo e Matola. Esta vitória retumbante do MDM nas eleições municipais de 2013 podia ter suscitado, nas hostes da Renamo, o fantasma de receio de perder a posição de maior partido de oposição, nas V Eleições Gerais.
Em segundo lugar, a Renamo – um partido/movimento cujo modus operandi interno continua a ser caracterizado por uma rígida emanação de todas as soluções de todos os problemas da boca do “grande chefe” - ficou muito desgastado quando o Governo da Frelimo, a seguir ao fracassado blitz de Sadjundjira (que visava eliminar Dhlakama), adoptou a estratégia de encurrala-lo num lugar incerto nas matas de Gorongosa.
Se se provasse que a iniciativa de Armando Guebuza de institucionalizar o estatuto de Líder de oposição e de atribuí-lo a Dhlakama fosse de comum acordo com este último e a Renamo, então, estes dois episódios poderiam representar o motivo que teria induzido a Renamo a procurar ou a aceitar a oferta de um “sujo” acordo, para garantir a conservação da posição de maior partido de oposição.
Além das duas primeiras razões que se prestam para cogitar a possível existência de um acordo/compromisso entre os dois históricos rivais (a Frelimo e a Renamo), recuando um pouco na memória, poder-se-ia notar que foi também suspeito a modalidade com que foi aprovada a Nova Lei Eleitoral que regulamentou as mesmas V Eleições Gerais: a Frelimo e a Renamo estavam de costas viradas e as negociações no Centro de Conferências Joaquim Chissano (CCJC) tinham sido interrompidas no dia 28 de Outubro de 2013, na 24ª ronda, alegadamente porque a Renamo exigia a presença de facilitadores e observadores, capazes de aproximar as posições das partes, de modo a evitar impasses registados nas anteriores 24 rondas. De “improviso”, no encontro da 26ª ronda, realizado no Sábado, dia 1 de Fevereiro de 2014, os históricos rivais ultrapassam os principais obstáculos e deram a conhecer que dentro de uma semana seria convocada uma sessão extraordinária ou antecipada à sessão ordinária da AR, para a Revisão da Lei Eleitoral, com vista a acomodar as exigências da Renamo.
Foi estranho para muitos moçambicanos que a questão da paridade nos órgãos eleitorais, cujo desacordo tinha “obrigado” Dhlakama a regressar ao mato, induzido o Governo da Frelimo a concentrar enormes recursos financeiros na aquisição de material bélico, custado o sangue de um número desconhecido de moçambicanos e obrigado Dhlakama a viver como um animal de caça num “lugar incerto”, tenha encontrado, na 26ª ronda, um entendimento miraculoso que não tinha sido possível encontrar nas precedentes 24 rondas. No Editorial, da edição Nº 238, do dia 5 de Fevereiro de 2014, o editor do semanário Canal de Moçambique, Fernando Veloso, observava que se Dhlakama entrasse num compromisso que ajudasse a Frelimo a ganhar tempo para resolver a sua crise interna, então, ele “ficaria para a história como um desconseguido”.
O acordo sobre a Nova Lei Eleitoral e o desbloqueio no impasse das negociações no CCJC foram possíveis graças a contactos diretos, de forma secreta, nas instalações da AR, com a desculpa de ser a forma melhor encontrada para ultrapassar a crise, o mais rapidamente possível. Este secretismo indignou muitos moçambicanos que se interrogavam “que assuntos secretos estavam a tratar, a Frelimo e a Renamo, sobre o pacote eleitoral, que não interessavam os outros partidos e a inteira população moçambicana”!
Já nessa altura, e neste mesmo espaço, publiquei um artigo – O Juízo Final: Dhlakama e a Democracia (ainda disponível online) – mostrando que existiam muitas razões para suspeitar que Dhlakama e a Renamo estavam a repetir a carta errada de 1994 e 2009; que a sua maior preocupação tinha deixado de ser aquela de conquistar o poder e se tinha reduzido àquela de impedir que um outro partido de oposição chegasse ao poder ou conquistasse o segundo lugar.
Se a questão do estatuto de Líder de Oposição, a ser atribuído a Dhlakama, fosse capaz de provar que o próprio Dhlakama foi o maior conivente de Guebuza na engenhosa construção da “fantochada” eleitoral, como é que se poderia, então, enquadrar o comportamento da Renamo que, no dia 28 de Outubro de 2014, no encerramento da Conferência Regional Centro e Norte de Moçambique – reagindo à indicação dos resultados parciais anunciados pelas Comissões Distritais e Provinciais, que davam por vencedor Filipe Nyusi e a Frelimo – reivindicou a vitória do seu candidato, Afonso Dhlakama, com cerca de 80%?
A hipótese mais provável seria admitir que Afonso Dhlakama e a Renamo tenham falhado os cálculos; que eles não tenham percebido que os eleitores moçambicanos iam às urnas das V Eleições Gerais determinados a punir os corruptos falcões da Frelimo e a “vara” preferida com a qual castigar a Frelimo era, precisamente, Dhlakama e a Renamo. E quando se deram conta já era tarde. A contraparte do “sujo” acordo tinha já orquestrado tudo de modo a assegurar que o “frango” ficasse para si e as “miudezas do frango” fosse para a Renamo. A máquina já tinha sido acionada e não se podia voltar para atrás.
A instituição do estatuto de Líder de Oposição e a sua subsequente atribuição a Afonso Dhlakama, embora tenha a possibilidade de obter a aprovação da opinião pública moçambicana que poderá ver nisso um reconhecimento do homem que em várias circunstâncias agiu como seu representante na luta contra a governação desastrosa do dia, a médio e longo prazos poderá constituir um atentado contra o recém-nascido e frágil processo da democratização das instituições políticas moçambicanas.
Se por uma lado, pode-se admitir que a instituição do estatuto de Líder de Oposição e a sua subsequente atribuição a Afonso Dhlakama possa contribuir para a “pacificação” do País, por outro lado, a aceitação deste estatuto, da parte de Dhlakama e da Renamo poderá (com maior probabilidade) confirmar, na opinião pública, duas suspeitas: primeiro, que a proclamação de Filipe Jacinto Nyusi como vencedor das eleições de 15 de Outubro seja resultante de um “cozinhado” feito nos computadores da CNE e do STAE, e a sua presidência da República seja uma incontornável imposição, da parte dos totalitários do regime da Frelimo. Segundo, que tenha existido “sujos” acordos entre os dois históricos rivais, que visam acantonar a ameaça representada pelo crescimento da popularidade do MDM no cenário político moçambicano, e manter os cidadãos reféns do bipolarismo dominado pela hegemonia exercitada pela Frente de Libertação de Moçambique.
A consequência da consolidação destas duas suspeitas, na opinião pública, seria fatal: um desinteresse total pela política, da parte dos cidadãos. O povo sentir-se-ia traído, enganado e gozado pelos políticos. E daí, o suposto “pai da democracia moçambicana” passaria a ser acusado de filicídio (assassinato do próprio filho).



Professor Alfredo Manhiça, Facebook

Os bons, os maus e os ilusionistas


 Aparentemente, num futuro muito próximo, o país vai passar a ser dirigido por um elemento da oposição, oriundo das fileiras da organização que está no poder. Pelo menos esta é a conclusão a que se chega, quando se assiste à actuação dos ilusionistas
 Qualquer pessoa que já tenha assistido a meia dúzia de episódios de alguma série policial na televisão, já conhece aquela cena do “polícia bom” e do “polícia mau”. O polícia mau faz ameaças, é arrogante e arruaceiro; o polícia bom é bem-falante, é moderado e dialogante. O polícia mau fala mais ou menos assim: “Se não fizeres o que nós queremos, nós acabamos contigo. Nós é que somos o poder”. Depois, sai da sala. Logo a seguir, entra o polícia bom e fala mais ou menos assim: “Não ligues ao meu colega. Ele é da velha guarda, já está ultrapassado. Eu estou aqui para te ajudar. Basta tu quereres. Vais ver que, se colaborares connosco, vais-te sentir mais bem-disposto e até ganharás prestígio, depois é que vais sentir os benefícios. Isto é um processo, compreendes?”.
Ou aquela instituição é boa, e o polícia mau é um infiltrado, que está a agir contra os interesses da organização, ou aquela instituição é má, e o polícia bom é um infiltrado, que está a agir contra esses mesmos interesses. Ou a instituição não é boa nem é má. Tem uma finalidade. Tem um objectivo. E todos os que lá estão dentro é porque lá querem continuar, e trabalham para esse mesmo objectivo.
 E é aqui que entram em cena os ilusionistas, As historietas sobre uma “ala dura” e uma “ala moderada” ou uma “ala radical” e uma “ala dialogante” não são mais do que a transposição da cena do “polícia bom” e do “polícia mau” para aplicação na política, a fim de produzir truques de ilusionismo. E esta manobra só não pode ser considerada demasiado infantil, porque as crianças são geralmente mais dotadas de imaginação do que estes maduros ilusionistas.
 A aflitiva pobreza de imaginação destes ilusionistas revela-se também no facto de que a sua conversa é a cópia integral da mesma conversa de há dez anos: “desta vez é que é”, “agora é que vai ser”, “combate à corrupção”, “luta contra a pobreza”, “qualidade da educação”, bláblá… bláblá… quá… quá… quá… Conversa para patos! E a conversa até é rentável, porque há sempre patos ansiosos por acreditar nestas patacoadas.
 Este truque de ilusionismo é conhecido como a “técnica do balão de oxigénio”: quando o paciente já esteja a sentir-se demasiado asfixiado, e eventualmente prestes a rebelar-se, injecta-se-lhe mais uma dose de aldrabices no cérebro, para que ele fique serenado por mais cinco anos, à espera de melhores dias. O que é preciso é ir sempre tentando ganhar mais algum tempo,
 A invenção das “alas” é uma obra de engenharia ideológica que tem um objectivo bem definido: fazer crer que a solução vem de dentro da organização que está no poder e que a alternativa para essa organização é ela mesma. É a estratégia de eternização no poder, disseminada por ilusionistas que se movimentam nos círculos desse mesmo poder e que querem a todo o custo evitar perder as benesses que o poder instalado lhes proporciona. Por isso não é de admirar que o discurso produzido pelos ilusionistas coincida inteiramente com o discurso produzido pela inventada “ala benigna”, também designada pelos ilusionistas como “reserva moral” da organização. Que essa “moral” é reservada, isso nota-se bem. É tão reservada, tão reservada, que nunca se viu que tivesse produzido alguma alteração no rumo da organização.
 A invenção das alas é uma manobra de diversão, que visa desviar a atenção dos cidadãos daquilo que é o problema essencial: como se libertar do jugo daqueles que transformaram um país inteiro em sua propriedade privada.
 Há apenas um vislumbre de imaginação diminuta da parte dos ilusionistas, e que consiste numa tentativa patética de modernização da teoria das alas, passando, agora, a falar-se na existência de duas organizações dentro da mesma organização.
 Toda a organização cerrou fileiras em torno do seu candidato durante a campanha eleitoral. Toda a organização se desdobra em elogios ao candidato dito eleito. E aparecem os ilusionistas a dizer que ele representa certos sectores da organização que querem fazer agora as mudanças que nunca quiseram fazer antes. Devem ser uns sectores muito secretos, porque ninguém consegue ver esses sectores, e só os ilusionistas é que sabem da sua existência.
 Estes passes de magia exibidos pelos ilusionistas pretendem fazer desaparecer da vista dois factos elementares. Primeiro: o candidato dito eleito foi designado dentro da sua organização por quem tem o poder real dentro dela. Segundo: no dia em que ele der algum passo contrário aos interesses daqueles que sempre têm comandado a organização e que vão continuar no comando da mesma, o candidato então já empossado é enviado para férias vitalícias.
 Entre os ilusionistas em geral, existe um tipo especial de ilusionistas. Este tipo de ilusionista é parente de uma certa espécie de camaleão, não aquele camaleão que muda de cor conforme o ambiente dominante, mas um tipo de camaleão que exibe várias cores ao mesmo tempo. É mais do tipo gala-gala, sempre desejoso de subir.
 São aqueles ilusionistas que vão fazendo umas críticas “construtivas”, vão dizendo que parece que o processo eleitoral foi decepcionante, e depois acabam a saudar o candidato que foi nomeado como vencedor por um grupo especial de dez cidadãos designados para cumprirem essa exacta missão, a até oferecem umas sugestões de “boa governação” ao candidato, como se ele estivesse lá para isso.
 No fundo, estes ilusionistas alimentam em si a secreta esperança de um dia poderem vir a ocupar uma cadeira naquela mesa situada na tribuna do banquete das quizumbas.

(Afonso dos Santos, Canalmoz)

Thursday 27 November 2014

Dhlakama ameaça formar governo a partir de Janeiro



Olíder da Renamo diz que não pretende ser Presidente da República e fala de uma solução negociada para este cargo,mas realça que tem legitimidade para ser Chefe de Estado



O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou, ontem, na cidade da Beira, a intenção do seu partido formar, em Janeiro próximo, o Governo para dirigir os destinos do país nos próximos cinco anos.
Na sua chegada à capital de Sofala, onde inicia uma digressão de cinco dias pelo centro do país, Dhlakama assegurou que vai avançar com esta ideia, caso a Frelimo, que já foi declarada vencedora pelos órgãos eleitorais, não aceite a proposta da “perdiz”, que passa pela formação de um governo de gestão.
“Só sei que eu e o meu partido ganhámos e vamos governar este país. Não estamos em 1994, nem em 2009”, disse Dhlakama a jornalistas, e acrescentou: “Voltaram a roubar-nos e já não vamos permitir mais brincadeiras. Não queremos confusão.
Sabem que sei lutar e que a Renamo é lutadora, aliás, nós é que lutámos pela democracia neste país. Estamos cansados de ser roubados e sermos empurrados para confusões”, acrescentou.
O líder da Renamo diz que não mais vai voltar a enveredar pela guerra para as suas reivindicações e explica a sua nova estratégia.
 

Luz!

Sorriso matinal!

Há interesses obscuros

 
O investigador do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), António Francisco, diz estranhar o rumo que o diálogo está a tomar numa altura em que faltam pouco mais de dois meses para o fim do processo de reintegração dos homens homens da Renamo e não se vislumbram soluções palpáveis.
O académico diz comungar da opinião de que o pedido da Renamo é justo, desde que seja feito dentro de padrões aceitáveis e que não seja fonte de esbanjamento do erário público.
António Francisco condena a táctica governamental de diabolizar a sua contra parte.
Segundo António Francisco, este assunto devia ser tratado com respeito, consideração e profissionalismo entre as partes e não na busca de protagonismo, porque o povo está à espera de resultados do debate, por forma a garantir de uma vez para sempre a estabilidade.
Contudo, diz que pode haver interesses obscuros por detrás da polémica e “um plano B” que o Governo pretende accionar, logo que parecer conveniente.
“Isto porque ainda se aguarda com muita espectativa pelo veredicto do Conselho Constitucional (CC) face às últimas eleições e notando o ambiente que as norteou, como as irregularidades, os relatórios das missões de observação que criticaram o processo”, considera António Francisco .

Savana, 21-11-2014

Wednesday 26 November 2014

Zeca Caliate lança " A odisseia de um combatente*"

 

Capa7








Antigo guerrilheiro e comandante da Frelimo fala dos tempos da luta pela Independência e revela as suas profundas divergências com o partido no poder.
" A odisseia de um combatente" é uma obra a ser apresentada em Lisboa no próximo dia 25*. Seu autor Zeca Caliate, antigo combatente e comandante da Frelimo, que deixou o partido por altura da Independência Nacional, em clara rota de colisão com a organização então dirigida por Samora Machel.
No prefácio do livro Zeca Caliate escreve: "Esta crónica destina-se muito especialmente aos meus ex-camaradas e combatentes da luta pela Independência de Moçambique. Em particular para aqueles que, de lés-a-lés, “labutaram” ao meu lado nas mesmas trincheiras, desde 1963, na clandestinidade no país de Hasting Kamuzu Banda, no Malawi; em Setembro de 1964, na guerra na Zambézia; em Tete até junho de 1973. Todos em prol da justa causa pela  Independência Nacional do nosso país, Moçambique!"
Exilado em Portugal,  Zeca Caliate falou  na rubrica Artes & Entretenimentos, da VOA, sobre a sua obra e explica como surgiu o livro "Odisseia de um combatente".


Fontes: VOA e Moçambique para todos
 

Publiquem os editais!

Senhores, afinal onde estão os Editais? Então esse espírito de aceitar trafulhices no lugar de jogo eleitoral limpo vem donde?
É incrível que ninguém consiga explicar onde estão os Editais de apuramento dos resultados das eleições de 15 de Outubro! O facto de até hoje estes andarem em ‘parte incerta’ só aumenta o nível de desconfiança e suspeição do processo eleitoral. Grande parte dos eleitores, dos observadores nacionais, alguns internacionais e dos observadores nacionais, alguns internacionais e mesmo daqueles que acompanharam o processo a partir dos meios de comunicação social é unânime quanto às escandalosas irregularidades ocorridas nas eleições moçambicanas que afectaram o resultado final. Quando o Presidente Dhlakama aponta a criação de um Governo de Gestão como provável alternativa para se sair deste imbróglio noto tratar-se de uma saída para muitos  simpatica.
Sejamos sérios meus senhores! Houve fraude! Que outras saídas os senhores apontariam? Que apontem pois o tempo é este. Repetir as eleições seria o ideal, mas estaríamos também a repeti-las cientes de que o vírus que mancha os processos eleitorais moçambicanos ainda está dentro do circuito
 e em condições de manipular os processos.
Infelizmente, há muita gente cúmplice das sucessivas fraudes que ocorrem nos pleitos eleitorais nacionais. Pessoas que traindo ao povo, ignorando a vontade popular, por mero egoísmo e em defesa de seus interesses pessoais, contribuem para que a vontade dos moçambicanos e das moçambicanas não seja a que vinca no final de cada eleição. Eu não consigo perceber o que leva certas pessoas instruídas a não pautarem por contribuírem para a moralização da sociedade. Ensinam tácticas de manipulação a troco de dinheiro, promoções para assegurar o poder e depois se espantam com o recrudescimento da corrupção.
Será que não se consegue ganhar eleições de forma limpa? Talvez seja caso para as velhas glórias que trouxeram a independência perceberem que em Democracia é o povo quem manda. Em Democracia não há campo para ditadores, nem para ditaduras, pois cedo ou tarde o poder pode ser resgatado pelo legítimo dono: o povo.
Moçambique saiu recentemente de mais uma experiência de resistência e luta pela reposição dos princípios democráticos. Mais uma vez os moçambicanos manifestaram seu compromisso com a Paz.
Que Paz se constrói com batota? Somos um povo pacific e lutador. Pedimos o básico, mas nem isso temos. Somos governados por alguns dirigentes insensíveis e são esses que não querem que a democracia floresça. Roubam votos, promovem arruaça, desmandos e abusam da autoridade que ainda têm. Aqueles mais sensatos deviam chamá-los à razão e explicar que estão a exagerar.
Queremos que sejam divulgados os Editais das últimas eleições. Haja paciência! É muito triste ver que a gravidade das irregularidades registadas, devidamente localizadas e denunciadas foram simplesmente ignoradas pelos administradores eleitorais e pelos guardiões da legalidade.
Acham que nos Estados Unidos da América umas eleições como as nossas teriam sido validadas? Nem pensar! Acham que na França, Alemanha, até ali em Portugal ( país de quem herdamos o Português) algum Tribunal sério validaria essas eleições que tivemos aqui em Moçambique? Em Democracias sérias esse tipo de irregularidades não teriam sido perdoadas por nenhum conselho eleitoral, tão menos validadas pelo organismo competente. Disso tenham certeza! Então esse espírito de aceitar trafulhices no lugar de jogo eleitoral limpo vem donde? Será que dá gosto governar quando sobre si pesam acusações terríveis como essa de ter manipulado os resultados eleitorais? Perdeu-se mesmo a vergonha? Mas quem irá convencer a população de Sofala, Manica, Tete, Zambézia Nampula, parte do Niassa de que a Frelimo ganhou as eleições?
Quem? Se até aqui em Maputo até membros da Frelimo questionam quem nela votou? Dizem de viva voz que o seu partido tornou-se arrogante e distante do povo quase está irreconhecível essa frente outrora comunista. Parece piada sabe, mas está a acontecer debaixo do nosso nariz: as tramoias que se viram nestas eleições e devidamente documentadas pelos partidos da oposição estão a ser liminarmente ignoradas por quem de Direito.
E o povo sente-se traído. Em Gaza o povo terá mais cinco na mesma pobreza que caracteriza aquela província. Em Maputo Cidade não se sabe quando é que o My Love passará para a história. De Cabo Delgado, Inhambane e Maputo Província o que dizer? Seja como for, gostaria que os senhores de bom senso pudessem pensar no país que queremos construir e que procurem influenciar aos achados radicais.
Esse radicalismo só tem ajudado a aumentar as assimetrias regionais, o descontentamento popular, a impopularidade da quase cinquentenária Frelimo, a arrogância de uns poucos. Voltando ao que me levou a escrever estas linhas: publiquem os Editais das eleições de 15 de Outubro. Não neguem isso ao povo! Aí cada um poderá comparar os Editais que tem com esses cuja publicação dá vitória a quem o povo batendo de pés juntos, jura não ter dado o seu voto. A publicação dos Editais de apuramento eleitoral de cada mesa mostra-se imperiosa.

 
 
Ivone Soares,    Savana,  21-11-2014

 

Dhlakama apela à calma e diz que no momento certo vai agir



O presidente da Renamo aceitou dar uma Grande Entrevista ao “Canal de Moçambique”, para esclarecer um conjunto de questões e situações que são colocadas agora que se espera que o Conselho Constitucional dê o veredicto final, pelo menos no plano oficial e legal, sobre as eleições de 15 de Outubro passado. Expôs o seu pensamento sobre o Governo de Gestão de cinco anos que pretende, perante a crise eleitoral, e que deve vigorar até 2019. Dhlakama diz que o estatuto de Líder da Oposição que a Frelimo preparou não é para ele: “Pode ser até para Nyusi”. Diz que não vai aceitar esse estatuto, porque seria trair elementos que diz prezar bastante: a sua consciência, o povo e a sua luta. Sobre a fraude, diz que está à espera do Conselho Constitucional “dizer o que vai dizer”, para ele “actuar politicamente”, segundo as suas palavras. Falou também da decepção que teve com Salomão Moyana. Sobre alegadas percepções de que estaria a ser comprado pela Frelimo para aceitar a fraude, Dhlakama deixou um aviso: “Eu não seria digno de pegar nos meus netos ou filhos se aceitasse isso. Vamos ver”. Leia na íntegra a entrevista conduzida pelo nosso colega Matias Guente, no semanário “Canal de Moçambique”, que já está nas bancas.



Canalmoz

Photo: Dhlakama apela à calma e diz que no momento certo vai agir
“Não vou decepcionar o meu povo” (#canalmoz)

Maputo (Canalmoz) – O presidente da Renamo aceitou dar uma Grande Entrevista ao “Canal de Moçambique”, para esclarecer um conjunto de questões e situações que são colocadas agora que se espera que o Conselho Constitucional dê o veredicto final, pelo menos no plano oficial e legal, sobre as eleições de 15 de Outubro passado. Expôs o seu pensamento sobre o Governo de Gestão de cinco anos que pretende, perante a crise eleitoral, e que deve vigorar até 2019. Dhlakama diz que o estatuto de Líder da Oposição que a Frelimo preparou não é para ele: “Pode ser até para Nyusi”. Diz que não vai aceitar esse estatuto, porque seria trair elementos que diz prezar bastante: a sua consciência, o povo e a sua luta. Sobre a fraude, diz que está à espera do Conselho Constitucional “dizer o que vai dizer”, para ele “actuar politicamente”, segundo as suas palavras. Falou também da decepção que teve com Salomão Moyana. Sobre alegadas percepções de que estaria a ser comprado pela Frelimo para aceitar a fraude, Dhlakama deixou um aviso: “Eu não seria digno de pegar nos meus netos ou filhos se aceitasse isso. Vamos ver”. Leia na íntegra a entrevista conduzida pelo nosso colega Matias Guente, no semanário “Canal de Moçambique”, que já está nas bancas. (Redacção)

 

Aafonso Dhlakama na Beira







Escute a entrevista com Dhlakama aqui!

Tuesday 25 November 2014

Apenas perguntando...

Ja apareceram os Editais eleitorais?
Pacheco ja apresentou as provas dos pagamentos a Renamo?

Acompanhando as notícias...

Mais um empresário raptado em Maputo
Dhlakama percorre país para explicar posição da Renamo face a alegada fraude
Instrumentalização da imprensa pública e dos tribunais volta a ser assunto nas negociações
José Sócrates em prisão preventiva

Monday 24 November 2014

Integração de homens da Renamo: Falta consenso


A 85ª ronda do diálogo político entre o Governo e a Renamo, que hoje teve lugar hoje, em Maputo, terminou sem consenso quanto ao modelo de integração das forças residuais do maior partido da oposição em Moçambique nas Forças de Defesa e Segurança (FDS), no âmbito do acordo de cessação das hostilidades.
O chefe da delegação do Governo, José Pacheco, disse não se tratar de divergências, entanto que tal, mas sim problemas de interpretação dos dipositivos referentes a integração das forças residuais da Renamo.
Para uma integração correcta, o Governo continua a privilegiar a entrega de uma lista exaustiva dos militares da Renamo beneficiários deste processo, de acordo com a patente que cada um ostenta.
 Sobre esta matéria, o chefe da delegação da Renamo no diálogo, Saimone Macuiane, disse que o seu partido exige que ao nível das FDS haja uma partilha de responsabilidades no comando, “o mesmo que dizer onde o Comandante vem da parte do Governo, o vice deve vir da Renamo e vice-versa. O mesmo teve acontecer em relação a polícia”.
Na Força de Intervenção Rápida (FIR) e na Guarda-Fronteira, segundo Macuiane, a Renamo defende uma partilha de efectivos, por isso ainda não há consenso quanto a forma de integração.
 Entretanto, na ronda desta segunda-feira, as partes analisaram o trabalho realizado pelos peritos militares durante a semana e examinaram o processo de integração e, segundo Pacheco, constatou-se haver avanços na procura de formas para confortar a Renamo e que o trabalho prossegue a bom ritmo.
“Na sessão foi também analisada a programação e avaliada a subequipa que vai entrar em funções na última semana de Novembro corrente e apreciado o instrumento apresentado pelos observadores militares internacionais sobre os seus direitos e deveres”, disse Pacheco.
Trata-se de um documento que prevê também situações de conflitos e questões de emergência que possam envolver observadores militares.
Ainda hoje, num dos intervalos da ronda, ensaiou-se a entrega de cinco viaturas para os peritos militares da Renamo, a pedido deste partido, facto que não chegou a acontecer porque, mesmo com as viaturas presentes, adiou-se a cerimónia para uma outra altura.
“Definitivamente as viaturas serão entregues a qualquer momento”, explicou Pacheco.

(RM/AIM)
 

O eixo Lisboa-Luanda-Maputo ainda vai produzir novidades

José Sócrates é simplesmente a ponta do iceberg


Beira (Canalmoz) – Sucessivos Governos de Portugal tentaram por diversos meios tratar do seu “dossier” colonial. Cada um à sua maneira e segundo uma perspectiva de minimizar riscos e prejuízos.
Quando era chamado à mesa o realismo, houve quem adoptou posturas paternalistas. Portugal tentou e procurou copiar modelos de cooperação com as suas ex-colónias, ao estilo da francofonia e da Commonwealth, mas tem sido efectivamente infeliz.
A sua posição e proximidade com as suas ex-colónias tem sido utilizada pela União Europeia e pelos EUA para agilizar processos e garantir influência contínua do Ocidente nestes países emergentes.
É um quadro geopolítico e estratégico complexo e com “nuances” inesperadas. Ao tentar manobrar e resistir a um ambiente por vezes hostil, Portugal sofre dos seus problemas endógenos na esfera económica, que empurram governantes para acordos nem sempre providos de ética e rigor. Negócios de Estado tornam-se negociatas em que os intervenientes sacam vantagens individuais num cenário organizado por especialistas em lubrificar os corredores do poder em Lisboa, Maputo e Luanda.
Ancorados em supostas alianças ideológicas, o Partido Socialista português tem sido o veículo principal de uma corrente permanente de negócios entre Portugal e alguns países africanos.
Os chamados dinossauros da política portuguesa, em que pontificam figuras como Mário Soares e Almeida Santos, são gente que merece atenção das autoridades judiciais de Lisboa bem como de Maputo e Luanda. Claro que será muito difícil alguma acção judicial em África contra políticos europeus. Mas a oportunidade existe de acabar com a impunidade criminosa nas relações internacionais. Trazer políticos que traficaram diamantes de sangue para a Justiça seria uma lição com grande valor. Da mesma maneira que a “Cobalt” é investigada em Washington por negócios ilícitos com generais angolanos na área de concessões petrolíferas, existem negócios entre bancos portugueses e outras empresas que precisam de um olhar rigoroso, porque se esconde muita roupa suja que está lesando os povos de Portugal, Angola e Moçambique.
O chamado “Prédio dos Angolanos” no Estoril de Lisboa mostra como esta cidade se transformou em capital do branqueamento de capitais para a nomenclatura angolana. Se a Justiça portuguesa se recusa a investigar, deve ter as suas razões, mas que o povo angolano é lesado pela impunidade de que gozam os novos-ricos de Angola, não se pode negar.
Alegada soberania misturada com negócios claramente duvidosos faz calar muito boa gente. A migração portuguesa para a África lusófona, feita sob justificação de que constitui uma forma de cooperação, tem de ser vista como válvula de escape para uma economia em derrapagem e crise profunda.
Se antes se traficava diamantes de sangue, hoje são arranjos empresariais, parcerias público-privadas e “inside trading” que pontificam.
É preciso ver a detenção de José Sócrates em Lisboa como uma zanga entre “comadres onde se descobrem as carecas”. A teia de negociatas dos “socialistas portugueses” em África abunda na blogosfera. Basta escrever Mário Soares no Google, que aparecem as mais diversas opiniões. Umas insultuosas, mas outras bem elaboradas e fundamentadas. Rui Mateus escreveu um livro agora retirado do mercado, havendo quem diga que alguém comprou a edição inteira. Outros dizem que ele é um tumor maligno a extirpar da democracia portuguesa.
Mas, na verdade, o que queria dizer é que José Sócrates teve “bons professores”, aprendeu bem a lição, alavancou-se e catalisou negócios chorudos, chegou a PM porque era obediente e calculista. Nunca se meteu caminho de MS.
Agora o que importa que os países façam é ter a coragem de varrer as suas casas. Reformular um modelo de cooperação que dignifique os cidadãos. Ir a Lisboa não pode ser só por via de “Visto Gold”, mas algo normal, da mesma forma como os portugueses viajam para Luanda e Maputo.
A esquerda ou direita portuguesa bem como os partidos políticos africanos têm responsabilidades inalienáveis na construção de uma CPLP vigorosa e com impactos que ultrapassem o turismo diplomático e alavancagem de negociatas e superlucros como a banca tem em Luanda e Maputo. Um banco que tem prejuízos em Lisboa não pode aparecer em Maputo a vender dinheiro a preços que escangalham poupanças e distorcem a economia real do país. Em nome do lucro, são perdidas oportunidades de viabilizar países, e o desenvolvimento desejado ou propalado não acontece.
Uma descolonização apressada e atabalhoada comandada por Washington e Moscovo deve ser uma lição para todos. Não produzirá resultados, se nos ficarmos pela lamentação e catalogação dos outros. Acções correctivas no sentido de eliminarmos a impunidade político-judicial nos nossos países são vitais.
Esconder crimes sob alegações de defesa da soberania é um crime maior, pois lesa milhões de pessoas em Portugal, Moçambique e Angola.
Tirar de cena os proponentes de engenharias financeiras vai contribuir para a derrota das engenharias eleitorais promovidas pelos que abominam a democracia.
Os nossos países precisam de deixar de ser o “Eldorado” de oligarquias nefastas e perniciosas.
Os “monstros sagrados” da política portuguesa, moçambicana e angolana já estão fora de prazo, como os factos não se cansam de mostrar.
O circuito de palestras que não se cansam de proferir já nada de novo trazem.
Admitamos que é o fim de uma era complexa.
A PGR de Portugal está mostrando serviço, ao colocar a lei no seu devido lugar e ao demonstrar que ninguém está acima da lei.
Os porões da política estão cheios de ratos que importa libertar para alívio dos povos.


(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

Dhlakama percorre país para explicar posição da Renamo face a alegada fraude

Maputo, 24 nov (Lusa) - O líder da Renamo inicia na terça-feira uma viagem pelo centro de Moçambique, para explicar à população a exigência de um governo de gestão face a uma alegada fraude eleitoral, anunciou hoje o principal partido de oposição.
Em conferência de imprensa realizada em Maputo, o porta-voz da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana),António Muchanga, disse que Afonso Dhlakama estará em Sofala entre terça-feira e quarta-feira, em Manica na quinta-feira e sexta-feira, e em Tete entre sábado e domingo, para encontros com a população.
"Neste trabalho que vai fazer naquelas províncias, vai conversar com as populações explicando a posição da Renamo em relação à fraude eleitoral perpetrada pelos agentes do STAE [Secretariado Técnico de Administração Eleitoral], vai propor a sua iniciativa de forma a garantir que o país não seja governado por aqueles que roubaram votos ou aqueles que se beneficiaram de votos roubados", afirmou na declaração que fez à imprensa.


Lusa

Sorriso


Zeca Caliate

Zeca Caliate é um antigo comandante da Frelimo, ele vive  em Portugal onde lançou um livro intitulado " A  odisseia de um guerrilheiro".

Escute a entrevista na Voz da América aqui !

Sunday 23 November 2014

Maprovoko !!!

Os portugueses vão investigar o dossier da venda de Cahora Bassa e das negociaçoes entre José Socrates e Armando Guebuza?

Saturday 22 November 2014

Carlos Cardoso

Carlos Cardoso foi assassinado em Maputo há 14 anos!

" É Proibido Pôr Algemas nas Palavras".

Sorriso matinal


Friday 21 November 2014

Baixa de Maputo terá outra face nos próximos 10 anos

 
Baixa de Maputo terá outra face nos próximos 10 anos Prédio "33 andares", um dos mais emblemáticos da baixa de Maputo/Foto João Costa

A baixa da cidade de Maputo, capital moçambicana, poderá aumentar a população de moradores de 12 mil para 60 mil, com a implementação durante os próximos 10 anos de um plano de requalificação aprovado esta terça-feira pelo Conselho Municipal desta urbe. O referido plano, que prevê a densificação do uso do solo urbano, está orçado em 230 milhões de dólares norte-americanos.
O vereador do Planeamento Urbano e Meio Ambiente do município de Maputo, Luís Nhaca, explicou que para a mobilização deste montante prevê-se o estabelecimento de público-privadas, bem como a introdução de algumas iniciativas, tais como a “Taxa de Desenvolvimento”.
“Estas taxas vão contribuir bastante para o investimento nas infra-estruturas públicas. Serão cobradas, não só aos promotores imobiliários, mas, também, aos edifícios que já existem”, disse Nhaca à imprensa, minutos após o término uma reunião municipal.
Segundo o vereador, o plano será apresentado à Assembleia Municipal para a sua aprovação, algo que poderá acontecer na próxima sessão. De seguida, o mesmo será submetido ao governo central, através do Ministério da Administração Estatal para a sua ratificação.
Além da construção de edifícios, o projecto municipal prevê a realização de trabalhos para a preservação do património histórico e cultural, bem como das potencialidades turísticas da baixa da capital moçambicana, que conta com uma excelente vista para a Baía de Maputo.
Questionado sobre a sorte dos vendedores informais, cujo número está calculado entre cinco a sete mil, Nhaca disse que o projecto de requalificação da baixa de Maputo inclui a identificação e construção de locais apropriados para regular aquela actividade.
Paralelamente à execução do projecto, segundo a fonte, também será acautelada a questão da mobilidade urbana.
“O plano não perspectiva essa acção, mas ajuda a trazer algumas soluções que devem ser consideradas, como o estabelecimento, na zona oeste da cidade, de uma estação intermodal de transportes, incluindo um elevador”, referiu.
Explicou que o elevador vai funcionar em direcção perpendicular ao Corredor Exclusivo para Transporte (BRT, sigla em inglês).
Assim, as pessoas que descerem desta terminal poderão, através do elevador, deslocarem-se com facilidade até à baixa da cidade.
Com este projecto, o município de Maputo prevê um crescimento das suas receitas, resultantes das cobranças do Imposto Predial Autárquico, devido ao aumento do parque imobiliário. Acresce ainda a cobrança de impostos de uma actividade comercial mais organizada.
 
(RM/AIM)

Sorriso matinal


Thursday 20 November 2014

Justiça moçambicana vulnerável com "superpoderes" do Presidente - Ex-bastonário

O antigo bastonário da Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) Gilberto Correia considera que o chefe de Estado moçambicano goza de "superpoderes" na nomeação dos titulares dos órgãos de Justiça, que tornam o setor vulnerável.
"Estes superpoderes do chefe de Estado vulnerabilizam o poder judicial, quer no que diz respeito à pretendida independência, quer ainda no que toca à desejada interdependência", afirmou Gilberto Correia, apresentando o tema "O Direito de Defesa em Moçambique", durante o II Congresso da OAM, que se iniciou na quarta-feira, em Maputo.
Para o ex-bastonário da OAM, a Justiça moçambicana é permeável às influências políticas, uma vez que os seus dirigentes de topo são nomeados pelo chefe de Estado, que é, normalmente, presidente do partido vencedor das eleições gerais.



Lusa

Wednesday 19 November 2014

China "engole" florestas moçambicanas

Em Moçambique, a Justiça Ambiental diz que o Governo não tem controlo sobre a floresta e acusa-o de não facultar dados sobre o desmatamento. A corrupção é um mal que floresce com o abate das árvores, denuncia a ONG.
Toros de madeira a saírem de Guro, província central de Manica
As florestas desaparecem a olhos vistos em Moçambique, sem que medidas concretas surjam para pôr termo à situação. A maior parte da madeira é cortada ilegalmente, ou sem obedecer aos critérios previstos na lei, e tem como destino principal a China.
De acordo com a Agência Britânica de Investigação Ambiental, cerca de 93% da madeira moçambicana vai para a China. O organismo também prevê que as reservas comerciais deste bem em Moçambique possam acabar em 2029.
Anabela Lemos, diretora da ONG moçambicana Justiça Ambiental, não poupa críticas às autoridades. "Há um descontrolo total no sistema florestal que não é de agora. Não é só este relatório, desde 2006 que andamos a chamar a atenção e a fazer estudos e várias recomendações ao Governo para haver um controlo, uma monitorização e autorizações controladas."


Violação de leis e dados falsos

Além disso, escasseiam dados sobre a comercialização para a China. "Para termos a certeza temos que ir à China confirmar e os dados são aldrabados, nos controlos há corrupção em todo o sítio", explica a diretora da Justiça Ambiental.
Já no ponto de saída da madeira tudo corre mal, mesmo dentro do sistema de justiça. De acordo com Anabela Lemos, "mesmo quando se apreende a madeira ilegal e o caso vai a tribunal, a própria companhia, aqueles que cometeram o crime acabam por comprar a madeira. Por isso é completamente de baixo para cima um descontrolo total e só há esse descontrolo quando não há interesse em resolver o problema."
Desde 2010 é proibido exportar madeira em toros, especialmente as espécies de primeira qualidade, que são sete, como por exemplo a chanfuta e o jambirre. Mas a lei continua a ser violada, denuncia a Justiça Ambiental.

Corrupção
Os cofres do Estado já perderam cerca de 108 milhões de euros só em taxas, revela ainda a Agência Britânica de Investigação Ambiental. Por outro lado, as comunidades que vivem perto dessas áreas, e que têm o seu sustento ligado ao setor florestal, estão a ser lesadas com o abate desenfreado da floresta.
Anabela Lemos cita a lista de danos: "A madeira é cortada ilegalmente, é comprada aos madereiros ilegais a um preço mínimo. Se fosse comprada a um preço justo a necessidade do corte diminuía. Não é o caso e isso afeta as comunidades."
Do ponto de vista do ecossistema há outras consequências, como a destruição em si das florestas. "Não é só a árvore, é tudo aquilo que a sustenta, toda a sua biodiversidade", sublinha a responsável, referindo ainda que a corrupção é fomentada "a todos os níveis."
Há alguns anos, altas figuras do Governo moçambicano, como o ministro da Agricultura José Pacheco, tiveram os seus nomes envolvidos no abate ilegal e comércio de madeira, mas até hoje não foi provada a sua ligação.

ONGs e autoridades de costas voltadas?
Também a relação entre as ONGs de defesa do ambiente e as instituições do Governo responsáveis pelas florestas é péssima, revela a diretora da Justiça Ambiental.
"Quando se começou a levantar o problema das florestas em 2006, 2007 e 2008, tivemos um pouco de esperança de que, realmente, se ia fazer uma paragem das licenças simples, fazer controlos e montar sistemas de monitorização e que a sociedade civil iria trabalhar em conjunto e apoiar naquilo que fosse necessário."
No entanto, segundo a diretora da Justiça Ambiental, "foi uma esperança que muito rapidamente morreu, porque não houve vontade nenhuma por parte do Governo em ter esse apoio ou de querer trabalhar em conjunto com as organizações da sociedade civil."
Madeira a ser preparada para a produção de carvão na província central de Sofala



DW

“Renamo é único partido que pode arrastar o governo ao diálogo”

Luís de Brito do IESE dispara
 
O Director do Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), Luís de Brito, disse na semana passada em Quelimane que a Renamo é único partido neste país que pode forçar o governo a qualquer diálogo. Brito, falava a margem do lançamento do livro “Desafios para Moçambique 2014”, acto que teve lugar no auditório da Faculdade de Ciência Políticas e Sociais, da Universidade Católica de  Moçambique, UCM, delegação de Quelimane.
Segundo aquele académico, este diálogo, só pode acontecer com armas nas mãos olhando a forma como o governo tem sido relutante. Comentando a parte política deste livro, Luís de Brito começou por contextualizar o Acordo Geral de Paz, assinado em Roma, capital da Itália em1992, onde a obra questiona se foi um bom ou mau acordo. Nesta sua dissertação, a fonte foi mais longe ao afirmar que o país está num momento não muito bom, sobretudo depois das eleições de 15 de Outubro passado cujos resultados ainda estão por serem validados pelo Conselho Constitucional (CC).
Há riscos da paz ser ameaçada
Ao longo desta sua explanação de Brito, olhou o país com tristeza e explicou que há risco da paz estar ameaçada, por isso, os moçambicanos estão em eminência de voltarem a ouvir novamente o som das armas de fogo. Tudo porque os resultados eleitorais que quase todos contestam, em particular a Renamo, por sinal partido com armas que força muitas vezes o governo ao diálogo.
Aliás, a fonte explicou que os resultados eleitorais anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) mostram claramente que a fraude esteve patente no escrutínio, dai que custa acreditar. “Há muitas dúvidas sobre estes resultados” -lamentou o director do IESE para depois acrescentar que “todos estamos em dúvidas de quem ganhou as eleições por causa das tamanhas irregularidades registadas” - rematou.
Governo Inclusivo
Quanto a este tema, o académico Luís de Brito diz que inclusão não significa pegar membros da oposição e colocar no governo. Para de Brito, inclusão significa que o governo que for declarado saber respeitar o outro partido mais votado, sobretudo, naquelas provinciais onde o maior número de votos, ou por outra, onde um candidato perdeu deve-se respeitar a vontade popular, consultando as pessoas que lá estão, sobre o que pretendem para as suas vidas.
A fonte, acredita que isso sim é que significa a partilha de poder. Recorde-se que Afonso Dhlakama, líder da Renamo, sempre falou de governo inclusivo.

( Atónio Zefanias, Diário da Zambézia, 19/11/14)

DOS MÍSEROS 405 MIL METICAIS DE QUE TANTO FALAM



• Enquanto o valor solicitado pela delegação da Renamo ao diálogo político seria pago em 135 dias, um Juiz-conselheiro do Tribunal Administrativo poderia pagar este valor em apenas dois meses do seu salário.
• O custo da diária de um funcionário do Estado em viagem ao exterior custa em média, o dobro do que é solicitado pela delegação Renamo
• Em época festiva, o Estado jamais abdicou de comprar cabazes para seus funcionários e os ministérios se desdobram em festas de fim-do-ano, gastando em média o dobro do solicitado a nível nacional.
O meu principal argumento é que podemos discordar da solicitação mas não podemos ridiculariza-la. E, existem no estado, hábitos nocivos, adbicáveis, que deveriam igualmente arrepiar os que ora ridicularizam o pedido dos membros da Renamo às negociações no CCJC.


_______________________________________
Receei bastante antes de comentar a insistência de alguns sectores nos números irrisórios avançados pela delegação da Renamo ao diálogo político que decorre no Centro de Conferências Joaquim Chissano em Maputo, CCJCC. Mas antes, ponhamos as coisas em perspectiva através de algumas perguntas.
DO TRABALHO
O escopo do trabalho daquela equipa não se resume ao tempo da peça do Telejornal (STV, TVM, TIM ou quejando), muito menos ao espaço noticioso concedido no Jornal Notícias ou Rádio Moçambique.
O trabalho por eles (todos) desempenhado começa e vai para além daquele espaço e é 7/7, sempre que necessário e sem observar as horas do expediente. E isso acontece com todos. As implicações disto são óbvias: os que têm negócios ficam prejudicados, os docentes não são pagos por não trabalharem e os que trabalham por conta própria não têm a possibilidade de seguir os negócios. De resto, sabe-se que na Renamo, nenhum daqueles ganha um salário por fazerem o que fazem, muito menos por estarem alí.
Ora, o meu argumento é que aquele dinheiro não é objectivamente capaz de suprir de forma satisfatória as necessidades de nenhum daqueles membros, seja do governo (caso não auferissem seus salários) ou da Renamo.
Algumas perguntas:
1-É o dinheiro significativo ou irrisório para os cofres do Estado? Pelo que sei, MZM 3000 = US100 arredondados. O Dr Namburete, PhD em Comunicação, o Ministro Pacheco ou o Dr Macuiane, PhD candidate em Direito, o Dr Gabriel Muthisse gestor de topo e ministro de um dos mais importantes sectores ganhariam este dinheiro como diária caso fossem consultores por exemplo? Eu que ando em consultoria sei que este dinheiro é para assistentes. Eu pago este dinheiro, aliás pouco mais que isso em minhas consultorias (US150.00 dia) aos assistentes. Ora, estes homens estão a trabalhar para viabilizar a paz em Moçambique.
Mas com disse, ponhamos as coisas ainda em melhor perspectiva:
As diárias ou ajudas de custo de funcionários da função pública em viagem no exterior (seja acompanhando ou para carregar a mala) são de longe superiores as que estes homens eventualmente devem estar a propor.
Vamos por partes: um funcionário do aparelho do Estado tem o direito de ganhar as seguintes diárias para os seguintes países (tenho a lista exaustiva e detalhada)
EUA (Nova Iorque) US300,00
Reino Unido US380,00
Hong Kong US400,00
Angola US350,00
RSA US130,00
Portugal US345,00
Lichinga MZM 1700 (Nacional)
Quando a viagem for presidencial, a tabela muda completamente para melhor, incluindo para jornalistas. Ora, pensem naquela legião de acompanhantes, alguns deles ilegais [lembram-se de algum alto funcionário do Estado que levou a amante ao exterior às custas do Estado e até agora ainda não devolveu o dinheiro indevidamente usado nem foi alvo de uma admoestação?], lembrem-se, dizia, deste grupo que viaja mensalmente para dentro e fora do país à custa do Estado, cujos objectivos e resultados ainda não os vimos. Lembrem-se dos acompanhantes também.
Ora, como podem ver, as diárias são de longe inferiores à quaisquer aqui mencionadas, mesmo tratando-se de um assunto muito sério. O Estado não irá gastar tanto com aquela equipa, tendo em conta o papel e relevância do assunto em questão. Não julgo também que seja um valor tão alto assim comparado com o assunto em questão.
Até aqui importa perguntar. Estão contra o quê mesmo? O que estes amigos estão a criticar? O que está errado na proposta da Renamo?
Vamos ainda mais a fundo
Por acaso alguns de vocês tem ideia de custa uma sessão do Conselho de Ministro em que se almoça lá mesmo? Para começar, sabe quantas bocas tem acesso ao banquete das sessões do conselho de ministros, pessoas que, bem poderiam ter ido a sua casa almoçar e regressar durante a sessão de intervalo?
Ora, cada sessão custa entre 150 a 200 mil meticais (e pode ser que esteja a subfacturar porque os dados são de 2013), só para o serviço. Estes ministros e estes delegados às negociações têm um papel fulcral para a nossa Paz, para o nosso desenvolvimento.
Esta pequena comparação serve para mostrar que o se pede no CCJC é infinitamente inferior do que o Estado está diariamente pagando em subsídios aos seus funcionários, senão vejamos:
1-Quantas viagens ao exterior efectuam os funcionários do Estado por dia? Disse dia, pois diariamente voam funcionários do Estado ao exterior
2-Quantos funcionários do Estado viajam internamente em trabalho por dia?
Uma investigação levada a cabo pelo jornal @ verdade e publicada na sua série "Moçambique a saque" descobriu que o Tribunal Administrativo despende cerca de um milhão de meticais mensais no abastecimento dos carros de expediente, juízes conselheiros, chefes de departamento e de transporte do pessoal. Um Juiz-conselheiro chega a gastar até 60 mil meticais por mês (portanto, cinco vezes mais do que cada um dos presentes no CCJC ganharia num mês) em combustível. Mas, sabemos nós que o Ministério das Finanças fixou em 2 mil o total do subsídio de combustível, manutenção e reparação de viaturas. Portanto, mesmo estando já no âmbito criminal, os cabelos dos que ridicularizam as propostas da Renamo não arrepiaram.
Segundo o mesmo jornal, o salário do Juiz-conselheiro José Abudo chega para pagar 42 professores primários (191 409,52 meticais em 2013). E isto não os arrepia. Ou seja, o que se ia ganhar em 135 dias pelos membros da delegação as negociações, o Juiz conselheiro José Abudo sozinho, pode pagar em dois meses e sem passar fome!
Ou nós assumimos a nossa coerência ou ficamos nesta jogada de pequena politiquice. O estado pode não satisfazer as exigências dos membros da Renamo. Mas ridiculariza-las é demonstrar a nossa insensibilidade e falta de foco. Se o foco é a Paz, pugnemos pelo mínimo de seriedade. Se o foco é politiquice, então estejamos preparados para de tempos em tempos voltar a convulsões evitáveis. Não nos esqueçamos das motivações que nos levaram à beira do descalabro. E isto não quer dizer sucumbir às quaisquer chantagens. Mas devemos ter a consciência e humildade suficientes para entender o que esta em questão
Por mim, este assunto devia ser tratado a nível interno e nem devia ser motivo para discussão. O país tem pelo menos 9 feriados oficiais e em todos estes o Presidente da República oferece um banquete oficial aos seus; os ministros e vice-ministros têm uma rubrica para despesas de representação que é de longe inferior ao que se pede no CCJC porque podem muito bem estica-la quando necessário; durante o final do ano e natal, altos funcionários do Estado desdobram-se em distribuir cabazes infindáveis. Este dinheiro foi contabilizado? São estas actividades VITAIS para a nossa democracia, estabilidade e desenvolvimento? Por último, repito: o Governo pode não acatar a solicitação. Mas gostaria que os meus correligionários deixassem de ridiculariza-la, pois devemos acautelar o contexto e as necessidades de cada um. Nem todos somos como os altos membros do Governo ou Estado, que mesmo ausentes auferem seus salários. O outro argumento é que o dinheiro solicitado é de longe inferior comparado com algumas rubricas FÚTEIS que o estado não abdica deles.
Abraço ao bom senso.



Egidio Vaz, no Facebook

Escravatura no seculoXX!

Imagem: STV


Sobre este assunto pode ler uma reportagem da VOA :

" Escravidão moderna aumenta no mundo
Moçambique é o país de língua portuguesa com mais escravos modernos no ano em que o número de pessoas nessa situação aumentou 20,13 por cento."



Leia aqui:

Não se pode construir um país com ilegalidades e fraudes


Isso é uma encomenda certa para mais conflitos

 Moçambique está atravessando um momento grave da sua história por causa fundamentalmente de ausência de uma liderança com visão patriótica e estratégica. Uma vez no poder, todo um país se transforma, no seu entender, em seu quintal privado
Tudo se resume à manutenção do poder por todos os meios. Tudo se resume à recusa permanente de partilhar e compartilhar o país. Tudo se resume à existência de uma clique que se julgava que tinha abocanhado o país. Tudo se resume à inexistência de liderança proactiva. Tudo se resume à subestimação da realidade e a jogos de cintura de um grupo que, desde Dar es Salaam e Argel, passando por Nachingwea, convenceu-se de que Moçambique sem eles não é Moçambique.
O preconceito político, uma elite vazia e parasita, incapaz de dar subsídios e de contribuir de maneira concreta para que o desenvolvimento aconteça, acreditando que ao nível da região tem os apoios necessários para se manter no poder, mesmo contra a vontade popular, está efectivamente cavando a sua própria sepultura.
Fala-se de democracia, e alguns dizem que são partido defensor da democracia, mas, quando se verifica e se analisa a maneira como decorreram as últimas eleições gerais, só se pode concluir que democracia, para esta gente, significa conceber e executar fraudes de todo o tipo. Manter o poder, mesmo que seja através da viciação pura e cristalina, não envergonha quem perdeu esta palavra ao longo do percurso.
Os moçambicanos não querem desenterrar fantasmas, mas também não se esquecem dos tempos do terror monopartidário e totalitarista, dos tempos dos grupos de vigilância, dos tempos dos campos de reeducação, dos tempos das loja do povo e das lojas dos responsáveis, dos camaradas e dos cidadãos de segunda.
Manifestações saudosistas de gente que estava habituada a espezinhar tudo e todos, gente habituada a elogiar o chefe, para assim o controlar, gente que efectivamente substituiu o fascismo por outro fascismo chamado marxismo-leninismo, em nome de uma suposta pureza ideológica, quer continuar a subjugar os moçambicanos.
Mas a dinâmica histórica é imparável, e os povos aprendem e aperfeiçoam os seus mecanismos de defesa. Há uma manifesta vontade de mudar, que os ditadores de ontem e os camuflados de hoje não conseguem travar.
Nada se resume à organização de congressos e à vitória da manipulação ou à distribuição do poder entre os acólitos e melhores seguidores.
As migalhas que se entregam aos que concordam e dizem “sim” ao chefe não satisfazem a maioria dos moçambicanos e jamais serão aceites por estes.
A República é incompatível com o culto da personalidade, e o que alguns ditos deputados fazem no parlamento envergonha e enoja. Cantam e glorificam chefes, como se isso fosse, em si, o que significa democracia e progresso. Enoja ver gente adulta transformada em moleque incapaz de pensar e de honrar a sua dignidade humana intrínseca.
Temos problemas em Moçambique porque há gente que supõe que é um imperativo nacional que governem.
Apressam-se a assinar contratos em fim de mandato, porque para eles governar é governarem-se.
Inauguram obras e não se cansam de viajar como se fossem caixeiros-viajantes. E depois dizem que isso é governar. Convenhamos que já não enxergam.
Não confiam em ninguém e não admitem nem aceitam que exista opinião diferente. Contestar, para eles, é um pecado mortal.
Inquinaram instituições e estabeleceram esquemas corruptos e perniciosos, tudo para se manterem no poder.
Não é por acaso que nem o STAE nem a CNE sabem o paradeiro dos editais.
Não é por acaso que estudar ou conseguir emprego no país obedece a esquemas.
Desde o nascimento até à morte, o moçambicano tem de submeter-se a esquemas, para que alguma coisa se concretize. Antes era o “deixa-andar”, agora é o “refresco” para abrir caminhos.
Será ganância ou medo de perder o acumulado que move e une gente desavinda?
Será ingenuidade ou simplesmente miopia própria de gente caduca, fósseis e vegetais, que promove conflitos desnecessários num país que tem tudo para dar certo?
É urgente encontrar terapia apropriada para quem sofre de egocentrismo crónico.
A música de que libertaram o país já está gasta e o disco está riscado.
Temos muito respeito pelo que os combatentes da luta anticolonial fizeram, mas não aceitamos que eles substituam o colono na forma como procedem e como governam o país.
Uma coisa é certa, não há como coexistir com tanta fraude e roubalheira descarada.
Outra coisa bem certa é que existem falcões interessados em restabelecer as hostilidades político-militares, de modo a segurarem-se no poder por mais alguns anos.
Existem razões fundamentadas para recear alianças regionais de partidos que não conseguem coabitar democraticamente.
Luanda, Harare, Pretória, Maputo, quando juntas, preocupam, porque afastam a democracia e não se importam de mais guerras na região.
Tudo vale para alguns camaradas, desde que garanta que o poder não lhes fuja das mãos


(Noé Nhantumbo, Canalmoz)

Tuesday 18 November 2014

Desaparecimento de MBS


 Rapto, prisão, ajuste de contas ou fuga?


 A primeira leitura popular sobre o desaparecimento, na passada quarta-feira, do empresário moçambicano Momad Bachir Sulemane, vulgo MBS, foi a de que ele havia sido raptado por criminosos à solta que, dias depois, exigiriam à família um resgate para a sua soltura. Cinco dias depois, a família ainda não foi contactada pelos “raptores” e a Polícia moçambicana não tem pistas sobre o paradeiro de Bachir, embora o Comando Geral da Polícia tenha accionado “todos os meios” para se conseguir localizar o empresário, que também é um dos principais financiadores das campanhas eleitorais do Partido Frelimo. Ontem, na TVM, um porta-voz da Polícia dizia que a corporação estava a trabalhar no assunto.
No quadro do modus operandis que caracteriza a indústria do rapto em Moçambique, que cresceu violentamente nos últimos 3 anos, os raptores já teriam feito um tal contacto (por regra, fazem-no até 48 horas depois). Como isso ainda não aconteceu, adensam suspeitas de que MBS possa ter sido vítima de um outro tipo de operação. A edição online de domingo do Mumbai Mirror, editado na Indía, carrega uma reportagem, assinada por Nazia Sayed, onde o nome de MBS vem referido como tendo encomendandoa “eliminaçao” de Vivek Goswami, alegadamente um arqui-rival seu no mundo do tráfico de droga.
Goswami foi detido na semana passada pela Polícia queniana, juntamente com sua mulher Mamta Kulkami, uma antiga estrela da Bollywood, numa operação que envolveu elementos da agência de combate à droga dos Estados Unidos, a Drug Enforcement Agency, conhecida por DEA. Goswami é um conhecido barão da droga que cumpriu 15 anos de prisão em Dubai por tráfico de mandrax para aquele país. Foi libertado após cumprir metade da pena, depois de uma condenação de 25 anos.
Para além de Goswami, foram também presos um barão queniano de nome Barakat Akasha e um paquistanês de no Ghulam Hussein. O jornal queniano que fez a grande relevação na semana passada indicava que a detenção dos três traficantes mais a mulher de Vivek foi possível graças a uma denúncia feita à Polícia queniana por Dawood Ibrahim, chefão de um grande sindicato da droga denominado pela INTERPOL assim mesmo: Sindicato Dawood Ibrahim. O Mumbai Mirror escreve que Vivek Goswami é uma pessoa chegada de um outro traficante de nome Chota Rajan, rival de Dawood Ibrahim. E aponta-se que o grupo detido era rival “de um outro barão da droga africano, de nome Momade Bachi Suleman, conhecido popularmente por MBS”.
A imprensa queniana levantou uma suspeita sobre as razões que levaram Dawood a denunciar o grupo:”Dawood e MBS fizeram um plano para se livrarem dos seus rivais e por isso forneceram detalhes à polícia queniana, que actuou juntamente com o DEA”. As recentes detenções no Quénia ocorreram em Nyali, Mombassa, na residência de Akaash. Todos foram acusados de tráfico de drogas no Quénia e nos EUA. Goswami investiu muito do dinheiro do tráfico em imobiliária e indústria hoteleira.
As detenções no Quénia ocorreram dias antes do desaparecimento de MBS em Maputo. Ontem, a Voz da América estabelecia uma ligação entre o desaparecimento de MBS e as detenções no Quénia. Todavia, de acordo com um parecer obtido pelo mediaFAX de uma fonte relevante, essa ligação ainda é forçada uma vez que as detenções no Quénia foram feitas com mandado judicial e a Polícia confirmou essa operação e a sua colaboração com o DEA.
No caso de MBS, e mesmo depois de a Casa Branca ter colocado o empresário numa lista de barões de droga, para as autoridades moçambicanas Bashir foi sempre um homem “limpo e íntegro” tanto mais que em Setembro último ele sentou-se na mesa de honra do agora presidente-eleito Filipe Nyusi, num jantar de angariação de fundos do Partido Frelimo. Estão, no entanto, a circular leituras segundo as quais, por causa de uma profunda descrença nas autoridades moçambicanas e porque MBS continua a gozar da protecção ao mais alto nível do Partido Frelimo, operativos americanos tenham detido o empresário sem um aval da Policia local. Como se sabe, os Estados Unidos, a 2 de Junho de 2010, colocaram o empresário moçambicano numa lista de barões da droga afirmando que ele liderava uma bem financiada rede de tráfico de drogas e de lavagem de dinheiro em Moçambique.
Com as detenções no Quénia e em face do alegado papel de MBS na denúncia da rede desmantelada começa também a circular a alegação de que o empresário tenha sido vítima de um ajuste de contas. Ou, como também se alega, tratou de uma “fuga” para um esconderijo seguro, suscitada pelas detenções no Quénia? O caso ainda vai fazer correr muita tinta. Mas, ontem, na sua entrevista a TVM, porta-voz da PRM que deu a entrevista, Orlando Mudumane, disse que a corporação já estava no encalço dos raptores mas a sua expressão facial era a de um polícia que falava sem convicção.



(Marcelo Mosse, in MediaFAX de 18 de Novembro de 2014)